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DF vai fazer rodízio de alunos e medir temperatura na volta às aulas

Estudante utiliza plataforma para ensino à distância da rede pública do Distrito Federal - Álvaro Henrique/Secretaria da Educação do Distrito Federal/Divulgação
Estudante utiliza plataforma para ensino à distância da rede pública do Distrito Federal Imagem: Álvaro Henrique/Secretaria da Educação do Distrito Federal/Divulgação

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

18/07/2020 04h00

Medição de temperatura, rodízio de alunos por turma, e aulas por site e aplicativo: essas são algumas das estratégias adotadas pelo governo do Distrito Federal para reduzir os riscos de transmissão quando os 460 mil estudantes do sistema público de ensino começarem a voltar a frequentar as escolas, de forma escalonada, a partir de 31 de agosto.

As aulas nas escolas públicas do Distrito Federal estão suspensas desde 12 de março em razão da pandemia do novo coronavírus. O ano letivo foi retomado no último dia 13 de julho, mas apenas com atividades remotas, por meio do aplicativo e do site "Escola em Casa DF".

Professores e pais de alunos apontam a estrutura da rede pública como um dos principais desafios a serem superados, tanto para as aulas on-line quanto nas medidas sanitárias implementadas nas unidades.

Nas escolas privadas do DF, que, juntas, têm cerca de 165 mil alunos, o retorno às aulas presenciais será opcional, ou seja, os alunos poderão permanecer apenas com aulas on-line. Mas, se os pais desejarem, também serão oferecidas aulas presenciais nas escolas.

Por ser uma das primeiras unidades da federação a planejar a volta presencial às aulas, a realidade do Distrito Federal poderá antecipar estratégias e dificuldades a serem enfrentadas em outros estados.

Entre os 26 estados, seis planejam o retorno das aulas presenciais para agosto, e outros três, para setembro. Os demais não tem ainda uma data prevista, segundo levantamento atualizado ontem pelo Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação).

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Retorno adiado e escalonado

O avanço no número de casos, porém, levou o governo do Distrito Federal a adiar o retorno das aulas presenciais, que estava previsto inicialmente para 3 de agosto.

A avaliação das autoridades de saúde é a de que o Distrito Federal vive, neste momento, o pico da doença. E a tendência é de que, até o final do terceiro trimestre, ocorra uma desaceleração no ritmo de transmissão, com menos infectados e internações hospitalares.

O Distrito Federal tem a terceira maior incidência de casos por 100 mil habitantes entre as unidades da federação, ficando atrás apenas de Roraima e Amapá.

Até a última sexta (17), foram registrados 79.400 casos e 1.060 mortes causadas pela covid-19 no Distrito Federal. No Brasil, passam de 2 milhões o número de casos confirmados e os óbitos chegaram à casa dos 76 mil mortos pela doença.

"Pelas nossas estimativas, já estamos no platô [estabilização de casos após o pico]", diz o subsecretário de Vigilância à Saúde, Eduardo Hage. "A projeção é que, para setembro, a transmissão esteja bastante reduzida. Então, as medidas incluídas no protocolo seriam suficientes para assegurar proteção tanto para os profissionais quanto para os alunos", afirma o subsecretário.

O secretário de Educação do DF, Leandro Cruz, afirma que o retorno gradual vai permitir observar eventuais surtos da doença nas escolas, o que pode levar ao adiamento do calendário de reabertura. "O mais importante agora é preservar a vida, então nós faremos tudo de forma gradual, de forma segura, e na velocidade necessária para que seja feito com segurança", afirmou o secretário em entrevista ao jornal Correio Braziliense.

De rodízio a janelas abertas

Entra as medidas adotadas pelo governo nas escolas, está o rodízio de estudantes de uma mesma turma, que será dividida em dois grupos. Durante uma semana, apenas um grupo terá aulas presenciais enquanto o outro ficará com aulas on-line e atividades em casa. A ideia é reduzir pela metade o número de alunos em sala.

Ainda haverá escalonamento dos horários de intervalo, refeições, saída e entrada de salas de aula, assim como de horários de utilização de ginásios, bibliotecas e pátios.

Estudantes e funcionários das escolas também passarão por medição de temperatura. Os profissionais da educação também serão testados para covid-19 antes da volta às aulas.

Na parte da estrutura, serão instalados mais locais para lavagem das mãos, além da distribuição de máscaras e de álcool em gel. Bebedouros ficam proibidos e janelas das salas de aulas deverão permanecer abertas.

17.jul.2020 - Alunos recebem equipamento de informática arrecadado por campanha da Secretaria de Educação do DF - Álvaro Henrique/Secretaria da Educação do Distrito Federal/Divulgação - Álvaro Henrique/Secretaria da Educação do Distrito Federal/Divulgação
Campanha da Secretaria de Educação arrecadou computadores para alunos da rede pública
Imagem: Álvaro Henrique/Secretaria da Educação do Distrito Federal/Divulgação

Calendário

A volta às salas de aula será feita de forma escalonada: primeiro, voltam os alunos mais velhos; e por último, os mais jovens. O cronograma tem início em 31 de agosto, para as turmas de Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional, que respondem por 11% do total de estudantes na rede pública.

Veja as datas de retorno das outras turmas:

  • 8 de setembro: Ensino Médio
  • 14 de setembro: anos finais do Ensino Fundamental
  • 21 de setembro: anos iniciais do Ensino Fundamental
  • 28 setembro: Educação Infantil
  • 5 de outubro: Ensino Especial, Educação Precoce e Classes Especiais

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Grupo de risco em casa

Segundo o secretário de Educação, estudantes com doenças consideradas do grupo de risco para a covid-19 poderão permanecer em casa, com atividades remotas.

Da mesma forma, profissionais da educação de grupos considerados de risco continuarão trabalhando de forma remota.

"Meu filho é do grupo de risco. Ele não vai para escola. Meu filho mora com o avô, que tem 103 anos. Nós vamos criar condições para que esse estudante tenha minimizado seu prejuízo e não frequente as aulas", afirmou Cruz.

Sindicato não é a favor da volta agora

O Sinpro-DF (Sindicato dos Professores no DF) avalia que este não seria o momento de planejar a volta às aulas presenciais por causa do elevado risco de contaminação de estudantes e profissionais das escolas. A falta de estrutura é apontada como o principal entrave.

"Depois que se iniciou a pandemia, o governo não fez melhorias nas escolas. Os bebedouros ainda são os mesmos, têm banheiros sem papel higiênico, sem sabão, quanto mais falar em álcool em gel", afirma o coordenador de Assuntos de Saúde do Trabalhador do Sinpro-DF, Alberto de Oliveira Ribeiro.

"A estrutura ainda não está adequada para a volta. Nossa avaliação é que não tem como voltar agora porque o contágio vai ser gigantesco", diz Ribeiro.

"Meu filho não vai ser feito de cobaia"

A professora da Educação Infantil Rosimeire Xavier de Lima tem três filhos em idade escolar. Apenas o mais velho está na rede pública, cursando o Ensino Médio. Os mais novos, que estudam em um colégio particular, vão continuar em casa, acompanhando as aulas remotamente.

Para o primogênito, Rosimeire conta que pretende aguardar algumas semanas até ver como ficará a situação nas escolas. "Eu já falei para ele que por uma semana, duas, ele vai ficar em casa observando. Meu filho não vai ser feito de cobaia", diz a professora.

Uma de suas preocupações é o de que, contraindo a doença, alunos possam fazer o vírus circular e elevar a taxa de infecção na escola. "A partir do momento que os alunos estão juntos, não tem como não ter aglomeração", diz a professora.

Pais preferem manter isolamento

Professora grava aula para ensino à distância na rede escolar do DF - Divulgação/Secretaria da Educação do Distrito Federal - Divulgação/Secretaria da Educação do Distrito Federal
Professora grava aula para ensino à distância no DF
Imagem: Divulgação/Secretaria da Educação do Distrito Federal

Pesquisa realizada em maio pelo Sinepe-DF (Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal), apontou que 79% dos pais ou responsáveis eram favoráveis a possibilidade de manter seus filhos em casa após o reinício das aulas, recebendo as atividades remotas até se sentirem mais seguros.

Naquele mês, 65,1% dos responsáveis disse não estarem dispostos a enviar os filhos de volta às escolas ainda em junho. A pesquisa também mostrou que 71% dos responsáveis pelos alunos avaliaram positivamente as atividades remotas de educação desenvolvidas nesse período.

Sem vacina, precisa cuidado

O Consed, que reúne os secretários estaduais de educação, elaborou um protocolo de recomendações para a volta às aulas, com medidas voltadas para evitar a contaminação no ambiente escolar, de forma semelhante às adotadas pelo Distrito Federal.

O secretário de Educação da Paraíba, Cláudio Furtado, foi um dos coordenadores da frente de trabalho que elaborou as diretrizes do Consed. Ele afirma que um dos fatores mais importantes para decidir pelo momento do retorno à sala de aula é que o estado ou município esteja em declínio no número de novos casos e com a capacidade de atendimento preservada na rede de saúde.

"Jamais você pode usar desses protocolos se não houver segurança para esta volta", diz. "Porque enquanto não tiver vacina, você tem que ter cuidado", afirma Furtado.

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