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Vélez defende trocas no MEC e diz que ex-presidente do Inep 'puxou tapete'

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

27/03/2019 11h55Atualizada em 27/03/2019 15h42

O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, afirmou hoje que o ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) Marcus Vinicius Rodrigues "puxou o tapete" ao cancelar a avaliação federal de alfabetização de crianças e que, por isso, foi demitido do cargo.

A exoneração de Rodrigues foi confirmada ontem à noite no Diário Oficial da União. Em audiência na Câmara, o ministro justificou a saída afirmando que Rodrigues não o consultou sobre a mudança e que considerou isso um ato grave. Vélez também defendeu as trocas recentes na pasta --15 pessoas foram exoneradas ou pediram demissão em menos de três meses da atual gestão-- ao dizer que elas seguiram critérios técnicos.

"O diretor-presidente do Inep puxou o tapete. Ele mudou de forma abrupta um entendimento que já tinha sido feito para preservação da Base Nacional Curricular e fazer as avaliações de comum acordo com as secretarias de educação estaduais e municipais. Realmente considerei [o cancelamento] um ato grave, um ato que não consultou o ministro", afirmou em audiência na Comissão de Educação da Câmara.

Rodrigues foi demitido porque assinou a portaria que suspendia a avaliação de alfabetização deste ano, que só voltaria ser realizada em 2021. A medida foi revogada pelo MEC no dia, somando-se aos recuos da pasta em três meses de governo.

À TV Globo, Rodrigues disse que não há comunicação dentro do MEC e que, em quase três meses na pasta, nunca teve uma reunião de trabalho com o ministro. Sobre o cancelamento da avaliação, ele declarou que tinha respaldo do secretário de Alfabetização do MEC, Carlos Nadalim.

Na Câmara, Vélez rebateu a declaração do agora ex-presidente do Inep. "Não é verdade que não tenha havido reuniões das secretarias e das presidências do mistério ao longo desses três meses. (...) Na nossa educação básica, na nossa secretaria de educação tecnológica, já há um enorme calendário de trabalho, um enorme serviço prestado à sociedade", afirmou.

Nadalim, assim como Vélez é discípulo do professor Olavo de Carvalho, espécie de guru do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

O episódio tem sido visto como mais um capítulo na disputa interna no MEC que divide a ala ligada aos militares, a dos ex-alunos de Olavo de Carvalho e dos chamados quadros técnicos, ligados ao Centro Paula Souza, de São Paulo, que tem maior proximidade com o ensino técnico.

Professor da FGV e que acompanhava as discussões da área desde antes da transição de governo, Rodrigues era um dos nomes ligados aos militares que integravam a pasta.

Brigas políticas de Olavo de Carvalho são outros 500

Sobre as trocas dentro do MEC, Vélez rebateu que elas reflitam disputas políticas internas influenciadas pela queda de braço entre Olavo de Carvalho e os militares integram o governo. "Quanto as mudanças no aparelho administrativo do MEC tenho pautado sobretudo por critérios administrativos, não critérios políticos", afirmou.

O ministro da Educação afirmou ainda não tomar conhecimento "das brigas políticas" de Olavo de Carvalho.

"Se menciona o nome de um pensador brasileiro que mora fora, o professor Olavo de Carvalho (...) As análises políticas, as brigas políticas do professor Olavo de Carvalho para mim são outros 500, não tomo conhecimento disso. Só me interessa resgatar a sua tradição humanística nessa proposta de formação em humanidades através da leitura das grandes obras, que não é uma proposta nova", afirmou.

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