"Precisamos buscar alunos que estão fora da escola", diz chefe do Unicef
A volta às aulas quase dois anos de pandemia de covid-19 trouxe um desafio para o Brasil: levar criança e adolescentes de volta para a escola. O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) atua na busca desses estudantes que deixaram a escola em 2020 e 2021.
A busca ativa do Unicef por esses alunos ocorre hoje em 3.142 municípios do país. O programa já existia antes da pandemia, mas "passou a ser ainda mais fundamental nesse contexto", diz Bauer. De acordo com ela, no período da pandemia, essa busca ativa já reintegrou mais de 80 mil crianças e adolescentes que voltaram para a escola.
"É fundamental a volta às aulas presenciais de forma imediata, mas precisamos buscar os alunos que estão fora da escola e trazê-los de volta", ressalta a representante do Unicef no Brasil.
Por falta de uma pesquisa nacional atualizada, Bauer avalia que o país ainda não sabe quantas crianças e adolescentes deixaram a escola durante a pandemia e não voltaram em 2022. "O último dado que temos é de novembro de 2020, e mostrava que havíamos retrocedido duas década [em número de alunos na escola]", diz.
Pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pelo C6 Bank, indica que, em 2020, 8,4% dos estudantes com idade entre 6 e 34 anos matriculados antes da pandemia abandonaram a escola por questões ligadas principalmente a finanças e falta de acesso a aulas remotas.
Para ela, é necessário que todos os níveis de governo —municipal, estadual e federal— se unam e se ajudem na missão de "resgatar" alunos que deixaram a escola para trás.
As crianças e adolescentes sofreram muito no período de pandemia, e isso trouxe um impacto profundo na educação delas, na aprendizagem. Tivemos crianças que deixaram de ter vínculo com a escola. Também teve impacto na saúde mental, em uma maior possibilidade de violência, ou seja, de situações que afetam crianças e adolescentes."
Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil
Outro ponto que ela destaca como fundamental é o acolhimento dentro da escola, já que o nosso país foi um dos que mais demorou a voltar às atividades presenciais.
"O Brasil foi um dos países que deixou as escolas fechadas por mais tempo, e isso teve um impacto profundo no aumento da desigualdade. Aquelas que foram mais afetadas foram as crianças mais vulneráveis, e nós temos de acolher e ter todo um cuidado especial para recuperar todo tempo perdido. E para isso é preciso um apoio pessoal, particular a cada uma delas", diz.
Levantamento do Unicef em abril de 2021, mais de um ano após o início da pandemia de coronavírus, apontou que apenas 73 países não haviam retomado as aulas presenciais —o Brasil era um deles. Depois disso, muitos estados ainda mantiveram as unidades de ensino fechadas e as atividades remotas, o que prejudica quem não tem acesso a computadores, por exemplo.
No Brasil, como o ensino fundamental é de responsabilidade dos municípios e o ensino médio, dos estados, não houve uniformidade. Em julho de 2021, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, fez pronunciamento pedindo que as aulas presenciais voltassem de forma imediata. Naquela data, 12 estados haviam reaberto as escolas públicas; os outros 15, não.
Alagoas, por exemplo, retornou às aulas presenciais apenas na última segunda-feira (7). Este ano, no estado, houve um número de matriculados 30% maior do que em 2021, alcançando 180 mil estudantes. Para ter o aluno de volta, o estado dá uma bolsa-retorno de R$ 500 aos alunos do ensino médio e EJA (educação de jovens e adultos) médio que estão com esquema vacinal completo. Outros estados também ofereceram benefícios.
Florence Bauer ressalta que as populações mais prejudicados pela suspensão das aulas presenciais são aquelas que já eram mais vulneráveis antes da pandemia e vivem em pobreza.
"Os grupos mais afetados foram os mais vulneráveis, que no Brasil são aquelas populações pretas, pardas, indígenas, afastadas dos centros, as populações que vivem em domicílios sem acesso à internet, por exemplo. Há casos em que os pais perderam os seus empregos, e aí fica ainda mais difícil acompanhar as aulas. O impacto também é desigual", diz a líder do Unicef.
Com a pandemia, o Brasil atingiu o maior patamar, desde 2012, de crianças de 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever. No ano passado, chegou a 40,8% a fatia da população dessa faixa etária que não havia sido alfabetizada —o equivalente a 2,4 milhões, de acordo com levantamento da ONG Todos pela Educação, com base na Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
As crianças e adolescentes já pagaram um preço muito alto. As respostas à pandemia foram muito mais pensadas para resolver o problema dos adultos, do que o das crianças. Então esse é o momento de reverter isso."
Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil
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