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Organizadores do boicote ao exame do Cremesp esperam adesão de mais de cem em Campinas

Cerca de 50 estudantes protestaram em frente a local de prova do Cremesp, em Campinas hoje (11) - Ricardo Lima/UOL
Cerca de 50 estudantes protestaram em frente a local de prova do Cremesp, em Campinas hoje (11) Imagem: Ricardo Lima/UOL

Caue Nunes

Do UOL, em Campinas

11/11/2012 10h06

A organização do boicote ao exame do Cremesp (Conselho Regional de Medicina), que acontece neste domingo (11), em Campinas, espera a adesão de mais de cem alunos. Segundo o aluno da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), André Citroni, os alunos estão mobilizados e a meta é que os 110 alunos da universidade participem do protesto. “Mas só saberemos isso quando sair o resultado do exame”, explica.

Já na PUC-Campinas não há consenso. De acordo com a formanda Ester Martins Ribeiro, o tema foi pouco discutido entre a turma e os alunos estão divididos. “A maioria concorda que o exame tem problemas, mas mesmo assim muitos farão a prova [sem boicotar]”.

De acordo com um dos organizadores do protesto, Fabrício Donizete Costa, “a obrigatoriedade da prova coíbe a criação de uma oposição que possa dialogar, muitos alunos que estavam indecisos podem fazer a prova somente porque estão com medo que o boicote possa prejudicar suas carreiras”, disse Costa. 

Para Citroni, esse tipo de prova pode criar as “escolas cursinhos” que são cursos focados em fazer o aluno passar no exame. “Isso não garante que esse aluno será um bom médico, o exercício da profissão depende de muitas outras questões que não são abordadas pelo exame do Cremesp”, falou.

A formanda da Unoeste (Presidente Prudente), que atualmente mora em Campinas, Deisi Mobrizi, acredita que o exame deveria avaliar também as faculdades. “A avaliação deve abordar todo o ensino, incluindo as escolas e os hospitais, somente assim poderemos ter um diagnóstico preciso da situação da qualidade da educação médica”.

O Conselho Municipal de Saúde de Campinas divulgou nota apoiando o boicote dos formandos: “Os problemas do Sistema de Saúde e o aumento do número de erros dos profissionais encontram sua origem na precarização das relações de trabalho e intensificam cada vez mais, na extensa jornada de trabalho que esses profissionais têm que se submeter, na falta de financiamento do SUS, na falta de infraestrutura adequada para o exercício da prática em saúde, na falta de insumos necessários para uma boa prática profissional, entre muitas outras coisas”.

Em todo o Estado estão previstos protestos em 7 cidades: Campinas, São Paulo, Marília, Ribeirão Preto, São José dos Rio Preto, São Carlos e Botucatu.

Cremesp

De acordo com o delegado do Cremesp e vice-presidente da Associação Médica Brasileira, Jorge Curi, a sociedade precisa discutir a qualidade do ensino da medicina no país. “Esperamos que o exame estimule a qualificação da educação. Sabemos que somente essa avaliação não é suficiente, mas precisamos começar por algum ponto e aos poucos queremos aperfeiçoar o processo”, afirmou.

Curi acredita que o protesto dos alunos é legítimo, mas ressalta que a avaliação é uma prática em diversos países. “Nos últimos anos muitas escolas de medicina foram abertas e precisamos mensurar como o ensino está sendo aplicado”, disse.

Exame obrigatório

Neste domingo, 2.924 estudantes do último ano de medicina no Estado de São Paulo realizam uma prova do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo). A realização da prova é obrigatória para a obtenção do registro profissional - no entanto, o Cremesp não pode negar o registro ao formando que tiver mau desempenho.

A prova será arquivada e sua nota será mantida em sigilo, segundo o Cremesp. O objetivo da avaliação é "contribuir para a formação médica de qualidade no país", segundo Bráulio Luna Filho, um dos diretores da entidade. Luna Filho tem acompanhado nos últimos anos uma prova não obrigatória que o Cremesp tem aplicado aos formandos.