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Grupo de alunos da UFPB causa polêmica ao usar termo 'dopasmina'

Do UOL, em João Pessoa

18/08/2016 14h34

Alunos de uma turma do curso de medicina da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) causaram polêmica nas redes sociais após a postagem de uma foto contendo o termo ‘dopasmina’. Nessa quarta-feira (17), entidades ligadas aos direitos humanos e aos direitos das mulheres assinaram uma nota de repúdio à atitude dos estudantes. Em protesto, os cartazes foram alterados de ‘dopasmina’ para ‘respeitasmina’ e ‘juntasmina’.

O termo ‘dopasmina’ é um trocadilho para dopamina, neurotransmissor responsável pelas emoções e movimentos. Segundo o Coletivo Nise da Silveira, o trocadilho “é um termo bastante utilizado pelos estudantes de medicina de todo o país ao nomear festas e eventos onde ocorrem diversas tentativas e abusos sexuais às mulheres”. O uso da palavra, segundo a nota, é um incentivo ao machismo. A reportagem ligou para a coordenação do curso de medicina da UFPB, mas a pessoa que atendeu informou que o responsável não estava presente e que ninguém estava autorizado a comentar o assunto. 

A nota de repúdio também critica a atitude dos estudantes no que se refere ao tratamento com as alunas do curso, as quais teriam reclamado do uso do termo. “É notável a falta de empatia da turma com diversas vítimas e também com as colegas que, mais uma vez, se encontram à mercê do machismo e da cultura do estupro”, afirmou a nota.
O Coletivo Nise da Silveira também destacou que “atitudes de apologia ao estupro mancham o nome do curso e da universidade a que a turma está vinculada, prejudicando diversos alunos de ambos os sexos e professores”.

Também por meio de nota divulgada ontem, estudantes explicaram que o termo ‘dopasmina’ teria sido escolhido, por votação, desde o primeiro período do curso de medicina, em referência ao neurotransmissor dopamina. “Em nenhum momento a idealização do nome teve interesse pejorativo ou de caráter degradante, tampouco a intenção de fazer apologia ao estupro ou de desrespeitar as mulheres”, destacou a nota. O uniforme com o termo "dopasmina" estaria em desuso há mais de um ano e só teria sido resgatado por ocasião de um campeonato, defendeu o grupo.

A nota é assinada como ‘turma 99 – medicina UFPB’. O documento teria sido entregue ao diretor do Centro de Ciências Médicas, Eduardo Sérgio Sousa, conforme mostra a foto divulgada na página da turma no Facebook.

Outro caso

No mês passado, também na UFPB, a Comissão de Direitos Humanos abriu sindicância para investigar um trote feito por alunos do curso de engenharia química, que teriam obrigado estudantes novatas a usarem uma placa com a frase ‘miss estupra’.

O caso também gerou grande repercussão nas redes sociais, despertando a comunidade acadêmica para a discussão acerca da cultura do estupro.

O assunto permeia discussões em outras universidades do país, a exemplo da Universidade de São Paulo (USP), onde casos de estupro, envolvendo alunos de medicina, são investigados desde o ano passado.