"Só pensei por que eu", diz professor que levou tiro no rosto
O professor de sociologia Affonso Cardoso Aquiles, 31, foi uma das vítimas do embate entre policiais e manifestantes que ocorreu nesta quarta-feira (29), no Centro Cívico de Curitiba. Ele levou um tiro no rosto e outro na perna. “Assim que me acertaram na cara, fui procurar uma ambulância. No caminho, no entanto, fui atingido novamente”, conta.
Aquiles estava próximo da grade de proteção armada pelos policiais para proteger a Assembleia Legislativa. “Só lembro-me de ter virado o rosto para o lado, na direção da polícia, e sentir um tranco. Na hora não senti dor. Ao olhar para baixo, vi uma ‘bolinha’ [estilhaço] cair no chão e um monte de sangue escorrendo do meu rosto”, relata.
Para estancar o sangue, ele usou sua camiseta, estampada com a frase “Quem luta, faz acontecer”. Ao chegar à ambulância, ajudado por outros manifestantes, não pôde entrar, pois estava repleta de feridos. Foi encaminhado, então, por guardas até a Prefeitura de Curitiba, que montou um posto de atendimento para prestar os primeiros socorros.
“Fui um dos primeiros a chegar. Logo depois vi um ex-aluno meu, que havia levado um tiro de borracha no meio da testa”, relata. Como o caso de Aquiles era grave, ele logo foi encaminhado para o Hospital Cajuru, localizado no bairro Cristo Rei, a poucos minutos do Centro Cívico. Lá, segundo ele, foi um “show de horrores”. “No período que fiquei no pronto atendimento, vi umas 40 pessoas. Muitas chegavam chorando e gritando. Um dos manifestantes havia levado um tiro no olho.”
Célia Cardoso de Mello, mãe de Aquiles e professora do Estado faz 30 anos, também participou da manifestação. “Eu estava perto do carro de som, afastado da Assembleia. Quando vi a confusão lá na frente, pensei ‘meu Deus, meu filho está lá”. Ao receber mensagens do filho, por celular, ela foi até o hospital para acompanhá-lo.
Aquiles levou por volta de 20 pontos no rosto. “Não sinto dor agora. E não consigo descrever o que senti na hora que fui atingido. Só lembro-me de pensar ‘por que eu?’. Não consigo entender, também, por que o policial atirou direto no meu rosto. Eu estava a apenas 20 metros dele”.
Na próxima terça-feira (5) ele tem uma consulta com um cirurgião-plástico. O processo para a cicatrização do rosto pode demorar um ano.
392 feridos, segundo a APP-Sindicato
De acordo com Mario Sergio Ferreira de Souza, secretário de Assuntos Jurídicos da APP-Sindicato, há 392 feridos. "Pedimos a todos para fazer boletim de ocorrência, mas muita gente não quer, por medo de perseguição”, conta.
É o caso da professora Maria, diretora de uma escola do noroeste do Paraná. “Levei um tiro na perna, mas não vou fazer nada, caso contrário minha escola, que não está muito boa, não vai mais receber investimentos”, contou ao UOL na manhã desta quinta-feira (30) durante reunião de professores na Praça 19 de Dezembro, no centro de Curitiba.
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