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Cabral corta bolsas de professores da Uerj por perda dos royalties

Julia Affonso

Do UOL, no Rio de Janeiro

11/03/2013 17h42Atualizada em 11/03/2013 18h15

O pagamento de 1.400 professores que recebem bolsas de produção científica na Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) previsto para esta segunda-feira (11) não foi feito, informa a Asduerj (Associação dos Docentes da Uerj). Segundo o presidente da associação, Guilherme Mota, 800 professores substitutos, 200 visitantes e 400 bolsistas que recebem por contratos administrativos estão com os pagamentos suspensos por conta da perda dos royalties do petróleo.

"Não temos previsão de quando o governo vai pagar. Em alguns casos, essas bolsas representam 50% dos vencimentos dos professores. Lamentamos muito a postura do Estado em nome dos royalties. É um absurdo fazer isso com quem depende desse dinheiro", diz Mota.

O setor de comunicação da Uerj não confirmou o corte das bolsas e não soube informar como a redução de verbas poderá afetar os professores e os alunos da instituição e nem e extensão dos problemas. 

Pagamentos suspensos

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), determinou na última quinta-feira (7) a suspensão de todos os pagamentos do Estado até que saia a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) que questiona a derrubada no Congresso do veto presidencial à lei que redistribui os royalties do petróleo para Estados não produtores, o que trará perdas para Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.

O reitor da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Ricardo Vieiralves anunciou na última sexta-feira (8), em nota divulgada pela instituição, que está negociando com o governo do Estado a volta de verbas recebidas pela universidade. Segundo ele, “a Uerj precisa de um estado operando em boas condições para que possa funcionar bem e atender às demandas da sua comunidade e também da sociedade fluminense”.

A nota ainda informa que o reitor está “agindo no sentido de minimizar danos, de modo que sejam os menores possíveis para a comunidade universitária” e “em tratativa do governo do Estado para que a situação da Universidade volte à normalidade o mais rápido possível”. 

Para o presidente da Asduerj, a nota pouco esclareceu a situação. Ele classifica o atual momento como um "período de obscuridade, sem qualquer informação do que vai ocorrer".

Bolsas para alunos

De acordo com uma aluna do curso de pedagogia que não quis se identificar e também não recebeu a bolsa de iniciação científica, a ajuda de custo de R$ 400 era o que a mantinha na universidade.

"Eu moro em Niterói, estudo de manhã e à noite e trabalho durante à tarde. Esse dinheiro pagava a minha alimentação, o transporte e me ajudava em casa. Tenho vínculo exclusivo e não posso trabalhar em mais nada. O que eu vou fazer? É uma palhaçada", diz a estudante.

Problemas de infraestrutura

O aluno do curso de geografia, Dimitri Andrade, destaca que além dos problemas com as bolsas, a falta de verbas pode afetar a conservação da universidade.

"O edifício é antigo e ficou muito tempo sem manutenção. Já tive aulas em salas onde os fios do ventilador não tinham interruptor e ficavam expostos, pondo em risco a segurança dos alunos. Vários bebedouros e banheiros não funcionam, placas de concreto se descolam e caem. Houve incêndios e quedas de luz por causa da fiação antiga”, conta ele.

Segundo um aluno do curso de economia que não quis se identificar, a universidade sofre com problemas de infraestrutura há muitos anos. “Os banheiros são um caso crônico. Na maioria das vezes não há papel ou sabão. Quando algum equipamento dá defeito ou quebra é uma vida para voltar do conserto”, explica ele. “Eu acho que não são os royalties que vão determinar o fim da Uerj. Os problemas vêm de muitos anos e deveria ser encontrada uma maneira de melhorar a universidade de uma vez por todas”.