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MPE obriga faculdade da USP a esvaziar sala do Show Medicina

Em São Paulo

08/03/2016 13h15

O Ministério Público Estadual (MPE) mandou a Faculdade de Medicina de São Paulo (FMUSP) esvaziar a sala onde estava instalado o Show Medicina na instituição na última semana.

O evento, uma espécie de teatro com sátiras entre estudantes criado em 1944 e realizado no anfiteatro da faculdade, foi alvo de investigações de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em 2014 e acabou impedida de ser realizada dentro da USP, após recomendação do MPE.

Conforme mostrou o jornal O Estado de S. Paulo em fevereiro, o Show Medicina teve espaço para divulgação do evento na FMUSP durante a recepção dos calouros, ainda sem data e local para ocorrer. Além disso, uma área do Centro Acadêmico dos alunos era disponibilizada como depósito do Show.

Para o MPE, a utilização do espaço descumpriria o termo de ajustamento de conduta firmado com a universidade no ano passado. Além da suspensão do evento dentro da FMUSP, a recomendação do MPE previa a abertura de sindicância administrativa para apurar eventuais abusos que teriam ocorrido no show, ação que a universidade não confirma se fez ou não.

Na semana passada, a faculdade recebeu a visita de duas promotoras de Justiça, Beatriz Helena Budin Fonseca e Silvia Chakian. A visita foi acompanhada pela direção da unidade.

Elas enviaram um ofício à universidade pedindo explicações sobre o uso do espaço e pediram que a sala fosse esvaziada. De acordo com estudantes, a porta do local precisou ser arrombada para a retirada dos pertences, já que a faculdade não dispunha da chave. "Tinha uma sala que estava sendo ocupada pelo Show e isso não pode. Reforçamos o teor integral da recomendação e foi pedido esclarecimento da diretoria", declarou Silvia à reportagem.

Denúncia

O Show Medicina foi denunciado por alunos da instituição em 2013, após supostos casos de violação aos direitos humanos e humilhações aos participantes.

"Ficou apurado que, para integrar o Show Medicina, os interessados passam por um ritual composto de trotes violentos e humilhantes, com forte assédio moral, sexual, além de violência física e noitadas com prostitutas", escreveram as promotoras Beatriz Fonseca e Silvia Chakian de Toledo Santos, responsáveis pelo inquérito civil.

Ainda segundo o inquérito, "a permissão de uso foi concedida sem qualquer apuração dos fatos constatados no relatório da Assembleia Legislativa e sem a garantia da efetiva modificação da cultura de violência praticada pelo grupo, consistente na prática de violência física, moral e sexual, bem como na imposição da submissão e humilhação àqueles que pretendem integrar a associação", diz o texto da recomendação.

"Tradicionalmente, somente os homens podem participar da atividade (processo criativo e apresentação), reservando-se às mulheres a costura dos figurinos, em espaço segregado. Os homens não podem participar da costura e as mulheres estão impedidas de participar do evento", diz o texto.