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Santuário vê uso politico em projeto para Anchieta ser patrono da educação

Projeto de lei quer transformar José de Anchieta em patrono da educação - Reprodução/SaoMateusNews
Projeto de lei quer transformar José de Anchieta em patrono da educação Imagem: Reprodução/SaoMateusNews

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/05/2019 16h43

O Santuário Nacional São José de Anchieta declarou não apoiar a proposta de transformar o santo católico em Patrono da Educação Brasileira no lugar do educador Paulo Freire. Segundo a instituição, esta é uma "apropriação de um símbolo católico para defender um governo".

A proposta foi feita pelo deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ) em projeto de lei (3.033/19) que tramita na Câmara desde 21 de maio. Quatro dias depois, o santuário divulgou nota contrária e, em entrevista ao UOL, o vice-reitor apontou uso político da situação. Em resposta, Jordy acusou os padres que comandam o santuário de aparelhamento ideológico e heresia. Ele diz que o objetivo do seu projeto é começar a mudar o rumo da educação brasileira.

Principal responsável por estudos relacionados a Anchieta, o santuário divulgou em nota que "não pode ser proclamado patrono da educação em um momento que a educação não parece ser prioridade na agenda do governo".

O vice-reitor da instituição, padre Bruno Franguelli, apontou dois motivos principais para a instituição não ser a favor da mudança: o momento atual do país e o "motivo inicial da proposta", que, segundo ele, nada tem a ver com Anchieta.

O padre diz que não vê esforço por parte do governo para melhorar a educação no país. "Como falamos na carta, é uma contradição que bem neste momento de desmonte da educação queiram atrelá-la a Anchieta, um homem que teve como primeiro sonho edificar a nação a partir dela", afirma Franguelli.

Além disso, segundo o padre, o projeto não é uma homenagem a Anchieta, mas uma forma de destituir o atual patrono, o educador Paulo Freire.

"Nós lemos o projeto. Inicialmente, o objetivo era destronar Paulo Freire, então Anchieta é agarrado para substitui-lo. Mas não existe um desejo real de reconhecer seu legado", afirma o religioso. "Desconhecendo sua obra, o texto [do projeto de lei] tem coisinhas que parecem do Wikipédia", avalia Franguelli, citando a enciclopédia virtual.

"Quando uma pessoa católica vê a proposta, acha bonita. Afinal, ele merece mesmo. Mas, num segundo momento, vê-se que ele está sendo instrumentalizado simbolicamente", declara Franguelli. "É a apropriação de um símbolo católico para defender uma proposta de governo", dispara.

Autor de projeto critica padres

Responsável pelo projeto, Jordy afirmou ao UOL que a recusa do santuário "demonstra um viés ideológico" por parte dos padres e os acusa de "heresia".

"Eles fazem uma comparação tosca entre Anchieta e Freire. É que nem comparar água com vinho comparar um comunista, que na sua essência defende uma ideologia ateísta, que diz que religião é o ópio do povo, com um verdadeiro educador cristão católico", declara o deputado. "Eles não são padres, são hereges", diz.

Para ele, os representantes do santuário caíram "na falácia da esquerda sobre os cortes do governo". O deputado afirma ainda que escolheu Anchieta como novo patrono por seu legado. "Ele foi o primeiro educador que o Brasil teve, tem uma obra fantástica", defende.

Segundo ele, no entanto, o objetivo principal da mudança é mesmo simbólica. "É o simbolismo de uma guinada para uma nova educação, que rompe com esse método de que o aluno tenha apenas consciência social e não saiba do resto", critica. "[Queremos] voltar à educação tradicional, com o aluno aprendendo matemática, português, física e o professor seja o transmissor de conhecimento", diz.

Nomeado patrono da educação em 2012, Paulo Freire é considerado o brasileiro mais vezes laureado com títulos de doutor honoris causa pelo mundo. Ele já recebeu homenagens em mais de 30 universidades brasileiras e estrangeiras. O professor Sérgio Haddad, que lancará uma biografia sobre Freire, diz que o educador era, inclusive, um crítico de regimes socialistas e jamais defendeu a doutrinação de alunos.