O que aconteceu na Sexta-Feira Santa? Qual o significado para a igreja?
As famílias católicas mais tradicionais comem peixe na Sexta-Feira Santa. Muitos adotam a tradição, porém, sem entender o significado e a origem da data.
Embora a Sexta-Feira Santa esteja ligada ao domingo de Páscoa, as datas têm origens e significados diferentes para cristãos e judeus:
Para os seguidores de Jesus Cristo, a Sexta-Feira Santa é o dia em que o Filho de Deus teria sido crucificado e morto. E a Páscoa, para os cristãos, celebra a ressurreição de Jesus.
Os judeus, por sua vez, celebram apenas a Páscoa. Chamado também de "Pessach", o feriado relembra a liberação do povo judaico da escravidão no Egito.
Como surgiu a Sexta-Feira Santa?
A Sexta-Feira Santa está dentro da chamada Semana Santa, em que os católicos celebram a última semana de Cristo. A ordem é a seguinte:
Tudo começa no Domingo de Ramos, que é no domingo antes do domingo de Páscoa e marca a entrada de Jesus em Jerusalém.
A quinta-feira é o dia da Última Ceia de Jesus e quando ele lavou os pés dos discípulos.
Na sexta-feira, houve a crucificação.
No domingo, é a ressurreição.
Vale lembrar que o próprio Jesus era judeu; portanto, celebrou a Páscoa dentro do contexto judaico. É com Jesus Cristo que começa a tradição da Semana Santa, que não existia antes dele.
A forma de relembrar os últimos passos de Jesus na Terra, isto é, a Semana Santa, a Sexta-Feira Santa e o domingo de Páscoa mudou ao longo do tempo.
Os primeiros cristãos costumavam celebrar tudo de uma vez só, aos domingos, como a Páscoa.
A partir do século IV os cristãos que viviam em Jerusalém desejaram celebrar de forma separada. Foi assim que tivemos as primeiras organizações no calendário de semana santa como é até hoje.
Todos os anos, a data em que o domingo de Páscoa - e, consequentemente, a Sexta-Feira Santa - ocorre é diferente. Isso ocorre porque a data é atrelada a eventos naturais - entenda o cálculo da data da Páscoa.
Sexta-Feira Santa é dia de peixe?
Esse intervalo de datas faz com que os católicos mais tradicionais possam se preparar para ficar sem carne em dois dias específicos: a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-Feira Santa.
A partir do momento que virou religião oficial no Império Romano, os cristãos eram batizados na Páscoa e os dias anteriores eram de preparação. E a sexta virou um dia de reflexão, de jejum. Depois isso passa a valer para todos os cristãos e, neste momento vem a abstinência de carne.
Engana-se quem pensa que tem a ver com o corpo de Cristo ou algo assim. Segundo os padres consultados pela reportagem, a abstinência de carne é simplesmente uma questão de praticar a caridade.
A carne sempre foi um alimento caro e, por meio da abstinência, a pessoa era levada a colocar em prática a caridade e a ajudar outras pessoas.
Hoje em dia vive-se uma realidade que o peixe não é barato, mas há a tradição que, deixando de lado a carne, opta-se pelo peixe e pelo ovo.
A privação de carnes deve vir aliada, portanto, à reflexão e não somente a restringir o cardápio. Neste sentido, a igreja orienta em relação ao jejum e abstinência, mas também a colocar em prática a caridade, a oração e um pouco mais de silêncio e recolhimento, contendo um pouco a euforia.
Alguns transformaram a Sexta-feira Santa em uma peixada, dia de comer peixes nobres. Temos é de fazer a lembrança, reflexão espiritual. É um dia para que o corpo reze. Enquanto padre, sempre recordo que não é o dia da peixada. É dia de comer pouco.
Anderson Batista Monteiro, padre e professor do departamento de Teologia da PUC-RJ
Mas caso a pessoa coma uma carne que não seja peixe na Sexta-Feira Santa, há problema?
Alguns vão achar que é pecado; outros não. É um costume, uma orientação. Não está nos 10 mandamentos, mas é uma norma que quer favorecer a espiritualidade. É um dia de jejum, abstinência de carne. E o jejum entendemos que seja café da manhã simples, um almoço simples e um jantar simples ou algum lanche, uma quantidade menor.
Anderson Batista Monteiro
Fontes: Anderson Batista Monteiro, padre e professor do departamento de Teologia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro. Fabio de Souza Balbino, padre e professor do departamento de Teologia da PUC-Rio.
*Com informações de texto publicado em 06/04/2023
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