Não precisa de Aristóteles, diz aluno que citou Black Mirror em redação mil
"Não precisa buscar Aristóteles para tirar nota mil". É o que diz o aluno Lucas Felpi, 17, um dos 55 candidatos a alcançarem a nota máxima na redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2018. Os resultados foram divulgados na manhã desta sexta (18).
Em seu texto, ele diz ter feito referências à série de ficção científica "Black Mirror" e ao livro 1984, de George Orwell. Os mais de 4 milhões de participantes que fizeram a prova do Enem no ano passado tiveram de escrever sobre o tema "Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet".
"A dica que eu normalmente dou é: use referências suas, não tenha medo de usar referências que não são comuns. Não precisa buscar longe. Pode ser uma série que você viu, um livro que você leu, uma música que ouviu", conta Lucas.
De "Black Mirror", o jovem afirma ter citado o episódio "Hang the DJ", em que pessoas solteiras são conectadas automaticamente por meio de um sistema algorítmico.
"O candidato tem que saber relacionar e conectar. Eu disse que os algoritmos estavam restringindo as opções da pessoa, a visão dos usuários na escolha. Esse episódio, por exemplo, mostrava que o usuário ficava completamente passivo", diz.
"Acho que, nas redes sociais, as notícias que a gente vê, os pontos de vista que a gente vê, são escolhas que não são feitas por nós. É um algoritmo que analisa seus gostos e decide por você", compara.
Lucas acredita ter deixado sua "marca" na redação que fez para o Enem -o que, para ele, foi um ponto diferencial para que a nota máxima fosse alcançada. "Precisa ir além do plano da argumentação e dar exemplos, situações concretas do tema", diz.
Preparação
Ex-aluno do colégio Rio Branco, em São Paulo, Lucas diz que treinava para a redação do Enem escrevendo um texto por semana. "Fiz por volta de 25, 30 redações no ano inteiro", conta.
Ele também afirma ser importante estar preparado para o modelo de redação do Enem, que exige um texto dissertativo-argumentativo, com uma proposta de intervenção para o tema. "Fiz tantas vezes que peguei prática", brinca.
O jovem, que se diz "fascinado" por computadores e novas tecnologias, afirma que ficou feliz ao ver o tema, apesar de não esperar que o Enem cobrasse algo "filosófico".
"Não esperava, achei que fosse algo mais relacionado a mazelas sociais do que algo tão filosófico. É um tema importante e atual. Acho que não tinha treinado nenhum tema assim, mas foi muito útil para mim, porque gosto muito de efeitos da tecnologia", diz.
Humanas e exatas
Lucas quer cursar Ciência da Computação e pretende usar a nota do Enem para tentar uma vaga no Sisu (Sistema de Seleção Unificada). Ele também espera os resultados da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e da Fuvest, prova que seleciona para a USP (Universidade de São Paulo).
Mas, "se tudo permitir", ele conta, pretende estudar no Georgia Institute of Technology, em Atlanta, nos Estados Unidos, de onde já recebeu a notícia da aprovação.
Se exatas e humanas podem andar juntas? Para Lucas, sim. "Para mim, tem a ver. Vejo matemática e escrita muito relacionadas", afirma o jovem, que além da redação nota mil alcançou 988,7 pontos na prova de matemática do Enem. A nota máxima nessa área foi de 996,1 pontos, segundo o Inep.
Autodidata, Lucas diz ter aprendido a programar com cursos na internet. Nesse ano, ele pretende retomar um projeto de aplicativo que ficou em espera por conta dos estudos para o vestibular.
"Programação também é escrita e linguagem. Gosto muito de escrever e de usar contas e números", diz.
Segredo é disciplina, diz "veterana" de Enem com nota mil
Em Fortaleza, uma das candidatas que conquistou a nota mil na redação foi Lívia Taumaturgo, 18. "Veterana" de Enem, ela começou a fazer o exame em 2015 -desde então, viu o desempenho crescer.
"Foi uma evolução muito grande, porque a nota [na redação] no primeiro ano foi 680. Procurei sempre me aperfeiçoar mais, até que cheguei à nota máxima", conta.
Para ela, o segredo para conseguir a nota mil foi manter a disciplina e treinar muito. "Eu decidi, em 2018, dedicar pelo menos cinco horas por semana para a redação", diz.
Ex-aluna do colégio Ari de Sá, de Fortaleza, Lívia diz que fazia dois textos por semana no laboratório de redação da escola.
"Na hora [do exame], falei sobre consumismo exacerbado, que é intensificado pela manipulação do comportamento do usuário, e também sobre fake news", afirma.
A jovem, que quer cursar medicina na UFC (Universidade Federal do Ceará), destaca ainda a importância de manter a calma durante a prova. "O tema não foi fácil. Foi um recorte temático bem específico e complexo. Mas graças a Deus consegui manter a calma e desenvolver o texto", conta.
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