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Jornal anônimo de alunos da USP "desafia" universitários a jogar fezes em homossexuais

Ana Okada

Em São Paulo

23/04/2010 18h11Atualizada em 27/04/2015 18h07

Em uma publicação anônima destinada a estudantes da USP (Universidade de São Paulo), os leitores são "desafiados" a jogar fezes nos colegas homossexuais. O jornal, que se chama "O Parasita", circula por e-mail e não tem periodicidade definida.

Segundo os autores, que assinam com pseudônimos, a "campanha" teria sido criada porque a Faculdade de Ciências Farmacêuticas tem sido "palco de cenas totalmente inadmissíveis". Um trecho da nota: "Para retornar a ordem na nossa querida Farmácia, O Parasita lança um desafio, jogue merda em um viado, que você receberá, totalmente grátis, um convite de luxo para a Festa Brega 2010. Contamos com a colaboração de todos" (sic).

 

Reprodução
Reprodução do periódico que estimula a violência contra homossexuais (Foto: Arte/UOL)

 

A diretoria da instituição, por meio de nota, comunicou que "tomará as medidas jurídicas cabíveis para reprimir este tipo de publicação" e ressalta, ainda, que "não tem conhecimento nem apoia essa publicação, inclusive desconhece os seus autores". "O Parasita" circula com o nome da faculdade em seu cabeçalho.

De acordo com Marcelo Akutagawa, presidente do centro acadêmico da instituição, a publicação é jocosa e chega para a maioria dos grupos de e-mail das turmas do curso de farmácia. "Sou contra, não precisaria ter um jornal debochando assim das pessoas", diz. Para ele, a maioria dos alunos entende que o jornal é apenas uma brincadeira e não chegaria a agredir algum estudante.

"É comum ter homossexuais aqui, todo mundo sabe que tem. Em festas já houve alguns episódios de insultos a homossexuais, mas nada muito forte. Os alunos não tem problemas com homossexualismo, mas sempre vai ter um grupo que é mais homofóbico", pondera.

Denúncia

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo irá apurar quem foram os responsáveis pela publicação e verificar a possibilidade de fazer uma denúncia na Comissão Processante Especial da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania do Estado. A defensora Maíra Diniz explica que, caso seja comprovada a homofobia, os responsáveis podem sofrer advertência ou multa de quase R$ 15 mil.

"Achei uma lástima. Estudantes de farmácia terem esse pensamento... Foi mais do que uma brincadeira, foi uma incitação à violência", afirmou Maíra. Para ela, o jornal estudantil é reflexo de um preconceito generalizado: "Acho que primeiro devemos mudar o comportamento da sociedade como um todo; temos que sentar, discutir e assumir que há o preconceito", diz.

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