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Napoleão (1) - Depois da Era Napoleônica, a Europa nunca mais foi a mesma

Túlio Vilela

Brilhante estrategista, político hábil. Seu gênio militar foi reconhecido até por seus adversários. Tudo isso e muito mais pode ser dito a respeito de Napoleão Bonaparte, o general que mudou não apenas a história da Europa, mas também das Américas.

Não é à toa que o período em que grande parte da Europa esteve sob seu domínio ficou conhecido pelo nome de "Era Napoleônica", assim como os conflitos militares que marcaram o continente europeu nesse período ficaram conhecidos como "guerras napoleônicas".

Mesmo quem não está familiarizado com a história da Europa já ouviu falar dele ou é capaz de reconhecer um retrato seu. Em vários retratos, ele aparece numa pose imponente, com a mão esquerda debaixo do casaco ou usando um chapéu bicórneo, bastante usado pelos oficiais dos exércitos europeus do final do século 18 e das primeiras décadas do século 19.

Sua figura inspirou uma sinfonia do compositor Beethoven, "Heroica" (ouça a sinfonia), de 1803, e vários livros, dentre os quais, "Guerra e Paz", do escritor russo Leon Tolstoi, obra escrita cerca de 50 anos depois da campanha do exército francês na Rússia em 1812. Napoleão também serviu de inspiração para outros líderes, dentre os quais, Simon Bolívar, que lutou pela independência de várias colônias espanholas na América do Sul. Será que Bonaparte mereceu mesmo essa fama toda?

Ascensão de Napoleão Bonaparte

Sem dúvida alguma, Napoleão Bonaparte foi um homem de qualidades incomuns. No entanto, ele, assim como qualquer outro mortal, era também um homem de seu tempo. O que tornou possível a ascensão de Bonaparte foi a Revolução Francesa. Antes da Revolução, os altos postos do exército francês eram reservados aos membros da nobreza. Ou seja, quem não era de origem nobre nunca poderia chegar a general.

A Revolução mudou essa situação ao abolir os privilégios da nobreza e considerar que perante a lei todos os homens são iguais (a desigualdade social e econômica continuou existindo, mas, pelo menos no aspecto legal, todos foram considerados iguais). Assim, na França pós-revolucionária, o exército adotou como critério para selecionar seus oficiais a promoção com base na experiência e no mérito pessoal.

Ou seja, independentemente da origem social, quem tivesse experiência e demonstrasse competência podia galgar postos maiores e chegar a general. Foi justamente esse o caso de Napoleão, que, embora tenha nascido numa família de aristocratas, não era da nobreza da França propriamente dita.

Córsega

Apesar de ter entrado para a história como general e imperador francês, Napoleão Bonaparte nasceu na Córsega, ilha do mar Mediterrâneo, um ano após essa ilha ter se tornado domínio da França. Daí, sua primeira língua ter sido o italiano, o que não o impediu de aprender o francês, embora jamais tenha perdido o sotaque de sua terra natal.

Seu nome verdadeiro era Napoleone Buonaparte, mas depois ele adotou o nome Napoléon Bonaparte, para soar mais francês (Napoleão é a versão aportuguesada de seu nome). Seu pai, Carlo Buonaparte, era um advogado e foi nomeado representante da Córsega na corte do rei da França Luís 16, onde esteve durante muitos anos.

Esses contatos com a nobreza francesa abriram portas para sua família, o que permitiu que Napoleão estudasse em duas escolas militares francesas. A primeira em Brienne-le-Château, uma pequena cidade próxima a Troyes, na qual foi matriculado em 1779, quando tinha nove anos. Para poder entrar nessa escola, Napoleão teve que primeiro aprender o francês.

Apesar das dificuldades com a língua, Napoleão não se saiu mal na escola, destacando-se em matemática e geografia. Depois continuou seus estudos em outra escola militar, dessa vez em Paris, no ano de 1784. Nessa escola, ele conseguiu completar o curso de dois anos em apenas um. Em 1785, ele foi promovido a primeiro-tenente de artilharia.

Depois da Revolução

Em 1791, durante a primeira fase da Revolução Francesa, o então jovem oficial decide tomar partido da República. Vale lembrar que a Revolução derrubou o absolutismo, mas, inicialmente, manteve a monarquia: a ideia era transformar uma monarquia absolutista em uma monarquia constitucional ou parlamentar. Em setembro de 1792, contudo, foi proclamada a República, pouco depois que as suspeitas de traição do rei Luís 16 foram confirmadas. O ex-monarca foi condenado à morte na guilhotina em janeiro de 1793.

Temendo que a Revolução se espalhasse para o resto da Europa, as outras principais potências europeias unem-se numa coligação contra o governo revolucionário da França. Fazem parte dessa coligação as seguintes potências: Áustria, Inglaterra, Províncias Unidas (a Holanda de hoje) e Espanha. A França está sozinha numa guerra contra o resto da Europa unido. Nessa guerra, Napoleão vai encontrar oportunidade para revelar seu talento militar.

Durante o cerco a cidade francesa de Toulon, Napoleão comanda a artilharia e vence os ingleses, reconquistando a cidade para a França em dezembro de 1793. Por causa dessa vitória, foi promovido a general de brigada quando tinha apenas 24 anos. Seu prestígio se consolida no período em que liderara campanhas contra o exército austríaco na península Itálica e contra os ingleses no Egito.

Golpe do 18 de Brumário

Napoleão sabe tirar proveito da repercussão de suas vitórias militares. Os jornais da época contribuem bastante para transformar o homem em mito. As notícias de suas vitórias são acompanhadas com interesse pela opinião pública francesa. Napoleão vai se tornando cada vez mais popular entre os franceses. Naquele momento, ele representa a grande esperança política da França revolucionária: o único capaz de vencer todas as diferenças e unir todos os franceses.

Era ao mesmo tempo aclamado pelo povo e apoiado pela burguesia. Tirando proveito dessa situação, Napoleão comanda um golpe de Estado em 1799 e toma o poder. Como naquele momento ainda vigorava o calendário revolucionário, esse episódio ficou conhecido como Golpe do 18 de Brumário, data que coincide com 9 de novembro no nosso calendário. Brumário, o "mês das brumas", era o segundo mês do calendário revolucionário.

Um mês depois, entra em vigor uma nova Constituição e é criado o Consulado, um governo republicano com uma fachada democrática, mas que na verdade transforma a França em uma ditadura governada por Napoleão. Seu governo é marcado por importantes realizações: criação do Banco da França, controlado pelo Estado; redução da inflação; investimento em obras públicas. Todas essas medidas contribuíram para impulsionar a economia, beneficiando especialmente a burguesia.

O Código Napoleônico

Outra medida importante foi elaboração do Código Civil, também conhecido como Código Napoleônico. Esse código começou a ser elaborado em 1802 e foi promulgado em 1804. Os artigos do Código refletem os ideais da burguesia: proteção à propriedade privada; igualdade de todos perante a lei; garantia às liberdades individuais. O Código proibia greves e a criação de sindicatos, mas permitia que os empregadores fundassem associações.

Nesse período, Napoleão consegue várias vitórias militares e assina um tratado de paz com a Inglaterra em 1802, dando fim a anos de conflito. Seu prestígio aumenta mais ainda. Dois anos depois, um plebiscito autoriza Napoleão a assumir o título de imperador.

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