Presidentes da ditadura militar dão nome a mais de 700 escolas
Depois de 50 anos do golpe de Estado que instaurou a ditadura militar no Brasil, o país conta com 717 escolas ativas com ensino regular que possuem nomes de um dos cinco presidentes do período. É o que mostra um levantamento feito pelo UOL com base nos dados do Censo Escolar 2012.
Do total, 697 colégios são públicos e apenas 20, particulares. O marechal Humberto de Alencar Castello Branco (1964-1967) é o militar que conta com o maior número de homenagens: 347 instituições de ensino básico têm o seu nome.
Arthur da Costa e Silva, que governou o país de 1967 a 1969, é nome de 209 escolas; Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), de 120; Ernesto Geisel (1974-1979), de 23; e João Baptista de Oliveira Figueiredo (1979-1985), de 18.
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Os Estados da Bahia e do Maranhão são as unidades federativas que mais possuem escolas com esse perfil, 138 e 99, respectivamente. Em seguida estão Pernambuco (51), Rio Grande do Sul (44) e Minas Gerais (42). Na "lanterninha" das homenagens, Roraima, com 3 escolas; Amapá, com 2; e o Distrito Federal, que possui nenhum colégio com esse perfil.
"Como historiadora, a primeira hipótese é que os governadores desses Estados [Bahia e Maranhão] eram pessoas aliadas à ditadura, além de representar governos que queriam estar bajulando quem estava no poder", analisa Albene Miriam Klemi, professora de história do Brasil República da UnB (Universidade de Brasília).
Troca do nome
Na última sexta-feira (11), uma escola em Salvador, na Bahia, realizou uma solenidade que marcou a mudança de seu nome.
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- http://educacao.uol.com.br/enquetes/2014/04/11/escolas-que-homenageiam-presidentes-da-ditadura-devem-mudar-de-nome.js
A votação no antigo Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici, que foi inaugurado em 1972 (quando o general estava no poder), contou com os votos dos professores, funcionários, estudantes e pais de alunos. Na disputa para o novo nome estavam Carlos Marighella e o geógrafo Milton Santos. O primeiro ganhou com 69% dos votos.
Marighella fez parte da luta armada contra o regime militar. Foi ele quem fundou a ANL (Ação Libertadora Nacional), maior organização guerrilheira de combate à ditadura. Tido como inimigo público número 1, acabou assassinado em 1969, sob o governo de Médici, por mais de 25 membros da polícia política.
Para os especialistas, é necessário o debate com a comunidade escolar para definir se os nomes dos presidentes da ditadura devem permanecer.
Outros personagens
Ainda segundo o levantamento feito pelo UOL, o presidente João Goulart, deposto pelo regime, tem seu nome representando apenas 27 escolas no país. A maioria delas está no Rio Grande do Sul (13) e no Rio de Janeiro (8).
O jornalista Vladimir Herzog, que morreu nas dependências do DOI-Codi após tortura, em 1975, é homenageado por duas escolas no Estado de São Paulo e uma no Rio de Janeiro.
Outro combatente do regime, Manoel Fiel Filho foi morto aos 49 anos. O crime foi acobertado como "suicídio por estrangulamento", supostamente praticado com duas meias. Atualmente ele dá nome a dois colégios em São Paulo.
Getúlio Vargas, que em 1937 também deu um golpe político, inaugurando um dos períodos mais autoritários da história do país, que viria a ser conhecido como Estado Novo, dá nome a 336 escolas. É bem representado na Bahia, com 70 instituições e no Rio Grande do Sul (48), seu Estado natal.
Mesmo sem assumir o cargo, Tancredo Neves foi eleito, ainda de forma indireta, o primeiro presidente civil depois da ditadura. Entre os chefes de Estado analisados, ele é o que mais conta com homenagens em escolas brasileiras: são 409 registros.
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