Quem foi Carlos Marighella, foco de denúncia contra agentes da ditadura

Quatro ex-agentes da ditadura militar acabam de ser denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) por envolvimento no assassinato de Carlos Marighella. Um dos principais nomes da luta armada contra o regime instaurado no Brasil em 1964, ele foi morto a tiros em São Paulo, no dia 4 de novembro de 1969, vítima de uma emboscada que teria mobilizado quase 30 oficiais ligados ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops).

Amador Navarro Parra, Djalma Oliveira da Silva, Luiz Antônio Mariano e Walter Francisco devem responder por homicídio qualificado. O processo envolve ainda um quinto homem, Harry Shibata, ex-integrante do Instituto Médico Legal, acusado de falsidade ideológica — um dos responsáveis pelo laudo necroscópico, ele teria omitido informações que comprovariam as reais circunstâncias nas quais Marighella perdeu a vida.

A história de Carlos Marighella

Nascido em Salvador, Bahia, em 5 de dezembro de 1911, Carlos Marighella é um dos sete filhos do imigrante italiano Augusto Marighella, um operário metalúrgico, mecânico e motorista, com a ex-empregada doméstica Maria Rita do Nascimento.

Incentivado pelo pai desde cedo para se dedicar aos estudos, Carlos cresceu cercado de livros, e chegou a iniciar a formação em Engenharia Civil em 1929 —curso que foi sua porta de entrada para a militância.

Nessa época, ele começou a se envolver com política e causas sociais, reivindicando por uma Constituinte democrática no país, logo após a Revolução de 30. Foi preso pela primeira vez em 1932, pelas tropas do interventor Juracy Magalhães, nomeado pelo presidente Getúlio Vargas. Na ocasião, Carlos compôs um poema contra o militar. Depois que foi solto, prosseguiu em suas lutas, até que em 1934 resolveu abandonar a faculdade para se dedicar integralmente aos movimentos políticos.

Naquele ano, Carlos se filiou ao PCB (Partido Comunista Brasileiro) e se tornou militante em tempo integral. Ele se mudou para o Rio de Janeiro e ficou responsável pela reorganização e divulgação do partido.

Em 1936, foi preso pela segunda vez, por subversão, sendo torturado pela polícia de Filinto Müller. Ele foi solto sob a "macedada", uma medida assinada pelo ministro da Justiça José Carlos de Macedo Soares, que determinou a soltura de todos os presos políticos sem condenação.

Ao sair da prisão, Marighella entrou para a clandestinidade, e acabou capturado novamente em 1939. Desta vez, ele ficou seis anos na cadeia, e só foi solto em 1945, com o fim do Estado Novo.

Deputado Federal e ativismo

Em 1946, Carlos Marighella teve uma passagem pela política institucional, e foi eleito deputado federal constituinte. No entanto, perdeu o mandato dois anos depois, já que o PCB foi colocado na clandestinidade pelo presidente Gaspar Dutra.

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A partir de então, o guerrilheiro passou a ocupar diversos cargos dentro de organizações revolucionárias de esquerda ou ligadas ao comunismo. Ele atuou em lutas sindicais e se aproximou da classe operária, chegando a passar um período na China, entre 1953 e 1954, para conhecer de perto a revolução comunista no país.

Anistia

Carlos Marighella recebeu anistia póstuma em 2012, em uma portaria publicada no dia 9 de novembro daquele ano no Diário Oficial da União após apurações da Comissão da Verdade. Antes disso, o Estado já havia reconhecido em 1996 a autoria da sua morte.
Sua companheira, Clara Charf, passou a receber uma pensão vitalícia do governo brasileiro em 2008, apesar de a família não ter solicitado reparação econômica, apenas o reconhecimento da perseguição política.

Com informações de 04/11/2021

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