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Ideias boas

Lucila Cano

27/05/2016 06h00

Da mesma forma que todos os dias tomamos conhecimento de notícias graves, como os desatinos políticos, os desastres ambientais e humanos, as guerras, as perseguições e toda sorte de informação difícil de engolir, também temos acesso a ideias boas, que merecem repercussão.

Quem não assistiu ao Jornal Nacional da terça-feira, 24 de maio, perdeu a ocasião de, no íntimo, aplaudir o projeto “Começar de Novo”, que contrata ex-detentos para trabalhar no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A ação quer servir de modelo para que os TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) façam o mesmo e, assim, poderia chegar ao montante de 1.000 postos de emprego para quem precisa de novas oportunidades na vida.

A ressocialização de pessoas que passaram pela prisão, ou que ainda estão em regime semiaberto, é uma das mais significativas manifestações de cidadania. A iniciativa, antes adotada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), também poderia inspirar a abertura de vagas em escritórios de advocacia do país, se é que alguns deles já não seguem o bom exemplo.

Outros setores

A respeito desse assunto, mas em outros setores, cheguei a escrever em coluna anterior sobre a Risotolândia. A rede de serviços para restaurantes industriais do Paraná abriu o seu programa de contratação de ex-detentos e detentos em regime semiaberto em 2008. Também já abordei o trabalho exemplar da empresa Florestas Inteligentes, em parceria com a Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) e a Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo. O programa social oferecia cursos de jardinagem e paisagismo, além das perspectivas de emprego para os detentos do semiaberto.

Acredito que muitas outras empresas, que não tiveram a oportunidade ou o interesse de trazer seus projetos para o noticiário, tenham aberto suas portas para esse tipo de acolhimento tão delicado e, ao mesmo tempo, tão necessário. De qualquer modo, a força da imagem televisiva em horário nobre deve ter instigado muita gente a pensar. Eu, por exemplo, pensei nas prefeituras e nos muitos serviços que elas têm a prestar: limpeza urbana, plantio e poda de árvores, incremento da reciclagem, sinalização, conservação de vias públicas...

Se tais serviços são terceirizados, aí está mais uma oportunidade de colocar as tais parcerias público-privadas para funcionar. Dessa vez, no âmbito da cidadania.

The Street Store

O nome está em inglês, porque o projeto surgiu na África do Sul. É iniciativa de uma agência de propaganda, a M&C Saatchi que, no país, é representada, pela F&Q Brasil. Pois “The Street Store”, que podemos chamar de “Loja de rua para moradores de rua e outros que não têm condições de comprar peças de vestuário”, é uma ideia simples e muito boa. Já foi realizada, inclusive, em algumas cidades brasileiras, como Teresina, Florianópolis e São Paulo. Por sinal, pode ser realizada a qualquer momento e em qualquer lugar.

Munidos de cabides e cartazes de papelão, caixas de sapatos vazias e roupas usadas em bom estado, os seus organizadores avisam pelas redes sociais em que local irão se instalar por um único dia. O projeto é itinerante.

As redes são o canal de comunicação para que doadores apareçam com suas peças. Elas ficam expostas nos cabides de papelão, pendurados em cercas ou grades, visíveis a quem passa na rua. Os interessados podem fazer suas escolhas e experimentar, como se estivessem mesmo em uma loja. Cada um tem direito a pegar até três peças, gratuitamente.

Está aí uma maneira de ajudar, respeitando a dignidade do morador de rua, ou de quem, em situação de pobreza, não tem como entrar numa loja para comprar. Nas regiões Sul e Sudeste, onde já começa a fazer muito frio, a “Street Store” tem tudo para fazer sucesso.

Se o leitor quiser saber mais sobreo projeto, vale a pena acessar os sites a seguir: www.thestreetstore.org; www.institutodoar.org; www.fqbrasil.com.br.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.