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Em ritmo lento, vacinação de professores em SP é alvo de críticas e dúvidas

Professora em 1º dia de volta às aulas em 2021 na Escola Estadual Raul Antonio Fragoso, em Pirituba, São Paulo - Rubens Cavallari/Folha
Professora em 1º dia de volta às aulas em 2021 na Escola Estadual Raul Antonio Fragoso, em Pirituba, São Paulo Imagem: Rubens Cavallari/Folha

Ana Paula Bimbati e Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

07/05/2021 04h00

Professores das redes públicas e privadas de São Paulo têm criticado a falta de previsão para as novas etapas de vacinação da covid-19. Sindicatos da categoria também têm questionado o recorte de idade usado pelo governo estadual para imunização. Os profissionais argumentam que é perigoso retomar as atividades presenciais sem a imunização.

"Eu e a maioria dos profissionais da educação acreditamos que a divisão por faixa etária não é justa, nem resolve o problema, pois todos somos convocados a trabalhar presencialmente", disse a professora Paloma França, de 40 anos. Ela decidiu não retornar para a aula presencial e acredita que o ideal seria a imunização para todos, sem recorte de idade.

A reivindicação pela universalização da vacina para categoria é comum entre os diferentes sindicatos e professores. Essa seria a condição mais segura, segundo eles, para o retorno presencial das aulas. No fim de semana, o UOL publicou que os profissionais da rede privada têm pressionado as escolas para continuarem no ensino remoto. Eles temem ser contaminados pelo coronavírus.

Paloma defende que quem recebeu a primeira dose não deveria estar em sala de aula, já que a imunização só acontece após a segunda dose. "Não houve qualquer adequação", disse.

Para uma professora de um colégio particular na zona sul, que pediu anonimato, a vacinação deveria priorizar profissionais da educação infantil e da fase de alfabetização, já que são os alunos com mais dificuldade no ensino remoto. Isso é o que também defende o presidente do Sinpro (Sindicato dos Professores de São Paulo), Luiz Antonio Barbagli.

"A maioria dos professores dessas etapas tem menos de 47 anos", justificou. Para ele, o governo estadual deveria começar a imunização para profissionais com mais de 30 anos. "Somos basicamente 30% dos profissionais com idade acima de 47 [na rede particular] e quem está nessa faixa etária são mais coordenadores e diretores, ou seja, pessoas que não têm vínculo tão direto com as crianças."

Nas redes pública e particular, somadas, os profissionais com mais de 47 anos representam 40% do total, segundo o governo estadual.

Como faz parte do grupo de risco, a professora Adriana Gomes, 46, não precisou retornar para o presencial, mas acredita que a vacinação acima de 47 anos também não resolveu o problema. "Além disso, o governo estadual ainda não apresentou o calendário de vacinação para as próximas faixas etárias. Não sabemos quando haverá vacinação para novos grupos."

A Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) enviou um ofício na quarta-feira (5) pedindo ao governo estadual explicações para as próximas etapas de imunização. "Por que aos policiais não teve divisão por faixa etária? Policial corre risco, mas e quem fica dentro de uma sala fechada?", argumentou a presidente da Apeoesp e deputada estadual (PT), Maria Izabel Noronha.

Em nota, a Secretaria Estadual da Educação informou que cerca de 320 mil profissionais da educação foram vacinados. Para essa primeira etapa, o estado vai imunizar 350 mil pessoas da área. Para receber a imunização, o profissional deve fazer um cadastro no site do governo e após análise, se estiver apto, receberá um email de confirmação com QR code.

Segundo levantamento feito pelo UOL, outros estados como Maranhão já tem cidades vacinando professores com 30 anos.

Falta de vacinas é entrave

Para o governo paulista, o principal problema é a falta de vacinas. A gestão de João Doria (PSDB) alega que entende as demandas da classe e, por isso, os professores fazem parte dos primeiros grupos profissionais a entrarem no cronograma, atrás de agentes de segurança e profissionais da saúde, por exemplo. Mas, diz a gestão tucana, como há escassez dos imunizantes, é preciso estabelecer prioridades.

De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, avalia-se risco, exposição e mortalidade. Na última quarta (5), com a conclusão dos idosos, o governo anunciou novos grupos prioritários na lista de imunização para maio.

Serão vacinados, a partir da semana que vem, pessoas de 55 a 59 anos com comorbidades relacionadas à doença e com deficiência da mesma faixa etária e grávidas e puérperas acima de 18 anos com comorbidades.

Também há uma questão logística. Os governos federal e estaduais têm sofrido pressões de diferentes setores para "furarem a fila".

Em São Paulo, os agentes de segurança somam 185 mil pessoas, incluindo policiais civis e militares e de penitenciárias. São 10 mil metroviários —que serão vacinados a partir do dia 11— e 165 mil motoristas e cobradores de ônibus (a partir do dia 18).

Já os profissionais da educação são, ao todo, cerca de 875 mil —dos quais 350 mil entraram para a primeira leva.

Gostaríamos de ter mais celeridade neste processo, mas precisamos de mais vacinas. O estado de São Paulo em números absolutos é o que mais vacina já estamos com todas as unidades, tanto de UBS [unidade básica de saúde] como no esquema drive-thru e continuaremos vacinando, mas precisamos de mais vacinas.
Regiane de Paula, coordenadora do PNE (Programa Estadual de Imunização), em coletiva na última quarta