No Piauí, empresa deixa turmas sem formatura e universitários fazem fila para denunciar calote
A Polícia Civil do Piauí abriu inquérito nesta segunda-feira (19) para investigar a conduta da empresa Styllos Eventos, acusada de dar um golpe milionário em centenas de formandos universitários no Estado. Pelo menos 200 estudantes estiveram na sede do 12° Distrito Policial de Teresina desde o último sábado (17) para prestar queixa contra o casal proprietário da empresa, que desapareceu e abandonou cerca de 100 contratos de festas de formaturas. Como a estimativa é que cada contrato tenha um valor médio de R$ 50 mil, o prejuízo pode chegar à casa dos R$ 5 milhões.
Segundo o delegado Ademar Canabrava, ainda é cedo para cravar o valor total dos contratos, já que o número de queixosos desde sábado é muito grande, a ponto de a delegacia ser fechada para outros atendimentos à população. No sábado, os alunos do curso do enfermagem de uma faculdade particular descobriram que não haveria baile de formatura, marcado para a mesma noite, que deveria ser organizado pela empresa.
“Mais de 220 pessoas já estiveram aqui prestando queixa desde sábado, e ainda tem muita gente do lado de fora para ser atendida. Têm pelo menos 10 turmas esperando para prestar queixa também. A delegacia está somente atendendo esse caso, e mesmo assim acredito não vamos conseguir dar conta hoje”, disse, no fim da tarde desta segunda.
Canabrava explicou que, antes de pensar em pedir a prisão do casal, vai convocar Keila Moreno e Fabiano Nunes, apontados como donos da empresa, a prestar depoimento. Mas antecipou que os dois serão indiciados por acusação de estelionato. “Eles pegaram o dinheiro para prestar um serviço e não o fizeram. Vamos, primeiramente, tentar encontrá-los, por meio de conhecidos e familiares, para que se defendam. Caso não os encontremos, solicitarei a Justiça a prisão preventiva deles. Por enquanto, estou apenas colhendo as informações para então tentar encontrar esse casal”, informou o delegado ao UOL Educação, entre um depoimento e outro de estudantes.
Também nesta segunda-feira, funcionários da empresa procuraram o Ministério Público do Trabalho para denunciar o sumiço do casal e salários atrasados. Eles pediram que a Justiça dê prioridade ao pagamento das causas trabalhistas, em detrimento à devolução dos contratos de prestação de serviço.
Segundo estudantes informaram à polícia, o casal teria fugido na madrugada da sexta-feira para o sábado. Um caminhão de mudança foi visto saindo com móveis da sede da empresa, no centro de Teresina, na madrugada do sábado. O casal também teria sido visto por um dos alunos formandos no aeroporto de Teresina embarcando em um voo com destino a Brasília, com escala em Fortaleza. Porém, ainda não há pistas sobre o paradeiro do casal.
O UOL Educação ligou para os dois números de telefone constantes no site da empresa, mas nenhum deles completou a ligação.
Estudantes planejam “feijoada do calote”
Estudantes das duas principais universidades do Estado - UFPI (Universidade Federal do Piauí) e Uespi (Universidade Estadual do Piauí) – e de várias faculdades particulares de Teresina e do interior já procuraram a delegacia para prestar queixa. Sem a empresa realizadora da festa, muitas turmas já traçam um "plano B" para realizar o sonho da formatura.
A presidente da comissão de formatura de Direito da Uespi, Juliana Oliveira, contou que duas turmas estavam com festas marcadas e praticamente pagas à Styllos Eventos. “A turma que iria se formar na próxima semana teve mais sorte, porque o baile foi de responsabilidade de outra empresa, e essa empresa vai realizar os demais eventos com um preço especial. Mas a nossa turma já tinha pago R$ 40 mil por todos os eventos e perdeu tudo”, contou a estudante do 10° período, que tem formatura prevista para março de 2012. Ao todo, os eventos custariam R$ 73 mil para os 27 alunos da turma que optaram pagar pelas cerimônias.
Para tentar amenizar o prejuízo e garantir a festa de formatura, a turma já lançou a “feijoada do calote”, marcada para o dia 22 de outubro, para tentar arrecadar fundos para a festa. “É realmente rir para não chorar. Aqui é uma faculdade pública. Logo, nossos pais não são ricos, e precisamos nos virar para arrecadar esses recursos de volta. Vamos fazer rifa, bingo, festas, abrir conta para que amigos ajudem. Tudo para garantir a formatura”, contou a estudante.
Segundo Oliveira, os donos da empresa sempre passavam segurança aos estudantes de que iria realizar a festa, sem nunca dar pistas de que abandonariam o Estado. “Sempre chegava alguém para dizer que eles não iriam realizar a festa. Mas eles tinham 10 anos de mercado, sempre que nós ligávamos, os donos nos passavam segurança. Como o preço estava bom, e nós já havíamos ido para várias formaturas deles que deram certo, resolvemos fechar. Infelizmente agora estamos no prejuízo”, disse.
Apesar da "fama", ela conta que a empresa é uma das mais conceituadas do Estado. "Eles tinham turmas demais, com contratos em todas as faculdades do Estado, não só aqui em Teresina, mas nas cidades de Floriano e Picos. Só nos resta agora entrar com uma ação, mas sabendo que não veremos mais esse dinheiro", finalizou.
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