Alunos pobres têm dobro de risco de serem reprovados na escola que ricos
Relatórios da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) divulgados hoje apontam que alunos pobres no Brasil têm duas vezes mais riscos de serem reprovados durante o Ensino Fundamental 2 do que estudantes ricos. O estudo, feito com o apoio técnico do Todos pela Educação e do Itaú Social, trouxe um panorama do cenário da educação no Brasil em relação a outros lugares do mundo.
Segundo a análise, alunos com "histórico socioeconômico mais baixo" têm 28% de probabilidade de ter repetido pelo menos um dos Anos Finais (6º ao 9º ano) contra 13% de riscos de estudantes ricos no Brasil. A média da OCDE —ou seja, dos 38 países que fazem parte da organização, é de 9% para alunos mais pobres e 3% para mais ricos. Os dados são de 2018, antes da pandemia de covid-19.
O estudo aponta que o Brasil tem problemas enormes na equidade da sua educação e isso se reflete nas diferentes condições que alunos têm. É uma questão regional, é uma questão para alunos pretos e pardos e para estudantes que estão em escolas que oferecem menor qualidade. Isso influencia o futuro."
Gabriel Corrêa, líder de políticas educacionais do Todos pela Educação
Além de diminuir a motivação do aluno que repete, o estudo aponta que a reprovação traz prejuízo aos cofres públicos e incentiva a evasão escolar. "Evidências de diferentes países estimam que a reprovação generalizada aumenta o custo geral do Ensino Fundamental e Ensino Médio em cerca de 5% no Brasil", diz o relatório.
O estudo aponta também que o Brasil deu "passos importantes" para mitigar os efeitos, como a meta 3.5 do Plano Nacional de Educação que prevê "manter e ampliar programas e ações de correção do fluxo do Ensino Fundamental". No entanto, o objetivo está longe de ser alcançado em 2024, conforme analisam especialistas.
Para a OCDE, levando em consideração os desafios impostos pela pandemia, estados e municípios podem estudar a implementação da progressão continuada (permitindo, por exemplo, a reprovação apenas no final de uma etapa escolar).
Quase metade dos adultos não concluiu o Ensino Médio
Em relação à evasão escolar, o estudo aponta que, em 2018, 47% das pessoas entre 25 e 64 anos não haviam concluído o Ensino Médio no Brasil. O número é mais do que o dobro da média da OCDE, que é de 22%. "Esse número reflete o descaso que o país teve com a Educação Básica por muitas décadas", aponta Corrêa.
Quando se fala da educação na pandemia, o líder de políticas educacionais do Todos pela Educação sugere que a evasão escolar seja um "tema prioritário na agenda de todos os gestores públicos". "Não podemos retroceder ainda mais nesse indicador."
Para Patrícia Mota, gerente de Desenvolvimento e Pesquisa do Itaú Social, o estudo traz experiências que o Brasil e estados podem se inspirar como a Busca Ativa Escolar, iniciativa da Unicef e outras organizações —em que o aluno é "buscado" pelos profissionais da educação. "O relatório aponta vários avanços, mas mostra como o impacto de investimento, se fosse maior, ajudaria o Brasil a enfrentar outros desafios."
O relatório traz também dados sobre a satisfação dos professores. Em 2018, menos de 20% dos educadores brasileiros se disseram satisfeitos com o salário. A média de países da América Latina é um pouco maior que 30% e dos países da OCDE de quase 40%.
Caminhos para melhoria da educação
Pensando no atual cenário e nos mais diversos desafios propostos pela pandemia do coronavírus, que provocou o fechamento das escolas brasileiras, os estudos apresentam experiências em que o Brasil pode se inspirar.
Entre as dez sugestões propostas pela OCDE estão:
- Proteger os gastos em educação,
- Oferecer apoio aos alunos que foram mais afetados pela covid-19 e
- Melhorar a gestão escolar.
"Tem um ponto transversal entre as ações propostas que é a necessidade de uma coordenação nacional. O Brasil tem o tamanho e uma complexidade gigantesca, precisamos de propostas educacionais e papéis claros", aponta Patrícia.
Para o Todos pela Educação, as sugestões trazidas pela OCDE mostram temas que estão fora da prioridade do governo federal. "Isso só demonstra um deslocamento e desconexão com as propostas que o governo defende e o que deveria ter como foco no Brasil", justificativa Corrêa.
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