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Já me sinto um vencedor, diz cadeirante de 47 anos que presta exame em Maceió

Nivaldo Martins da Silva, 47, tem o sonho de cursar medicina - Aliny Gama/UOL
Nivaldo Martins da Silva, 47, tem o sonho de cursar medicina Imagem: Aliny Gama/UOL

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

05/11/2017 13h06

O sonho de ter uma profissão e poder ajudar a família levou o estudante do ensino médio Nivaldo Martins da Silva, 47, a superar limites impostos pela poliomielite, doença que o acometeu aos quatro meses de nascido, e se mudar do interior de Alagoas para estudar em Maceió.

Neste domingo (5), o estudante se submeteu ao primeiro dia de prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) com o objetivo de ingressar no curso de medicina.

Para chegar ao local da prova, a cerca de 15 km da sua casa, localizada no bairro do Farol, parte alta de Maceió, Silva saiu cedo, por volta das 8h30 (horário local), porque precisou pegar dois ônibus até o Centro Universitário Tiradentes, localizado no bairro de Cruz das Almas, parte baixa da cidade.

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"O meu maior desafio hoje foi chegar aqui a tempo para entrar com tranquilidade no local que vou fazer a prova. Peguei um ônibus para o centro da cidade e depois outro para chegar aqui. Independentemente do meu desempenho no Enem, já me sinto vencedor", contou Silva, em entrevista ao UOL.

Até os 15 anos de idade ele não era alfabetizado porque morava na zona rural de Feira Grande, região agreste de Alagoas, e relata que demorou esse tempo todo para começar os estudos porque não existia acessibilidade para escolas na cidade.

Filho de agricultores, ele conta que, para concluir o ensino médio e ter reforço nos estudos para as provas do Enem, ele decidiu se mudar para a capital. "A acessibilidade é mais fácil do que lá no interior. No ano passado decidi fazer um curso técnico no Senai e aproveitei para concluir o ensino médio em uma escola estadual que tivesse acessibilidade", conta o estudante.

Ele destaca que sua rotina de preparação para o Enem começa às 19h, quando chega à escola estadual Professor José da Silveira Camerino, localizada no Cepa (Centro de Estudos e Pesquisas Aplicadas), e se estende até a madrugada.

"Durante o dia faço o curso técnico e à noite venho para as aulas do ensino médio. Quando chego em casa, reviso o material que os professores passaram até a 1h da madrugada. Fiz um roteiro do que tenho de estudar diariamente", diz Silva.

Após realizar a prova, ele disse que “a experiência boa”, e disse não ter ficado surpreso com o tema da redação: "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil".

“O tema da redação não me surpreendeu porque tratou da inclusão social de surdos e geral da acessibilidade. É um tema a ser debatido sempre porque a sociedade ainda desconhece e precisa ter mais incentivo que mostre a importância e os diretos das pessoas com necessidades especiais. Todos nós temos capacidades igualmente a todos", destacou Silva.

Mais de 100 mil prestam prova no Estado

Em Alagoas, 118.724 pessoas se submetem ao Enem, segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, órgão do Ministério da Educação). O número representa 1,7% do total de inscritos no Brasil.

Em Maceió, 48.664 se inscreveram no exame. Além da capital, as cidades que mais têm candidatos são Arapiraca, com 15.815, União dos Palmares, com 5.306, e Palmeira dos Índios, com 4.518.

As provas são aplicadas em 26 municípios alagoanos. São eles: Água Branca, Arapiraca, Atalaia, Batalha, Boca da Mata, Campo Alegre, Coruripe, Delmiro Gouveia, Girau do Ponciano, Igaci, Maceió, Marechal Deodoro, Olho D'Água das Flores, Palmeira dos Índios, Penedo, Pilar, Porto Calvo, Rio Largo, Santana do Ipanema, São José da Tapera, São Luís do Quitunde, São Miguel dos Campos, Teotônio Vilela, Traipu, União dos Palmares e Viçosa. 

Dos 118.724 inscritos, 23,4% são pagantes e 60,1% tentaram isenção da taxa de inscrição, mas somente 16,4% conseguiram a gratuidade por estarem concluindo o ensino médio em escola pública. Os dados do Inep apontam ainda que 60,7% dos candidatos são do sexo feminino e 39,3% são do sexo masculino.

O Inep informou ainda que 50 pessoas de Alagoas solicitaram atendimento específico -- a maioria dos casos é de deficiência física, baixa visão e deficiência de atenção. No Estado também são aplicadas s 25 videoprovas traduzidas em libras.

Este ano, Alagoas teve redução de 17,4% no número de inscritos em comparação a 2016, quando 143.750 pessoas se inscreveram. O Inep explica que a queda se deve ao fato de o exame ter deixado de certificar o ensino médio, que voltou a ser feito pelo Exame Nacional para Certificação de Jovens e Adultos.

Confira abaixo o gabarito extraoficial dos quatro cadernos de prova deste domingo:

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