Vai ter golpe? Historiadores comparam crise atual com a de 1964
No dia 13 de março de 1964, o então presidente do Brasil João Goulart fez um comício no Rio de Janeiro para pedir apoio popular e apresentar Reformas de Base (agrária, bancária, fiscal, urbana, administrativa e universitária). A estratégia não deu certo. Menos de um mês depois, os militares deram um golpe e assumiram o poder por 21 anos.
Exatamente 52 anos depois, milhares de brasileiros saem às ruas para pedir a saída da presidente Dilma Rousseff. Em meio à crise política e com a ameaça real do impeachment, defensores do governo comparam o período atual com o golpe de 1964. Para saber o que há em comum e quais as diferenças entre as crises dos governos Jango e Dilma, o UOL conversou com os historiadores José Otávio Nogueira e Antônio José Barbosa, ambos professores da UnB (Universidade de Brasília).
O que é parecido
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Brasil em crise - 1964
João Goulart entrou no governo após renúncia de Jânio Quadros em 1961. Nos três anos de governo não conseguiu apoio parlamentar no Congresso Nacional. Como saída, buscava o apoio popular. Ao mesmo tempo, ele tentava agradar a direita realizando reformas ministeriais. Após anunciar as Reformas de Base, ele passou a se tornar uma "ameaça comunista" e o golpe foi questão de tempo. Leia mais
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Brasil em crise - 2016
O governo Dilma também vive uma crise política. Dilma tem problemas para aprovar projetos de interesse do governo no Congresso, tem índices de popularidade muito baixos e as operações da Polícia Federal têm desmoralizado seu governo. Como estratégia de governabilidade, oferece cargos a partidos e tenta buscar à militância de movimentos sociais. "Assim como no governo Jango, não há base alguma de governabilidade", diz Nogueira. Leia mais
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Economia ruim - 1964
O Brasil enfrentava a inflação. O índice chegava a cerca de 90%. "Economicamente, havia uma crise muito maior. Falava-se em carestia, nem era em inflação. A própria situação econômica do país acarretou a pressão pelo fim do governo de Jango", diz Barbosa. Leia mais
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Economia ruim - 2016
O Brasil também vive uma situação complicada em termos de economia. Apesar de não ser uma crise tão grande como a de 1964 (de acordo com a opinião de Barbosa), o país enfrenta aumento na inflação e queda no PIB. Leia mais
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O povo vai às ruas - 1964
Antes do golpe, diversas manifestações de rua aconteceram no país. Uma das mais importantes foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, ocorrida no dia 19 de março, em São Paulo. "Foi um movimento elitista. Havia uma elite política e militar envolvida com o golpe", diz Nogueira. Além dessa marcha, aconteceram manifestações de apoio (como no anúncio das Reformas de Base) e oposição ao governo. Leia mais
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O povo vai às ruas - 2016
O cenário atual também fez com que a população organizasse manifestações. Desde as jornadas de junho de 2013, há manifestações contra (como a de 15 de março do ano passado) e a favor do governo (como manifestações organizados por movimentos sociais). "Os dois governos eram fracos. Em 1964, tentou uma última cartada: ficar ao lado do povo. Hoje, é povo que é que contra o governo e sai às ruas", diz Barbosa. Leia mais
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Conservadorismo - 1964
Os protestos contra o governo Jango eram realizados por grupos que defendiam o combate à corrupção e a recuperação de valores morais e religiosos. O medo do comunismo era cada vez mais latente e os militares eram vistos como uma alternativa contra um "golpe comunista". Leia mais
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Conservadorismo - 2016
No que se refere a uma onda conservadora, os historiadores discordam se ela toma conta da sociedade realmente. "Há um discurso moralizador em crescimento. Podemos comparar a bancada do Congresso do BBB (Boi, Bala e Bíblia) com a TFP (Tradição, Família e Propriedade), que organizou a Marcha da família", diz Nogueira. Barbosa aponta que o discurso sobre o crescimento do moralismo é uma estratégia. "Eu vejo uma tentativa de quem está ao lado do governo de desqualificar conservadores". Leia mais
O que tem de diferente
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Envolvimento internacional - 1964
O cenário internacional era muito diferente de hoje. No auge da Guerra Fria, EUA e URSS disputavam o controle político mundial. Neste sentido, o Brasil acabou se tornando estratégico para os americanos. "Anos depois do golpe, soube-se que os EUA tiveram participação direta", diz Nogueira. "Havia um medo do comunismo e os militares se apoiaram nele para dar o golpe", completa Barbosa. Leia mais
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Envolvimento internacional - 2016
Hoje, o comunismo quase não existe mais. E os EUA têm outras preocupações (como a questão do Oriente Médio) consideradas mais importantes do que quem fica no poder no Brasil. "Hoje ninguém está preocupado com o que acontece aqui", diz Barbosa. "Hoje há, sim, uma polarização. Mas não se pode falar em discurso de direita e esquerda. O que sobrou disso foi uma reação elitista a projetos sociais de Lula e Dilma", aponta Nogueira.
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Papel das Forças Armadas - 1964
As Forças Armadas eram vistas como a salvação do país por parte de quem apoiava o golpe. Dois motivos apontavam para a força política da instituição: a democracia frágil e o fato de os militares já terem ocupado o poder (no início da República). "Podemos dizer que eles já haviam dado um golpe antes. Por isso, tinham força. Hoje [já] não têm essas forças", aponta Barbosa. Leia mais
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Papel das Forças Armadas - 2016
Apesar de pequenos grupos defenderem a volta dos militares, a instituição não tem força política e apoio popular para dar outro golpe. "As Forças Armadas, hoje, têm um papel totalmente fora da política. Os generais falam que não vão agir contra o governo. Até porque o período militar desgastou a imagem deles", aponta Nogueira. Leia mais
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Poder do Judiciário - 1964
Em 1964, não era só o Executivo que estava enfraquecido. Quando o Golpe de 64 aconteceu, o Legislativo foi atropelado. "Em 1964, houve um golpe. Os militares foram contra a Constituição Federal", aponta Nogueira. "Não se tinha uma noção real de democracia no país", completa Barbosa. Leia mais
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Poder do Judiciário - 2016
Nos dias atuais, o papel do Judiciário é outro. "Hoje, tenta-se tirar o governo pela via legal. E o Judiciário começou a ter um papel fortíssimo na política. É o STF que define os rumos do país", aponta Nogueira. "Temos um Executivo fraco e um Legislativo [que funciona] pela Justiça. Aí, sobra o Judiciário, que simplesmente está agindo porque chegou a uma organização criminosa que está no poder. Isso sim é uma mostra que a nossa democracia evoluiu", afirma. Leia mais
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