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Idioma é o maior obstáculo para Ciência sem Fronteiras; inscrição vai até 24 de janeiro

Mapa mostra onde estão os bolsistas do programa Ciência sem Fronteiras - Reprodução
Mapa mostra onde estão os bolsistas do programa Ciência sem Fronteiras Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

04/01/2013 06h00Atualizada em 08/01/2013 16h26

Uma ótima e ousada iniciativa, mas que esbarra em problemas básicos, como a baixa proficiência dos alunos brasileiros em idiomas, o que dificulta o acesso às bolsas estrangeiras, e um mercado nacional que não está preparado para receber esses estudantes ao final da temporada no exterior. É assim que os especialistas em ensino superior que o UOL Educação ouviu enxergam o programa Ciência Sem Fronteiras, iniciativa do governo federal para incentivar a internacionalização do ensino em áreas estratégicas, como a engenharia.

Lançado em julho de 2011 pela presidente Dilma Rousseff, o programa tem a meta de oferecer 101 mil bolsas de graduação e pós-graduação até 2015, sendo 75 mil bancadas pelo governo federal e o restante pela iniciativa privada. O programa prorrogou as inscrições até 24 de janeiro. (Veja como participar aqui).

“A grande dificuldade é a língua. Até na China o inglês é a segunda língua. No Brasil não temos um segundo idioma e essa deficiência vem da educação básica”, afirma Helena Nader, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). “Os alunos chegam à universidade sem esse conhecimento – eles não leem a bibliografia em inglês indicada nos cursos. É um gargalo na nossa estrutura.”

No Ciência Sem Fronteiras, é o candidato quem banca a sua comprovação de proficiência no idioma solicitado para concorrer à bolsa. Ele deve atingir a pontuação exigida pelo edital ao qual concorre. No entanto, caso a nota seja próxima à exigida e o candidato esteja dentro dos outros requisitos, ele poderá, a critério da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), conseguir bolsa para estudar a segunda língua no próprio país de destino. Essas bolsas podem durar de dois a seis meses, antes do início do curso.

Por conta da dificuldade com o segundo idioma, Portugal foi o principal destino dos estudantes brasileiros de graduação bolsistas do Programa Ciência sem Fronteiras. Do total de 12.193 alunos incluídos no programa, praticamente um em cada cinco optou por cursar parte do ensino superior em uma instituição lusitana. 

Para enfrentar o problema, o governo federal lançou em dezembro de 2012 o programa Inglês Sem Fronteiras, que pretende distribuir 100 mil bolsas de estudo para estudantes universitários que desejam estudar inglês por meio de uma plataforma chamada My English Online. 

O governo afirma que há também uma mobilização por parte das universidades, em especial das federais, “em melhorar e aumentar a oferta de seus centros de língua, visando a capacitação de futuros bolsistas do programa”.

Celso Frauches, consultor de organização, legislação e normas da educação superior, afirma que deve haver uma ação relevante do MEC (Ministério da Educação) para orientar as universidades sobre o ensino de idiomas. “O Brasil está bastante atrasado nisso. É algo que precisa ser resolvido, nem que se regulamente uma hora-aula de línguas nos cursos superiores, por exemplo”, afirma. “Temos que reforçar o ensino de idiomas na graduação, inclusive do próprio português. “

Críticas

Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp (Sindicato das Entidades de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo), aponta, além do idioma, outro desafio: elevar o número de bolsas concedidas ao setor privado. “O programa pode ajudar às instituições particulares a terem intercâmbio de excelência e a mandar para fora alunos que jamais teriam a chance de sair. Mas, para isso, precisamos que a divisão das bolsas concedidas entre universidades privadas e públicas seja mais equilibrada”, ressalta.

As áreas prioritárias do programa, que focam em ciências exatas, biológicas e tecnologia, também são alvo de críticas. “O programa é voltado para as ciências aplicadas e, apesar de a maior parte dos recursos serem do governo federal e das agências públicas de fomento, ele tem um caráter pouco público, porque está vinculado à iniciativa privada”, explica Lalo Watanabe Minto, especialista em ensino superior e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

“Há um conflito de interesses, já que há influência das empresas que financiam o programa – e esses interesses podem ser momentâneos. É uma inovação em termos de mercado, não de ciência”, completa ele, que também critica a ausência de bolsas na área das ciências sociais no Ciência sem Fronteiras.

Problemas como o cancelamento de bolsas, como ocorreu em julho de 2012, quando 25 alunos tiveram seus benefícios suspensos, foram superados, afirma a Capes, uma das agências atuantes no programa.

 “No início, Capes e CNPq adotaram caminhos diferentes, o que não funcionou, porque havia um distanciamento do bolsista com a agência. Isso já foi solucionado e era uma questão inicial”, diz a diretora de relações internacionais da Capes, Denise de Menezes Neddermeyer.