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Miss se defende ao usar cota para deficiente para passar em Medicina

Hyalina Lins Farias, Miss Acre Mundo 2018 - Reprodução/Instagram
Hyalina Lins Farias, Miss Acre Mundo 2018 Imagem: Reprodução/Instagram

Abinoan Santiago

Do UOL, em Ponta Grossa (PR)

13/02/2020 13h43Atualizada em 13/02/2020 20h01

Depois de tentar pela segunda vez, Hyalina Lins Farias, de 21 anos, Miss Acre Mundo 2018, conseguiu realizar o sonho de passar em Medicina na Universidade Federal do Acre (Ufac). Convocada em segunda chamada pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a modelo virou alvo de polêmica por ter optado pela cota destinada a candidatos com deficiência e com renda inferior ou igual a 1,5 salário mínimo. A convocação ocorreu na terça-feira.

A aprovação da miss nessa condição gerou repercussão nas redes sociais. Internautas criticaram a escolha da Hyalina por duvidarem da deficiência da modelo e da renda mensal da jovem por causa de registros de viagens publicados em seu Instagram. Ao UOL ela contou que possui baixa visão, está desempregada e que mora em Rio Branco com o pai autônomo, outros três irmãos menores de idade e a madrasta.

20 graus de miopia

Hyalina diz que possui miopia desde os cinco anos de idade. O caso teria se agravado e atualmente está com 20 graus, sendo também diagnosticada com baixa visão. Para amenizar o problema, ela conta que usa lentes de contatos. Em seu Instagram, ela aparece com óculos em apenas uma foto.

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"Quando eu tinha cinco anos comecei a estudar e manifestar os problemas de visão. Sentava sempre pertinho do quadro e reclamava de muitas dores de cabeça. Esse problema me acompanha a vida toda, atrapalhando muito o desenvolvimento dos meus estudos, mesmo com óculos. Meu grau foi aumentando, evoluindo para um caso de baixa visão. Hoje tenho 20 graus de miopia".

Hyalina diz que não compartilha o problema nas redes sociais porque é algo pessoal e por ter "vergonha". A modelo conta que é o terceiro vestibular que consegue aprovação. Os demais foram em 2016, em Biologia; e 2017, em Enfermagem. O sonho dela, contudo, era Medicina. Para ser aprovada em Medicina, ganhou uma bolsa particular em um cursinho de Rio Branco. Na aprovação dos dois primeiros, estudou em um cursinho público da Ufac.

No vestibular para ingressar em 2019, Hyalina também tentou pela mesma cota para Medicina, pois teria recebido orientação de professores para usar um direito que possuía. Ela diz ter visitado três oftalmologistas que emitiram laudo para baixa visão. Os documentos foram apresentados na Ufac no ato da matrícula. "Fui orientada a correr atrás do que era direito meu. Não tinha conhecimento por desinformação. Fui em três oftalmologistas e todos falaram que tinha esse direito", contou.

Sobre a renda, internautas duvidaram se a modelo estava dentro dos critérios em razão das fotos compartilhadas em seu Instagram, com pouco mais de 11 mil seguidores. A mais recente foi em Búzios, no Rio de Janeiro, publicada em 12 de janeiro.

Hyalina argumenta que as viagens foram bancadas pelo namorado, médico cirurgião plástico, em Rio Branco. Ela atualmente está sem emprego e vive de parcerias realizadas com marcas locais através de publicidade no Instagram e com vendas de itens pós-operatórios para as clientes do companheiro.

Além disso, a modelo conta que é filha de pais separados. A mãe era professora de geografia na rede pública do Acre até dezembro de 2019, quando foi demitida e decidiu mudar para Paraíba, com o padrasto desempregado e outros três irmãos menores de idade da modelo. O pai é autônomo e tira o sustento de vendas de itens de papelaria para ajudar nas despesas da casa onde mora com Hyaline, a esposa e outros três filhos menores.

"Ninguém é milionário, mas também não passamos fome. Eu trabalho com permutas com o meu Instagram e consigo bastante coisa assim, além de vender acessórios para clientes do meu namorado. Isso me ajuda para coisas básicas e não para pagar uma viagem. Comecei a viajar em 2019, quando conheci meu namorado. De repente virei rica e nasci em berço de ouro?", comentou. "As pessoas precisam ter mais empatia antes de sair por aí julgando. Nenhum namorado vai apagar meu passado", concluiu.

Deficiência será avaliada

Segundo a Ufac, os candidatos aprovados e matriculados por meio de cotas para pessoas com deficiência ainda passarão por uma banca de avaliação com outros médicos para emitirem uma decisão final sobre cada caso.

"Todos os candidatos convocados através da modalidade reservada para Pessoas com Deficiência deverão, obrigatoriamente, ser submetidos à Comissão Permanente de Validação dos laudos médicos. Os candidatos que faltarem ou tiverem sua validação indeferida estarão automaticamente eliminados e perderão direito à vaga", informou a universidade ao UOL.