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Unesco: 65 milhões de meninas estão fora da escola

Na Índia, a ONG Educate Girls tenta convencer as famílias da importância da educação para as meninas - Divulgação
Na Índia, a ONG Educate Girls tenta convencer as famílias da importância da educação para as meninas Imagem: Divulgação

Marcelle Souza

Do UOL, em Doha*

24/11/2014 06h30

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura) estima que 65 milhões de meninas estejam fora da escola. De acordo com o relatório global Educação para Todos, o caso é mais grave em países da África e da Ásia.

Desse total, 31 milhões de garotas em idade escolar deveriam frequentar o ensino primário (o que corresponde ao nosso ensino fundamental) –4 milhões a mais do que os meninos em idade escolar. Entre essas garotas, 17 milhões nunca mais devem voltar à sala de aula.

Três países têm mais de um milhão de meninas fora da escola: Nigéria (5,5 milhões), Paquistão (mais de 3 milhões) e Etiópia (mais de um milhão).

Gulalai Ismail

  • Reprodução/Facebook

    Se você ignora mais de 50% da população do mundo, não pode esperar viver em um mundo decente e desenvolvido

    Gulalai Ismail

“Garantir que as meninas permaneçam na escola é uma das formas mais eficazes de evitar o casamento infantil e a gravidez precoce”, afirma a Unesco. Uma em cada oito meninas se casa com menos de 15 anos na África Subsaariana.

No ensino secundário (o ensino médio), outras 34 milhões de meninas estão fora da escola em todo o mundo, diz o relatório. Dois terços dos 774 milhões de analfabetos no mundo são mulheres.

Em 10 países do mundo, menos da metade das meninas mais pobres já foram à escola. Na Somália, 95% das garotas pobres nunca estiveram em uma sala de aula. No Níger, esse número é 78%.

“Sem uma mudança radical por parte dos governos a fim de dar a estas crianças e jovens a educação de que precisam, elas vão ter negada a igualdade de oportunidades no trabalho e na vida para sempre”, afirma o relatório.

Para mudar essa realidade

Depois de ver amigas se casarem aos 16 anos, a paquistanesa Gulalai Ismail fundou, ao lado da irmã em 2002, a ONG Aware Girls. A organização dá suporte a meninas e mulheres do Paquistão para que tenham acesso igualitário à educação, ao trabalho, à saúde e a outros serviços públicos

Na Índia, a Educate Girls tenta levar as meninas de volta à escola. “Nós dizemos ‘se ela tiver um filho e tiver que levá-lo ao hospital, ela vai precisar ler a receita médica’. Sendo escolarizada, vai poder cuidar melhor do seu filho”, explica.

Malala

  • Rui Vieira/AP

    Os extremistas estavam e estão assustados com livros e lápis. O poder da educação os assusta. Eles estão com medo das mulheres. O poder da voz das mulheres os assusta.

    Malala Yousafzai

Já a Camfed (Campaign for Female Education) dá suporte a meninas que queriam estudar no Zimbábue, Zâmbia, Gana, Tanzânia e Malawi. Até agora, a organização já ajudou mais de 1,2 milhão de crianças a frequentar as aulas.

Todas elas ganharam o reforço da paquistanesa Malala Yousafzai, 17, que foi anunciada em outubro deste ano como a ganhadora do prêmio Nobel da Paz. Por defender a educação para meninas, Malala foi atingida na cabeça pelos talibãs em 2012.

“Os extremistas estavam e estão assustados com livros e lápis. O poder da educação os assusta. Eles estão com medo das mulheres. O poder da voz das mulheres os assusta”, disse em 2013 ao discursar na ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York.

*A jornalista viajou a convite do Wise (World Innovation Summit for Education), da Fundação Qatar