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Operações no RJ estão prejudicando crianças, diz diretora do Fogo Cruzado

Do UOL, em São Paulo

11/02/2022 14h05Atualizada em 11/02/2022 16h39

Para a jornalista Cecília Olliveira, fundadora e diretora do Instituto Fogo Cruzado, operações policiais como a que ocorreu hoje no Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, estão prejudicando o futuro dos estudantes do ciclo básico de ensino.

"A gente está prejudicando o futuro dessas crianças só para poder prender uma pessoa", afirmou Cecília Olliveira em entrevista ao UOL News - Tarde, programa do Canal UOL.

A fala da diretora do Fogo Cruzado veio no contexto de, hoje, ter sido deflagrada uma operação conjunta da Polícia Militar do RJ e da PRF (Polícia Rodoviária Federal) na Vila Cruzeiro, favela no Complexo da Penha, na zona norte da capital fluminense.

Segundo a PM, oito pessoas morreram, por ora, no contexto da operação, que segue em andamento e tem como principal objetivo a prisão de Chico Bento, uma das lideranças da organização criminosa CV (Comando Vermelho) na comunidade do Jacarezinho.

Por causa da ação da PM e da PRF, ao menos 5,7 mil alunos ficaram sem aulas na região. 17 escolas da rede municipal de ensino localizadas no Complexo da Penha não abriram hoje.

As atividades escolares nestas escolas haviam sido retomadas na última segunda-feira (7) — ou seja: por causa da operação, não foi possível aos alunos completarem a primeira semana de aula do ano letivo.

"Não tenho coragem de botar o pé para fora de casa. É só esperar as aulas começarem que começam as operações. É impressionante isso", disse ao UOL, pedindo anonimato, uma moradora da Vila Cruzeiro.

Em 2019, três em cada quatro escolas municipais do Rio vivenciaram ao menos um tiroteio nos arredores da unidade, segundo levantamento do CESeC (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania).

O levantamento também identificou que 332 escolas do Rio tiveram o funcionamento afetado por ao menos uma operação policial ao longo de 2019, com impactos nos aprendizados esperados para língua portuguesa e matemática entre os estudantes.

Para Cecília Olliveira, "a gente precisa mudar o modo como se trabalha" e passar a "agir com inteligência", de modo a "não comprometer o futuro das nossas crianças".

"É assim (com operações policiais em comunidades) que perdemos pessoas como o João Pedro, a Kathlen e a Ágatha", afirmou. "As operações continuam no mesmo formato há décadas. É difícil esperarmos um resultado diferente", pontuou.