Estudantes brasileiros que fazem intercâmbio em Portugal criticam falta de comprometimento de colegas
Para ampliar a formação e atuação de brasileiros nas áreas de tecnologia e inovação, o governo brasileiro lançou em agosto de 2011 o Programa Ciência sem Fronteiras. O intuito do programa é fazer com que os estudantes, ao voltarem ao Brasil, ajudem a criar tecnologias para agregar valor aos produtos e serviços nacionais e dar mais competitividade às empresas do país.
Os dados mais recentes do programa indicam que 17.134 estudantes e pesquisadores brasileiros são bolsistas em instituições de ensino superior de 38 países.
Em Portugal, que concentra o maior número de bolsistas de graduação, cada estudante brasileiro recebe 870 euros mensais (cerca de R$ 2.300). Além do valor da bolsa, eles recebem auxílio-instalação (1.320 euros, em cota única) e seguro-saúde (70 euros mensais). Também ganham as passagens aéreas de ida e volta, no começo e no término do intercâmbio de 12 meses. Nesse período, devem dedicar de nove a dez meses aos estudos em tempo integral e o restante, a estágio na área de atuação.
“Vir para cá é um privilégio. Por isso, o mais importante é o comprometimento - o que eu quero levar de volta”, diz Gabriel dos Passos Gomes, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e bolsista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Ele critica entretanto a postura de alguns colegas brasileiros que não tem se dedicado. “Muitos não estão levando a sério. Isso é um desrespeito tremendo com o povo. Pagamos muitos impostos no Brasil.”
Segundo ele, há alunos matriculados em poucas disciplinas e com muitas faltas. “Outras pessoas queriam vir e poderiam estar fazendo melhor”, disse ao lembrar que a seleção para uma bolsa em Portugal foi uma das mais concorridas do programa.
A mesma queixa faz Maiara Sakamoto Lopes, estudante da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e também bolsista na Universidade de Lisboa. “Quando o [ministro da Educação Aloizio] Mercadante anunciou o programa, disse que as pessoas vinham para aprender e conhecer novas tecnologias. Mas há pessoas gastando o dinheiro do programa sem cursar as disciplinas”, critica. “Ainda vão voltar para o Brasil e reclamar que o país não se desenvolve.”
Para a presidenta da Apeb-Coimbra (Associação de Pesquisadores e Estudantes Brasileiros em Coimbra), Viviane Carrico, é possível se divertir sem prejudicar o desempenho acadêmico. “Estudantes que vêm com um propósito tem que se organizar. O dia tem 24 horas e ninguém precisa ir a todas as festas”, aconselha.
Por e-mail, a Agência Brasil entrou em contato com o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para obter informações sobre o acompanhamento do desempenho dos alunos bolsistas, mas não obteve retorno. Segundo o edital, entre as exigências do programa, está a de que os alunos assumam o compromisso de ficar no Brasil pelo dobro do período de permanência no exterior.
O pagamento de bolsas está sujeito à fiscalização administrativa das agências pagadoras, assim como da CGU (Controladoria-Geral da União) e do TCU (Tribunal de Contas da União).
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