Ouro em Olimpíada de Física quer usar medalha para estudar no MIT
Teve dias que descansar para o aluno Caio Augusto Siqueira da Silva, 17, se resumia a estudar física. Foram as 16 horas exclusivas durante alguns dias e a paixão pela disciplina que levaram o estudante a ganhar o ouro na Olimpíada Internacional de Física (IPhO, na sigla em inglês).
"Acordava, pegava um livro de física ou uma prova antiga para fazer os exercícios e conversava com o professor", conta Caio, sobre sua rotina antes do campeonato.
Aos três anos de idade, seu pai "brincava" com ele de fazer perguntas sobre matemática. "Quando eu tinha uns cinco anos, já respondia, por exemplo, quanto era três ao cubo."
E foi se "divertindo com a física" que Caio chegou ao primeiro lugar do campeonato numa disputa contra 380 jovens de 76 países. "Ele conseguiu ter uma nota de corte para ouro, ultrapassou essa nota e foi um 'ouro sobrando'. Superou todas as avaliações e foi a melhor nota do Brasil de toda a Olimpíada", conta o professor Ronaldo Fogo.
Ao todo, Caio acumulou 37,10 pontos de nota, em uma pontuação que vai de zero a 50. A nota de corte para ser um dos ganhadores do ouro deveria ser de 33,32. O Brasil participa do campeonato desde 2000.
O educador orienta alunos interessados em competir nas olimpíadas científicas no colégio Objetivo, em São Paulo. Depois de Caio vencer um campeonato, o professor perguntou em qual disciplina gostaria de se aprofundar. Ficou feliz com a escolha por física.
Agora, com mais uma medalha de ouro para coleção —já venceu o Campeonato Internacional de Ciências, o Brasileiro de Física e o Brasileiro de Ciências—, Caio quer cursar ciências da computação fora do país. "Aprendi como estudar e sei do que gosto de aprender, que é a programação. As medalhas servem como uma atividade extracurricular e faz com que as universidades me enxerguem como um dos melhores", explica.
Como está na 3ª série do ensino médio, usará os próximos meses para saber sobre as possibilidades de entrar no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA.
Já para a USP (Universidade de São Paulo) no curso de física, disse acreditar que "seria direto", já que a entidade oferece bolsas para vencedores de campeonatos. "Preciso descobrir minhas chances reais e me preparar para os próximos anos", conta.
Na física, você resolve uma situação que existe na vida real. É um prazer resolver um teorema e a área de exatas para mim é mais interessante do que geografia, por exemplo, em que tenho mais dificuldade.
Caio Augusto Siqueira da Silva, medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Física
Fogo concorda com o aluno e diz que ele está pronto até mesmo para entrar no 3º ano de graduação direto. "O nível de conhecimento que o Caio tem hoje já o leva direto para começar uma iniciação científica."
Para o professor, as universidades públicas deveriam estar de olho em brasileiros que se destacam em campeonatos como esse. "Já fui em muitas edições e é comum ter olheiros de universidades como MIT, Priceton, oferecendo bolsas de estudo de US$ 70 mil anuais", diz.
Segundo ele, as universidades sabem que esses são os futuros vencedores do Prêmio Nobel e também os responsáveis por criar patentes importantes. "As universidades brasileiras precisam fazer um contra-ataque e deixar as portas abertas para esses alunos. É um desperdício perder talentos como Caio para outros países."
As provas
Caio descreveu as provas da Olimpíada como uma "injeção que dói muito, mas depois a sensação é que durou dois segundos". Na primeira etapa, a avaliação é teórica e depois experimental.
O estudante conta que precisava resolver teoremas dentro de um circuito eletrônico, por exemplo. "O difícil era entender a prova mesmo. Você lê a primeira questão, difícil, aí vai ler o guia e continua complexo. Gastei de uma a duas horas lendo a prova toda até entender", explica.
A preparação de alunos que desejam se aventurar em olimpíadas como essa, explica o professor Ronaldo Fogo, envolve se aprofundar em temas que só são vistos na universidade.
"Montamos todo um planejamento, porque o estudante que decide se dedicar precisa estudar muito, ler livros em inglês, em literatura estrangeira, mas esse tipo de desafio incentiva também", conta.
Universidades brasileiras têm vagas para medalhistas
O UOL procurou as sete melhores universidades brasileiras, que aparecem em diferentes rankings, para saber se existem programas de acesso para medalhistas como Caio.
A Unicamp (Universidades Estadual de Campinas) foi pioneira na oferta de vagas olímpicas entre as instituições públicas paulistas. Para o vestibular de 2022, a instituição informou que serão abertas em 16 de novembro deste ano. Serão oferecidas 120 vagas.
Já Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) informou que tem uma modalidade de ingresso via olimpíadas científicas ou do conhecimento desde 2019. Nos últimos dois anos foram 195 vagas adicionais, além das disponibilizadas no processo seletivo padrão.
Em 2019, a USP (Universidade de São Paulo) também abriu vagas para essa modalidade para entrada em 2020. Dos mais de 1.500 inscritos, 81 alunos foram classificados. Por causa da pandemia, a instituição não abriu vagas para este ano.
As universidades federais do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro disseram que não têm esse formato. As federais de São Paulo e Minais Gerais não responderam às perguntas até a última atualização desta reportagem.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.