'Iti malia'! Professora conta história de foto de formatura que viralizou
De beca azul em uma canoa: a imagem da formatura de cinco crianças em Abaetetuba, no interior do Pará, viralizou nas redes sociais. Os comentários destacaram a fofura das crianças e a dedicação dos professores, em meio a condições adversas.
Os alunos que aparecem na imagem são da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental 8 de dezembro, situada às margens do rio Acarajó.
Ao UOL, a professora que idealizou o registro, no fim do mês passado, conta que o ensaio foi feito após uma "vaquinha" entre docentes do colégio e que a canoa faz parte da identidade e da rotina das crianças ribeirinhas.
A foto é de Danúbia Rodrigues, uma fotógrafa amadora, convocada pela professora Regina Maciel, de 38 anos. A ideia de usar a canoa surgiu de repente, enquanto a turma fazia as fotos da formatura dentro da escola.
"Estávamos fazendo as fotos com as crianças com o fundo branco, para elas levarem de recordação, quando vi que havia uma canoa parada na frente e tive a ideia de usá-la também. As crianças adoraram, até porque é uma coisa que faz parte do dia a dia delas."
Na imagem, estão retratados os alunos Kelvin, 5, Luan, 6, Lanna Sofia, 7, Daniel, 6, e Adriano, 6 — na ordem em que aparecem na foto. Eles foram os únicos que se formaram na educação infantil este ano.
"Como trabalhamos com turmas multisseriadas, este ano só havia esses alunos para a formatura", explicou a professora.
Empolgadas com a novidade, as crianças ajudaram na produção da imagem.
Não tinha banco para que todas sentassem e um deles foi atrás de uma tábua para participar
O registro foi feito de um Iphone e o ensaio custou R$ 150 — valor pago em coleta entre Regina e outras duas professoras, Cléa Afonso e Leocilene Ferreira.
Como o meu telefone não faz fotos boas, resolvemos chamar essa moça que faz foto na região. Ela fez um preço menor para realizar o ensaio
Sacrifício para estudar
Regina trabalha há 18 anos na escola, que tem hoje 30 alunos, divididos em duas turmas.
Moradora de Igarapé-Miri, município vizinho, a professora se desloca todos os dias de rabeta, uma pequena embarcação com motor comum nos rios da Amazônia. A viagem dura cerca de 30 minutos até a escola.
O transporte é o mesmo usado por parte dos estudantes, mas alguns pais ainda preferem usar as canoas a remo para levar os alunos à escola — o que torna o caminho mais longo e cansativo.
"A gente queria refletir a realidade desses alunos. Mesmo tendo transporte escolar, muitos pais preferem levá-los nos cascos (canoas) pelo fato de serem muito pequenos. Isso faz parte da realidade deles, remete a todo sacrifício que essas crianças fazem saindo cedo de casa para estudar", diz a professora.
Queria valorizar o esforço deles. Mostrá-los de beca na canoa demonstra que eles podem ter um futuro
Ela também diz que a casa de madeira onde funciona o colégio ainda tem pouca estrutura e problemas como paredes com cupim e goteiras.
"A situação é muito difícil. Fizemos até uma coleta para cobrir as paredes com TNT para tornar o espaço atrativo para as crianças", diz Regina.
"Quando percebi que a foto repercutiu desse jeito, vi uma esperança. Quero que as crianças tenham uma estrutura melhor, porque merecem muito."
A reportagem procurou a prefeitura de Abaetetuba e aguarda manifestação.
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