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Brasil não está preparado para receber pesquisadores na volta do intercâmbio, dizem especialistas

Do UOL, em São Paulo

04/01/2013 06h00

Para os especialistas consultados pelo UOL Educação, o país não está preparado para recepcionar os estudantes de graduação e pós que voltam de intercâmbio em universidades estrangeiras.

“Há a necessidade de garantir aos jovens que estão voltando condições de trabalho, para que eles deem sua contribuição ao país”, aponta Helena Nader, da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). “Temos que fazer com que esse estudante sinta que o país valoriza a ciência. E isso só se mostra com mais financiamento para as universidades e laboratórios, além de mais verbas para o CNPq.”

Luana Bonone, presidente da ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos), concorda. “Precisamos ter mais investimento no nosso sistema nacional e de recursos para educação, infraestrutura, ciência e tecnologia”, afirma.

O deslumbramento com a experiência vivida durante a bolsa pode causar um “choque” ao retornar. “Muitos ficam maravilhados com o que veem no exterior, mas devem saber que, quando voltarem, não vão encontrar a mesma situação aqui. Portanto, eles precisam saber como serem proativos em suas instituições”, pontua Lighia Matsushigue, professora aposentada do Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo) e especialista em ensino superior.

Para ela, esses alunos acabam saindo do país definitivamente. “Cedo ou tarde, perdemos nossas melhores cabeças”, diz.

Celso Frauches, consultor de organização, legislação e normas da educação superior, também ressalta essa preocupação. “Nosso mercado interno nessas áreas que o Ciência sem Fronteiras prioriza está em expansão. Haverá campo de trabalho. Porém, na concorrência por melhores salários, muitos acabam deixando o Brasil”, afirma.

Segundo o MEC (Ministério da Educação), conforme o termo de compromisso,  o bolsista assume a responsabilidade de retornar  ao Brasil no prazo de até 30 dias após a conclusão dos estudos. No documento, ele também afirma permanecer no país por um período no mínimo igual ao prazo de concessão de sua bolsa. Caso ele não retorne, deve devolver todo o dinheiro, com correção monetária, da mesma forma que ocorre com os outros bolsistas da Capes, por exemplo.

Desenvolvimento

Apesar das dificuldades, os especialistas ressaltam a importância do Ciência sem Fronteiras para o país. “É um grande passo para a internacionalização do nosso ensino e para o brasileiro enxergar o que existe lá fora”, afirma Marilza Rudge, vice-reitora e pró-reitoria de pós-graduação da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

Luana Bonone, da ANPG, também acredita que o programa trará desenvolvimento para o Brasil. “É uma iniciativa ousada e inovadora para o que tínhamos até agora. É importante também porque ocorre justamente no momento em que o Brasil está buscando novidades”, reflete.