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Métodos de aprendizagem - Como se aprendia e como se aprende

Celina Bruniera, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Ao longo das últimas décadas, o ensino das línguas estrangeiras tem apontado para mudanças significativas. Essas mudanças são decorrentes de um movimento protagonizado pela Linguística a partir dos anos 60.

Sobretudo, a partir da crítica à ideia de que os estudos da linguagem e da língua deveriam estar pautados no entendimento e na explicitação das regularidades (do ponto de vista acadêmico) e na aprendizagem dessas mesmas regularidades (do ponto de vista daquilo que se ensina na escola).

Essa perspectiva que começava a ser criticada na época marcou a formação escolar de muitos e o processo de aprendizagem do inglês em muitos centros de línguas. Certamente, você já deve ter ouvido algumas dessas recomendações:



  • nas aulas de inglês, deve-se falar somente em inglês;
  • primeiro o aluno deve ouvir a língua para depois entrar em contato com sua forma escrita;
  • deve-se enfatizar a correção da pronúncia a partir das contribuições da fonética;
  • as palavras devem ser apresentadas em sentenças;
  • a tradução deve ser evitada;
  • o novo vocabulário deve ser ensinado a partir de demonstrações.

    Da mesma forma, alguns de seus professores devem ter sido instruídos no sentido de:
     
  • nunca traduzir: apenas demonstrar;
  • nunca explicar: apenas agir;
  • nunca falar muito: fazer os alunos falarem;
  • nunca elaborar enunciados longos: fazer perguntas;
  • nunca imitar os erros: corrigi-los;
  • nunca ir muito rápido: respeitar a progressão gradual dos conteúdos.

    Repensando as regras
    Essas orientações, tanto para alunos como para professores, são hoje objeto de ponderações. Isso porque observa-se que elas não contribuem para a interlocução na sala de aula. Pelo contrário, baseando-se em tantas proibições, esse enfoque inibe a todos e acaba reduzindo o que de mais significativo o processo de ensino e aprendizagem de uma língua teria: a vivência e análise de situações de comunicação.

    No interior da sala de aula, professores e alunos são sujeitos de situações comunicativas, por excelência. Situações marcadas por intenções, pela elaboração constante de enunciados e mediadas por gêneros textuais em particular. Quando professores e alunos se sentem inibidos de participarem dessas situações de comunicação (hoje de caráter informal) perdem a oportunidade de vivenciar situações reais de práticas de linguagem.

    A língua tal qual é usada
    As situações de práticas de linguagem são aquelas em que o sentido dos enunciados são construídos na própria interlocução e em que a língua assume sua dimensão cultural, ou seja, assume o caráter de um meio para expressar as referências simbólicas compartilhadas por aqueles que as usam como mediação na interação com os demais.

    Explico melhor. Fazendo uso da língua (sobretudo com um interlocutor que tem maior domínio dela) aprendemos a usá-la da maneira como outros a usam e aprendemos, também, o quanto essa língua carrega de significados socialmente construídos e compartilhados. É assim que enunciados como make yourself at home são transmitidos e compreendidos.

    Nessas situações, a língua também é objeto de transformação na medida em que os sujeitos atribuem às palavras significados inesperados. E aqui a língua não é um meio, mas matéria-prima. Matéria-prima que será trabalhada pelo sujeito do enunciado. Ressignificada.

    Dimensão maior
    É assim que surgem novas conotações para palavras e expressões e, mesmo quando essas palavras e expressões não adquirem uma dimensão maior do que o enunciado daquele sujeito que as criou, elas expressam o sentido que aquele sujeito quis lhes dar naquele momento.

    A crítica a uma visão sistêmica do estudo da linguagem e da língua pode contribuir em muito para dinamizar o processo de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras, porque o aproxima de situações reais de práticas de linguagem. Nelas, os participantes são sujeitos de discurso e como sujeitos atribuem sentido ao que aprendem e, assim, aprendem muito mais e melhor.

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