Mistura de idades na educação infantil é "inviável" para docentes
Os professores da rede municipal de São Paulo que trabalham com educação infantil consideram "inviável" a portaria que permite o agrupamento de crianças de faixas etárias diferentes em uma mesma sala de aula nesta etapa da educação básica. Os depoimentos foram feitos durante a última assembleia da categoria, que definiu o fim da greve de 22 dias.
A portaria de nº 2.624 afirma que, apenas nos casos de absoluta excepcionalidade e com o objetivo de acomodar a demanda, os agrupamentos poderão ser mistos, a critério da diretoria regional de educação, e que o plano de trabalho deverá ser readequado, "de modo a assegurar o pleno desenvolvimento das crianças envolvidas".
Para Rita Oliveira, 40, professora de uma EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) de Campo Limpo, na zona sul da capital paulista, a proposta é inviável.
CAPACIDADE MÁXIMA POR TURMA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Estágios | Alunos para cada educador |
Berçário I | 7 crianças |
Berçário II | 9 crianças |
Mini – Grupo I | 12 crianças |
Mini – Grupo II | 25 crianças |
Infantil I | Até 30 crianças |
Infantil II | Até 30 crianças |
- Fonte: Secretaria Municipal de Educação de São Paulo
"Uma criança de 4 anos requer uma aprendizagem maior, até porque eles estão indo com seis anos incompletos para o primeiro ano. Então, nós que somos de EMEI temos o trabalho voltado para o início do conhecimento de letras, de números, de alfabetização. E uma criança de dois anos requer outro tipo de cuidado".
Contudo, a SME (Secretaria Municipal de Educação) de São Paulo afirma que não haverá mescla entre crianças de 2 e 4 anos. A iniciativa prevê que uma turma de 2 anos de idade, chamados Mini-Grupos I, pode atender alunos com 3 anos (Mini-Grupo II), respeitando a capacidade máxima de alunos por professor.
No caso de alunos com 3 anos em salas de 2, o limite seria de até 3 crianças por sala. Com isso, a pasta pretende ampliar em 2% o preenchimento de vagas disponíveis em creche, especialmente na rede conveniada. Haverá também a possibilidade de mistura entre os estágios Infantil I e II, com alunos de 4 e 5 anos.
Mesmo que a diferença entre a idade dos alunos seja de apenas um ano, Maria Cecília de Oliveira, 49, professora de uma EMEI no Campo Limpo, acredita que haverá disparidades.
"Já percebemos diferença no aprendizado das crianças mesmo quando apresentam faixas etárias muito próximas, como por exemplo seis meses de uma para a outra. Elas estão em estágios distintos na motricidade, oralidade e organização do pensamento", afirma.
Com receio de identificar seu nome, C.S.R., 44, professora de uma EMEI do Grajaú, acredita que a proposta da prefeitura de São Paulo irá aumentar os problemas no ambiente escolar, que na opinião dela não são poucos.
"Pode-se dizer que em algumas situações é interessante a inclusão de crianças com idades diferentes, para brincar ou trocar experiências. Mas na sala de aula, acho que isso vai gerar alguns conflitos, mais brigas entre eles. Fora é claro a questão das atividades. Não tem como serem iguais", opina.
Cremilda Martins, 44, do Jabaquara, afirma que caso esta portaria seja implementada os professores terão de ter dois planejamentos de aula e reclama da quantidade de alunos por sala.
"Tem sala de 40 crianças e, se recebermos alunos de uma faixa etária menor, não existe uma lei que diminua a quantidade de crianças para o professor", diz. "Há ainda outro agravante: temos crianças até de fraldas. Como vou trabalhar com crianças de fraldas em uma sala de 40? É impossível".
Colega de escola de Cremilda, Simone Fonseca, 41, concorda e afirma que já recebem instruções para a incorporação de alunos com diferentes faixas etárias. "Na nossa escola, a supervisora já mandou demanda de idade menor para a gente misturar", conta.
Inclusão
Fora o dilema da mistura de crianças, os professores de educação infantil ainda têm dificuldade em lidar com crianças com algum tipo de deficiência dentro da sala de aula.
Flávia Queiróz, colega de Rita em uma EMEI no Campo Limpo, conta que possui um autista em sua sala e acredita que às vezes acaba priorizando muito mais a integridade física dele do que os conteúdos. "É uma criança que não fica quieta, hiperativa, corre, pula, mexe. Então fica difícil. Em uma sala com 35 crianças não tem como dar uma atenção especial para ela. Se dou, o restante se mata".
Por isso, segundo Rita, uma das reivindicações da categoria era as contratações de estagiários e outras pessoas para auxiliar os professores que têm alunos de inclusão. "Ultimamente somos apenas nós e Deus na sala de aula", desabafa.
Propostas
O presidente do Sinpeem (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo), Cláudio Fonseca, afirmou em entrevista ao UOL que a portaria de agrupamento misto foi um item que não conseguiu mudar integralmente, mas o secretário de Educação, Cesar Callegari, teria dito que o efeito estaria relacionado mais à rede conveniada do que à rede direta.
"Lógico que queríamos a revogação da portaria. Contudo, em contrapartida, o secretário diz que irá criar mais cargos para aliviar a carga nas escolas, 1.200 profissionais, e também criar políticas públicas para alterar o ambiente escolar para comportar a demanda", disse. A Câmara de São Paulo aprovou no último dia 11 o projeto do prefeito Fernando Haddad (PT) que permite a criação desses cargos.
A Secretaria afirma que a demanda nessa etapa da educação básica é de 111.321 vagas, segundo dados do Sistema EOL (Escola On-Line). A rede atende 212.531 alunos em seus 1.622 CEIs (Centros de Educação Infantil).
A meta da pasta é abrir mais vagas em creche com a construção de 243 novas unidades, sendo 172 em parceria com o MEC (Mistério da Educação), e também criar 65 pré-escolas.
O plano de metas prevê ainda ampliar em 150 mil a oferta de vagas para a educação infantil, o que inclui creche e pré-escola. O objetivo é universalizar o atendimento de crianças de 4 e 5 anos até 2016.
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