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Enem evita polarização política na escolha de tema da redação, dizem analistas

Estudantes correm para conseguir entrar antes do fechamento dos portões da Uninove Barra Funda, na zona oeste da capital paulista, para a realização do primeiro dia de provas do Enem - Andre Lucas/Estadão Conteúdo
Estudantes correm para conseguir entrar antes do fechamento dos portões da Uninove Barra Funda, na zona oeste da capital paulista, para a realização do primeiro dia de provas do Enem Imagem: Andre Lucas/Estadão Conteúdo

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

04/11/2018 14h34

Ao contrário dos últimos anos, o tema de redação do Enem 2018 fugiu de temas sobre minorias sociais e pediu para os estudantes analisarem a “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”. Para especialistas consultados pela reportagem, o Ministério da Educação pode ter fugido de temas polêmicos em razão do “clima político” de polarização que o Brasil vive no pós-eleições.

- Confira a correção comentada e o gabarito extraoficial do 1º dia de provas do Enem 2018

“O Enem quebrou o padrão adotado nos últimos três anos, quando falou de minorias”, afirmou ao UOL o professor de redação do cursinho Anglo, Aníbal Telles. “No ano passado, a redação falou de surdos, no ano retrasado, sobre intolerância religiosa, especialmente racismo, já que tratava de religiões de matriz africana. No ano anterior, o tema foi violência contra a mulher.”

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O tema escolhido este ano foi a sociedade de controle, representada pela manipulação de dados na internet. “É um assunto bom, atualíssimo. Todo aluno em cursinho teve aula sobre isso”, diz o professor. “Desde o momento em que a gente liga o computador somos observados. Nossos dados são coletados para diversos fins, como comprar produtos ou receber notícias”, explica o professor.

Telles afirma que o tema pode ser mais abrangente dependendo dos textos de apoio que direcionam a redação. “É para falar de Brasil ou de mundo?”, questiona.

Professora de redação do Objetivo, Viviane Xanthakos concorda. “É complicado dizer se fugir de temas sociais foi resultado da polarização da eleição, mas é perfeitamente possível comentar política com esse tema.”

A professora lembra que, dependendo dos textos de apoio, seria recomendável, por exemplo, comentar a compra de dados de usuários do Whatsapp para disparar mensagens falsas, como aconteceu em diversas campanhas nas eleições deste ano.

“A gente esperava que o tema pudesse ser fake news. Nesse caso, eles direcionaram no que a gente chama de big data e a manipulação do nosso comportamento pela web”, analisa. “A manipulação de dados foi decisiva na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, e mesmo o dono do Facebook admitiu que o algoritmo da rede social direciona informações.”

"Gostei bastante do tema", afirmou a coordenadora de Português do Grupo Etapa, Simone Motta. "Não é um tema sobre minorias, mas é um tema social porque o controle de dados pela rede é uma questão social. É um assunto muito discutido este ano: desde propaganda para comprar coisas à divulgação de ideias, fake news, vazamento de fotos e de dados."

A professora elogiou a escolha do Inep por ser "muito próximo ao aluno, que usa muito a internet". "O estudante pode acompanhar um youtuber manipulador, por exemplo. O tema foi excelente porque diz respeito ao universo do aluno, que na maioria das vezes é jovem."

Para Vivian, do Objetivo, o Enem quer saber do aluno que tenta uma vaga na universidade se ele tem opinião crítica. “O estudante que faz o teste é jovem. Ele pensa de forma crítica o mundo em que vive?”

O candidato que desrespeitar os direitos humanos na redação não terá a nota zerada automaticamente, mas poderá perder pontos. Os estudantes também fazem hoje as provas de ciências humanas e linguagens.