Pandemia ainda afeta 4 a cada 10 estudantes no mundo, diz Banco Mundial
O fechamento parcial ou total das escolas devido à pandemia do coronavírus ainda afeta 720 milhões de crianças em todo o mundo. O número corresponde a 41% dos jovens em idade escolar.
As informações são do Banco Mundial, que divulgou um levantamento sobre a situação das escolas em 194 países na última terça-feira (19). Segundo a organização, em 72 deles as escolas estão fechadas. Nos outros 122, as unidades escolares estão abertas, mas com restrições.
Para a entidade, houve uma espécie de reversão no que vinha se consolidando como uma tendência pela reabertura das escolas devido à segunda onda da pandemia do coronavírus, e diversos países optaram por estender o período de férias "até que a nova onda seja administrável".
É o caso de países da Europa, que, em meio à descoberta da existência de variantes do Sars-CoV-2 que podem ser mais transmissíveis, passaram a reconsiderar a segurança da abertura das escolas. A Alemanha, por exemplo, permanecerá em lockdown rígido até 14 de fevereiro, e as escolas devem permanecer fechadas até lá —a orientação é para que seja mantido o ensino remoto.
No Reino Unido, que nos últimos dias tem registrado números recordes da pandemia, as escolas também deverão ficar fechadas e alunos de todas as etapas de ensino devem ter aulas à distância. Mesmo assim, filhos de trabalhadores essenciais e crianças em situação de vulnerabilidade poderão continuar frequentando as escolas de maneira presencial.
Desigualdade e planejamento
Claudia Costin, diretora do Ceipe (Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais) da FGV (Fundação Getulio Vargas) e ex-diretora de educação do Banco Mundial, destaca que mesmo nos casos de lockdowns mais severos houve preocupação por parte desses países com a desigualdade no acesso à educação.
"Ou seja, eles fecharam, mas mantiveram as escolas abertas para crianças que estão em situação de muita vulnerabilidade ou que não têm conectividade —o que nem sempre tem relação", afirma. "Há um olhar, que o nosso país não tem, para a questão da desigualdade."
Para ela, o fato de mais de 40% dos alunos de todo o mundo ainda serem afetados pela pandemia significa uma série de perdas importantes, sejam elas individuais (que dizem respeito ao direito de aprender) ou coletivas (ligadas à diminuição da desigualdade e ao crescimento da economia).
Gabriel Corrêa, líder de políticas educacionais do Todos pela Educação, diz que mesmo nos países onde foi necessário manter o fechamento das escolas não se deixou de planejar as medidas para uma eventual reabertura —o que, na avaliação dele, ainda precisa ser priorizado no Brasil.
"O mais importante nesse momento é que a gente esteja empenhado em abrir as escolas de forma segura, quando for possível. Os governos estão promovendo reformas, estão desenhando protocolos de segurança? Isso é muito importante", afirma.
Ele diz que não há uma resposta única para a questão das escolas no Brasil e defende que a educação seja encarada como um serviço essencial.
"Em lugares com curva muito acentuada, o correto é as escolas não estarem abertas, assim como nenhum outro setor, só os mais essenciais. O que não dá para acontecer é, quando começar a ter um controle da pandemia, outros setores serem abertos, e as escolas não", afirma.
Costin concorda com a necessidade de programação da reabertura das escolas e reforça a necessidade de acompanhamento dos indicadores da pandemia. "Não sou epidemiologista, então falo com cautela, mas a sensação que tenho é que, daqui para a frente vamos ter aberturas e fechamentos constantes. Não dá para se dar ao luxo de dizer 'só volto quando a pandemia não existir mais'", pontua.
Por isso, ela diz ser preciso que, além de garantir as condições sanitárias para o retorno, as escolas tenham maior agilidade para lidar com aberturas e fechamentos conforme for necessário. "É a maneira de olhar para a educação como um serviço essencial."
Em São Paulo, o governo João Doria (PSDB) anunciou uma mudança nos critérios de reabertura das escolas para permitir que colégios públicos e particulares recebam seus alunos presencialmente até mesmo na pior fase da pandemia.
A retomada presencial na rede estadual está programada para 1º de fevereiro, com rodízio de alunos e limite de 35% de ocupação nas escolas. A capital paulista também planeja a retomada presencial para fevereiro.
África e Ásia têm perspectivas de abertura
Há países europeus que decidiram autorizar a volta presencial de pelo menos parte dos alunos: na Itália, estudantes do ensino médio podem retornar à sala de aula pela metade do período regular. Já na Grécia, a prioridade é para os alunos da educação infantil e do ensino fundamental.
De acordo com o levantamento do Banco Mundial, a região da Europa e da Ásia central é a que tem o maior número de países com escolas abertas, mas com restrições: são 39 nessa situação. Na mesma região, outros 11 países estão com os colégios totalmente fechados.
Nos países asiáticos, de acordo com o relatório, as decisões sobre abertura ou fechamento das escolas têm sido diferentes: na Malásia, onde os colégios permanecem fechados desde outubro de 2020, a reabertura está programada para 20 de janeiro, apesar de um recente crescimento no número de infecções pela covid no país.
Já o Japão, que decretou estado de emergência na região de Tóquio no início de janeiro por causa da pandemia, decidiu manter as escolas abertas.
Na África, 24 países estão com as escolas fechadas e outros 24 estão com os colégios parcialmente abertos. Por lá, segundo o Banco Mundial, a perspectiva é de reabertura das escolas, que estão fechadas há mais de nove meses devido à pandemia.
Na região da América Latina, Caribe e América do Norte, 15 países estão com as escolas fechadas e outros 27 estão com os colégios abertos, mas com restrições.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.