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Calouros do Enem enfrentam aluguéis caros e falta de imóveis no RS

Especial para o UOL Educação

Em Porto Alegre

14/04/2010 15h29

O Rio Grande do Sul se transformou num dos Estados com maior índice de estudantes “estrangeiros” em suas universidades públicas a partir do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2009, quando o exame serviu como instrumento de ingresso no ensino superior. Segundo dados do MEC (Ministério da Educação),  a unidade federativa gaúcha tem índice de ocupação de vagas de 30% para alunos vindos de outros Estados.

Essa migração tem mexido com o mercado imobiliário em suas principais cidades universitárias: Pelotas, Santa Maria e, até, Porto Alegre. Ainda segundo o MEC, a taxa de alunos migrantes nas federais que adotara o Enem como vestibular por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) não passou de 25% dos alunos no restante do país. Para se ter uma ideia, em São Paulo, esse índice ficou abaixo de 7% -- o Estado "exporta" mais universitários que "importa".

Em Pelotas, a pequena oferta de imóveis para alugar acabou por inflacionar o mercado para os estudantes. Muitos deles só encontraram abrigo nas instalações do DCE (Diretório Central de Estudantes) da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), em Pelotas.

O aluguel de um apartamento de dois quartos, que pode abrigar até quatro pessoas, varia de R$ 600 a R$ 1.000 dependendo da região da cidade. De modo geral, os valores subiram 15% entre 2009 e 2010, segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Locação de Imóveis (Secovi) de Pelotas, Gabriel Souto Júnior. Os motivos, no entanto, não são atribuídos apenas ao contingente de universitários que está se mudando para o Estado. “Reconheço que é muito para um estudante, mas o mercado se organiza conforme a demanda”, justificou Souto Júnior.

"Não estávamos preparados"

A reitoria da UFPel estima que 70% dos novos alunos sejam egressos de outros Estados – número que fica em torno 2.100 estudantes. Em 2009, a instituição utilizou integralmente o resultado do Enem para distribuir todas as suas vagas.

“Não estávamos preparados para essa migração. Temos projeto para construir uma Casa do Estudante, mas o investimento é alto e a concretização é demorada”, disse o reitor Antonio Borges. Segundo ele, a construção do novo complexo deve estar pronta apenas em 2012 – o investimento necessário chega a R$ 10 milhões.

Enquanto isso não ocorre, os estudantes se instalam como podem na sede do DCE. A sede do diretório, entretanto, não tem capacidade para abrigar mais do que 25 pessoas de cada vez. No Rio Grande do Sul, dois institutos e três universidades (de Pelotas, do Pampa e UFCSPA) abriram vagas pelo Enem.

A UFCSPA (Fundação Universidade Católica de Ciências da Saúde de Porto Alegre) distribuiu 368 vagas em oito cursos pelo sistema. O estabelecimento é destaque por ter se firmado nos últimos anos como a segunda melhor instituição de ensino superior do país na área médica com base nas avaliações do Ministério da Educação.

Em 25 de março, o reitor visitou a sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e "constatou as condições precárias em que estão provisoriamente alojados cerca de 65 novos alunos da universidade". Na ocasião, Cesar Borges anunciou a liberação de bolsa moradia, bolsa transporte e bolsa alimentação para o grupo.

Fugindo da "saturação" de São Paulo

No curso de medicina da UFCSPA um terço das vagas foi preenchido por estudantes de fora do Estado. O acadêmico paulista Henrique Paschoaloni de Freitas disse que procurou a UFCSPA porque se trata de uma escola conceituada em nível nacional e para fugir da saturação de vagas em São Paulo.

“Em São Paulo, a concorrência é muito maior que no Rio Grande do Sul. E não vejo grandes diferenças na qualidade do ensino”, diz o estudante. Ele alugou um apartamento próximo à universidade junto com outros três colegas de curso – dois de São Paulo e outro de Pernambuco.

As estudantes Cristina Jatobá, Ana Paula Bastos e Eloísa Bartmeyer, de Goiás, do Rio de Janeiro e da Bahia, optaram por ocupar quartos num pensionato feminino localizado nos arredores da Universidade. Elas se surpreenderam com a quantidade de estrangeiros do curso de medicina. “Não imaginávamos tanta gente de fora”, diz Eloísa.

Tradicionalmente, o índice de forasteiros na UFCSPA não ultrapassava 10% do número total de alunos. A reitora Mirim da Costa Oliveira gostou da novidade. “Nosso ponto de corte [no Enem] foi um dos mais altos do país, o que significa uma seleção rigorosa e alunos de alto nível”, salienta ela.

Em Santa Maria, que não adotou o Enem como critério de ingresso, as cerca de 1,1 mil vagas existentes na Casa do Estudante Universitário (CEU) estão preenchidas – a unidade exige comprovação de carência econômica dos candidatos. Uma das mais organizadas do Estado, a CEU tem uma lista de espera de 200 alunos.

O mercado imobiliário da cidade, que tradicionalmente acolhe muitos estudantes de outros municípios do Rio Grande do Sul, já está preparado para a invasão. Segundo o Secovi de Santa Maria, os aluguéis médios variam de R$ 500 a R$ 700.

“O problema é a sazonalidade. Muitos proprietários relutam em alugar para universitários porque em dezembro os imóveis são desocupados e só voltam a render a partir de março”, avalia o corretor de imóveis Ronaldo Iop, que faz parte da diretoria do Secovi.

 

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