Oração do Pai-Nosso é sempre igual? Católicos e evangélicos rezam diferente
Seja na igreja, em um vestiário de futebol antes de uma partida ou em uma nota de separação publicada no Instagram, como no caso do ator Duda Nagle, o Pai-Nosso é a oração mais conhecida do cristianismo. Católicos, protestantes, ortodoxos e espíritas kardecistas recitam a "oração que Jesus nos ensinou".
Origem judaica
Na Bíblia, o Pai-Nosso aparece duas vezes: no Evangelho de Mateus e no de Lucas. Em ambas, Jesus aparece ensinando seus discípulos a orar. No entanto, essa oração tem uma origem que precede Jesus e o Novo Testamento.
Jesus não era cristão, mas judeu. E foi justamente dentro da tradição judaica que ele se inspira na criação do Pai-Nosso. "É natural que Jesus, sendo judeu, tenha se familiarizado muito com as ideias e as próprias verbalizações da liturgia na sinagoga. Até porque Jesus participava da sinagoga", explicou o pesquisador Donizete Scardelai, doutor pela USP e professor de Teologia na PUC-Campinas.
Essa origem judaica se comprova, por exemplo, na semelhança que há entre o Pai-Nosso e a Amidá, ou Oração das 18 Preces, central da liturgia judaica.
"Se a gente pensar no Pai-Nosso, a palavra pai aparece muitas vezes no Antigo Testamento. Isso porque os judeus consideram Deus como pai e Deus considera os judeus como seus filhos. Isso já era muito comum nas orações judaicas", contou Scardelai.
Sete petições
Ao analisarmos o Pai-Nosso, são feitos sete pedidos a Deus. Esse número, na Bíblia, significa plenitude daquilo que o homem precisa.
Os três primeiros têm relação com o reino de Deus:
- "santificado seja o Vosso nome";
- "venha a nós o Vosso reino";
- "seja feita a Vossa vontade".
Já os quatro últimos pedidos são relacionados à vida do ser humano:
- "o pão nosso de cada dia nos dai hoje";
- "perdoai nossas ofensas (ou dívidas)";
- "não nos deixeis cair em tentação";
- "livrai-nos do mal".
Todos esses pedidos são votos e anseios de caráter positivo endereçados a Deus.
Donizete Scardelai
A oração que Jesus nos ensinou
Na tradição católica, o Pai-Nosso está no centro das Sagradas Escrituras e é a oração do Senhor. Não é à toa que o Pai-Nosso é rezado em todas as missas.
Já para os protestantes, o Pai-Nosso até pode ser rezado na íntegra — e muitas denominações de fato rezam em suas liturgias —, mas está mais para um guia de como orar.
"Jesus não ensina uma fórmula, mas sim como se dirigir a Deus. Ao longo da história, essa oração foi tomada dos evangelhos para fazer parte da liturgia. Por isso que, na missa, rezamos a oração do Pai-Nosso no final", disse Scardelai.
Perdoai as dívidas ou as ofensas?
Existem diversas versões e traduções do Pai-Nosso. Na Igreja Católica, usa-se a segunda pessoa do plural (vós) e a expressão "perdoai nossas ofensas". Já no protestantismo, reza-se utilizando a segunda pessoa do singular (tu) e a expressão "perdoai nossas dívidas".
Tanto o uso de dívidas quanto o de ofensas vem de diferentes traduções e não podem ser consideradas erradas. No Brasil, a Igreja Católica usava "dívidas" até o Concílio Vaticano 2º, quando mudou para "ofensas".
Outra diferença se dá no final da oração. Os protestantes, entre eles os evangélicos, terminam com "pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre", frase que não aparece em versões católicas da Bíblia. É provável que tenha sido um acréscimo feito por copistas e não tenha sido escrita por Mateus.
Ainda assim, é necessário ressaltar que, no uso litúrgico do Pai-Nosso dentro da Missa, após o "livrai-nos do mal", o sacerdote reza uma prece em nome da assembleia, que responde, ao fim, "vosso é o Reino, o poder e a glória para sempre".
Outras curiosidades
O Pai-Nosso já foi usado até como medida de tempo. Muito antes dos cronômetros na cozinha, cozinheiros utilizavam a oração para poder saber o tempo que determinado alimento deveria ficar no fogo.
A oração também já virou algumas músicas. Liszt, Tchaikovsky e Verdi são só alguns dos compositores que já musicaram o Pai-Nosso.
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