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SP vai fazer mapeamento emocional de alunos e professores da rede estadual

Ana Paula Bimbati/UOL
Imagem: Ana Paula Bimbati/UOL

Ana Paula Bimbati

Do UOL, em São Paulo

20/05/2021 11h00

O governo de São Paulo vai fazer, neste ano, um mapeamento das habilidades socioemocionais (ou seja, para lidar com as emoções e os desafios do dia a dia) dos alunos e profissionais da educação. A pesquisa deve seguir o modelo de uma avaliação feita em novembro de 2019 apenas com estudantes da rede estadual —antes da pandemia do coronavírus.

O questionário para professores foi disponibilizado hoje. Os outros profissionais do setor terão acesso ao estudo no segundo semestre de 2021. "Não existe isso de você estar errado ou reprovado por dizer sobre tal competência. Será sobre a percepção [do aluno e do profissional]", afirmou o secretário estadual de educação, Rossieli Soares.

Soares disse que deve participar da autoavaliação, assim como todos os servidores da área.

No evento em que falou sobre o novo mapeamento, o secretário também anunciou que alunos dos anos iniciais serão incluídos no programa Inova Educação, que oferece disciplinas eletivas (matéria escolhida pelo aluno). Para estudantes do 1º ao 5º ano serão oferecidas aulas de inglês. A disciplina não é obrigatória nessa etapa.

A partir de 2022, os alunos poderão aprender o idioma junto do período da alfabetização. De acordo com o secretário, a pasta está contratando mais profissionais, mas ele não detalhou o número.

Alunos relataram falta de confiança e de curiosidade

A pesquisa sobre habilidades socioemocionais feita em 2019 apontou que estudantes do 5º e 9º ano do Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio não sentem confiança em outras pessoas. Participaram do levantamento mais de 110 mil alunos e 3,5 mil escolas da rede durante o Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), em novembro de 2019.

A pesquisa apontou que as habilidades socioemocionais podem colaborar, além do desempenho escolar, em aumentar o pertencimento escolar e reduzir a violência nas escolas. Caso um aluno, por exemplo, aumente sua percepção em uma competência como abertura ao novo de pouco desenvolvido para bem desenvolvido, ele pode ter um ganho de 5,5 meses de aprendizado em Língua Portuguesa, por exemplo.

Autovaliação de frases

Segundo o secretário Rossieli Soares, os alunos fizeram uma autoavaliação de frases como "acredito no melhor das pessoas" e "acredito que as pessoas nunca falam toda a verdade", indicando um grau de 1 a 5. A partir daí foi possível perceber que estudantes das diferentes etapas se identificam com baixa confiança nas outras pessoas ao longo da trajetória escolar.

Rossieli admitiu que o recorte sobre a confiança preocupa, mas ponderou que "é natural, existe uma tendência global, que tenha queda [dos níveis] no 9º ano, mas tem uma recuperação no Ensino Médio".

No 5º ano, 27,5% dos estudantes se autoavaliaram com baixa confiança, no 9º ano aumento para 38% e no Ensino Médio 39,9%.

Para a professora e presidente do CNE (Conselho Nacional de Educação), Maria Helena Guimarães, a percepção de baixa de confiança está relacionada a faixa etária do aluno.

"A criança do 5º ano tem confiança em si mesma, já o aluno mais velho passou por mudanças físicas, emocionais, que podem fazer com que ele perca isso à medida que cresce. Esse é um trabalho que deve ser feito inclusive no retorno das aulas presenciais e de formação dos professores para entender", apontou.

Curiosidade em aprender também preocupa

Além da confiança, a pesquisa, feita em parceria com o Instituto Ayrton Senna, trouxe a percepção —e não o desempenho— dos alunos sobre eles mesmos em itens como empatia, responsabilidade e curiosidade em aprender.

Nesta última habilidade, o dado obtido também preocupa. No 5º ano, 12,6% dos estudantes se perceberam "como pouco desenvolvido" em relação à curiosidade em aprender. Foram 13,4% no 9º ano e 8,8% na 3ª séria do Ensino Médio.

"Como ensinamos Matemática, Ciência se o foco, persistência e a curiosidade do aluno é baixa?", questionou Kátia Stocco Smole, conselheira do Conselho Estadual de Educação de São Paulo e diretora do Instituto Reúna.

Para a gerente executiva do EduLab21 do Instituto Ayrton Senna, Gisele Alves, quando um aluno se identifica como "pouco desenvolvido", ele está emitindo um sinal de alerta. "É uma autopercepção do estudante que reconhece que está com dificuldade de aplicar aquilo no seu dia a dia, é quase como um pedido de ajuda."

Kátia ressalta que, enxergar a "integralidade do aluno", ou seja, não só as habilidades cognitivas, conforme indica a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), é essencial, principalmente em um momento como o atual.

Temos meio ano pela frente de um ano muito atípico ainda. O desafio é voltar, organizar e apoiar as escolas para planejar olhar para o todo.
Kátia Stocco Smole, do Conselho Estadual de Educação de São Paulo e do Instituto Reúna

Questionado sobre dados que mostrem a atual situação dos alunos, no momento de pandemia, o secretário afirmou que será feito um novo estudo. "Na vida escolar, as competências socioemocionais podem melhorar o desempenho escolar e a pandemia traz novos desafios."

"Embora os dados sejam de 2019, na pré-pandemia, muito provável que esse mesmo tipo de percepção ocorra em 2020 com as escolas fechadas. É bastante possível que essa percepção dos alunos em relação a si mesmo, como veem a escola, os colegas, pode até de alguma maneira aparecer mais forte na volta às aulas", disse a presidente do CNE.

Autoconfiança requer atenção nas vítimas de bullying, diz estudo

A pesquisa também trouxe dados sobre o bullying nas escolas. Estudantes que sofreram algum tipo de violência responderam seis perguntas sobre ocorrências dos 30 dias anteriores à pesquisa. Já os chamados 'intimidadores', cerca de 10%, responderam uma pergunta sobre cometer bullying.

O resultado foi:

  • Aparência do corpo foi apontado como o principal tipo de bullying sofrido pelos alunos, seguido de aparência do rosto e cor ou raça.
  • A autoconfiança e a responsabilidade são as competências que pedem mais atenção das vítimas.
  • Já no caso dos intimidadores, é preciso olhar para tolerância à frustração.
  • Todas as séries tiveram um índice de mais de 30% dos alunos se identificando com baixo desenvolvimento nesta habilidade.