Diretas Já - Campanha deu impulso à redemocratização do país
Entre os últimos meses de 1983 e abril de 1984, o Brasil foi agitado por um dos maiores movimentos cívicos de sua história: a campanha das "Diretas Já".
Grandes manifestações populares aconteceram em todo o país, reivindicando o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República, que haviam sido substituídas por um pleito indireto no Congresso nacional durante o regime militar.
A ideia de que o processo de redemocratização da sociedade brasileira só se concretizaria com o retorno imediato das diretas foi lançada pelo senador alagoano Teotônio Vilela, do PMDB, em 1983.
Teotônio tornara-se um símbolo dos ideais democráticos, uma vez que, tendo sido partidário dos governos militares, aderiu à oposição e presidiu a comissão parlamentar que discutiu a anistia aos opositores presos ou exilados do regime.
O senador visitou pessoalmente presos políticos em todo o país, num momento em que isso ainda representava um ato de coragem e rebeldia. Sua morte, devida a um câncer generalizado, em 27 de novembro de 1983, coincidiu com o primeiro grande comício da campanha, que reuniu 15 mil pessoas na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, na cidade de São Paulo.
Emenda Dante de Oliveira
O movimento ganhou um objetivo concreto quando o recém eleito deputado federal Dante de Oliveira, do PMDB de Mato Grosso, começou a recolher assinaturas no Congresso nacional para a apresentação de uma Proposta de Emenda Constitucional restabelecendo as eleições diretas. A proposta da emenda, que passou a ser conhecida pelo nome do deputado, vingou e teve sua votação marcada para 25 de abril de 1984.
A partir daí, a campanha ganhou as ruas, arregimentando um número crescente de partidários em todo o país, nos mais diversos setores da sociedade. Reuniram-se lideranças políticas, sindicais, eclesiásticas e estudantis.
Vários artistas, jogadores de futebol e jornalistas aderiram ao movimento, fazendo-o ganhar cada vez mais simpatizantes entre as camadas populares.
Entre as lideranças políticas de expressão nacional, merece destaque o nome do deputado federal Ulysses Guimarães (PMDB-SP), que ficou conhecido na época como o "Senhor Diretas". Além dele, também se destacaram o governador de São Paulo, Franco Montoro, o de Minas Gerais, Tancredo Neves, o do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, e o de Pernambuco, Miguel Arraes. Ainda devem ser mencionados os nomes do então senador Fernando Henrique Cardoso (PMDB) e do presidente do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva.
Franco Montoro promoveu a primeira manifestação de massas da campanha: um comício na Praça da Sé em São Paulo, que reuniu cerca de 400 mil pessoas, em 25 de janeiro de 1984. A praça ficou repleta de bandeiras e camisetas amarelas, cor escolhida para simbolizar a reivindicação.
Sucederam-se manifestações em diversas outras capitais do país, dos quais sobressaíram o da Candelária, a 10 de abril, no Rio de Janeiro, e o do Anhangabaú, a 16 de abril, novamente em São Paulo.
O locutor Osmar Santos anunciou, no comício da capital paulista: "O Anhangabaú já tem 1,7 milhão de pessoas!" Segundo cálculos feitos pelo Datafolha anos depois, a região comportaria no máximo 400 mil pessoas.
Derrota no Congresso
Apesar do anseio explícito da esmagadora maioria da população brasileira, o governo militar, sob o comando do general-presidente João Figueiredo, ainda tinha poder sobre o Congresso. A emenda Dante de Oliveira, que precisava de 2/3 dos votos dos parlamentares para ser aprovada, acabou sendo rejeitada.
Votaram a seu favor 298 parlamentares; 65 foram contra e 3 se abstiveram. Porém, para não desagradar aos militares nem aos seus eleitores, 112 simplesmente não compareceram à votação. Assim, por 22 votos, os brasileiros tiveram adiado o sonho de votar para presidente da República - o que só aconteceria em 1989.
De qualquer modo, a campanha marcou a volta da politização da sociedade brasileira, reprimida durante os governos militares, bem como deu início ao movimento que veio a culminar com a eleição indireta de Tancredo Neves à presidência, em 1985. Do mesmo modo, a campanha consagrou novas lideranças políticas no país, como foram os casos de Fernando Henrique Cardoso e Lula, que chegaram a se tornar presidentes.
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