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Medalha de ouro em Olimpíada Internacional de Matemática estuda mais de 13 horas por dia

Felipe Martins

Do UOL, no Rio de Janeiro

28/08/2012 06h00

O carioca Daniel Santana Rocha tem apenas 15 anos, estuda em escola pública, é filho de professores e ganhou, no mês passado, a medalha de ouro na Olimpíada de Matemática da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa, disputada em Salvador. 

O menino tímido, de fala mansa, se dedica com afinco aos estudos. Em casa, são dez horas, do começo da manhã até o final da tarde, divididas em seis horas para a matemática e o restante para as demais disciplinas. À noite, vai à escola. Aluno do primeiro ano do ensino médio no Colégio Estadual Bernardo Sayão, tem aulas das 18h30 às 22h.

O talento com os números foi descoberto com a ajuda do pai, Fernando da Rocha. Para não deixar o filho sozinho em casa, passou a levá-lo ao curso de aperfeiçoamento para professores de ensino médio do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada).

Com apenas 11 anos, Daniel já demonstrava facilidade em resolver cálculos complexos. Incentivado pelos professores do Impa, o estudante começou a participar de torneios. No primeiro, a Olimpíada de Matemática do Estado do Rio de Janeiro, já saiu com uma medalha de prata, uma surpresa até mesmo para ele.

“Eu não esperava ganhar a medalha de prata porque eu comecei a estudar para as Olimpíadas apenas um mês antes”, disse Daniel. O resultado seguinte, um bronze na Olimpíada Brasileira, o deixou ainda mais motivado. “Eu fiquei impressionado com o resultado e ainda mais motivado a continuar estudando”, declarou.

Trânsito e cansaço

O estudante mora com os pais, professores, em um apartamento humilde em Jacarepaguá, bairro da zona oeste do Rio. Daniel continua assistindo, agora como convidado, às aulas no Impa, no Jardim Botânico, zona sul do Rio.  Para tanto, em dias de trânsito intenso, leva cerca de três horas para chegar ao curso na zona sul do Rio, perdendo até seis horas por dia em engarrafamentos.

“Ele fica muito cansado”, disse o pai do garoto. “O trajeto é estressante. Eu fico tentando vários caminhos para chegar lá o mais rápido possível. Se a gente tivesse melhor condição financeira, moraríamos mais perto do Impa. A gente tem o sonho de ficar mais próximo, mas o aluguel na zona sul é muito caro”, completou.

Estudante quer ser pesquisador

Pai e filho quando estão na escola são professor e aluno. O menino ajuda os colegas e troca informações com os outros professores de matemática e física, disciplina em que também mostra desenvoltura. “Ele ajuda e estimula os alunos. A aula fica mais animada. Às vezes, os meninos brincam pedindo para o Daniel dar aula, que a minha aula está muito ruim”, contou o pai orgulhoso. “Meu pai me ajuda muito, como professor e como orientador”, elogiou Daniel.

Como muitos adolescentes, Daniel tem suas diversões preferidas. “Gosto de videogame, de passear no shopping. Eu estudo durante a semana para liberar meus sábados e domingos”, disse. Sobre a rotina diária de dez horas de estudo, o pai de Daniel afirma que nada é imposto. “Esse é o prazer dele”, definiu. “No Brasil, existe um pouco de preconceito com o estudo. Em muitos países adiantados, o mínimo é dez horas de dedicação”, completou.

Para o futuro, o jovem talento já tem uma vontade explícita. “Quero ser pesquisador. Gosto da área de análise, do estudo dos sistemas dinâmicos”, contou.

A Olimpíada

A Olimpíada de Matemática da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa é disputada entre estudantes de Portugal, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, em um total de 32 competidores. Diferentemente de uma competição esportiva, nas Olimpíadas da Matemática é possível mais de uma medalha de ouro, levando em questão o nível de excelência dos competidores.

As provas foram realizadas em dois dias e os estudantes tiveram três horas e meia para resolver três problemas propostos pelos países participantes envolvendo geometria, álgebra, combinatória e teoria dos números. Três estudantes ganharam a medalha de ouro, dois do Brasil e um de Portugal.

O estudante agora tem por objetivo disputar a maior competição de matemática mundial, a IMO (International Mathematical Olympiad), que acontece anualmente. A próxima edição acontece em julho de 2013, na Colômbia. O Brasil já foi escolhido para sede no ano de 2017.