Talibã, Taleban ou Talebã? Tem um jeito certo de escrever o nome do grupo?
Vinte anos após serem expulsos do poder por forças ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos, o grupo extremista Talibã tomou controle de quase todo o Afeganistão e voltou à capital, Cabul, no último dia 15.
A imprensa e o público em geral escreveram o nome do grupo fundamentalista de vários jeitos diferentes: Talibã, Taleban e Talebã. Existe uma forma certa de escrever o termo em português?
O professor Paulo Daniel Elias Farah, da área de língua e literatura árabe da USP (Universidade de São Paulo), explica que o termo vem da língua pachto e é escrito em caracteres árabes.
"A língua pachto utiliza o alfabeto árabe com algumas letras a mais para a sua escrita. O alfabeto árabe é o segundo mais utilizado no mundo, especialmente na África e na Ásia. Isso é importante de dizer porque, para essas transliterações, em português ou para outras línguas, a primeira questão é lembrar que você escreve em caracteres latinos um nome que, originalmente, não está registrado em letras latinas", diz.
É por isso que se pode escrever o mesmo nome de formas diferentes. Como é originário de outro alfabeto, no momento de fazer a mudança para outra língua, existem muitas variações.
Além disso, o professor explica que a palavra vem do termo árabe Talib (que significa "aquele que pede conhecimento", muito usado para se referir a "estudante"). O plural em árabe é Tullab. Mas o pachto pegou o termo do árabe e fez um plural adaptado à estrutura do pachto. Sendo assim, o termo significa "estudantes".
Sobre o final da palavra, Farah diz que a terminação da palavra pode ser com "an" ou com "ã". "O 'an' seria a forma mais próxima da pronúncia original. Então ficaria Taleban. Você não tem uma nasalização no término dessa palavra. No português, a tendência é fazer uma nasalização. Esse 'ã' é muito comum em português, portanto não está errado", diz.
"Têm essas formas de adaptação. Não é uma questão de correto ou incorreto. É uma questão de se lembrar, primeiro, que se trata de outro alfabeto e, quando vem para o alfabeto latino, como fazer essa representação. Então, o 'an' no final é o mais próximo à pronúncia original, e o 'ã' é possível porque nós temos muitos casos assim", constata.
Como exemplo, ele fala sobre muitos nomes de países que, ao passarem para o português, mudam. Ele cita como exemplos Irã, Afeganistão e Uzbequistão. "Essa é uma adaptação muito comum em português para essas palavras que terminam com 'm' ou com 'n'", explica.
Já sobre a vogal usada no meio do termo, pode ser um "e" ou um "i". "Em pachto, assim como em árabe, você não grafa essa vogal. As vogais breves não são escritas. A gente escreve as vogais longas. Justamente por isso, há uma fluidez maior entre as vogais. Não há uma diferença tão marcada como em português. A vogal breve não tem essa fronteira tão marcada", diz.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.