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Por medo de desabamento, pais evitam levar filhos em escola de SP

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

05/10/2013 06h00

Após inúmeros casos de desabamento com mortes no Estado de São Paulo, as mães dos alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Brada, em Perus, zona norte da capital paulista, temem que a próxima tragédia ocorra na instituição e, em dias de chuva, chegam até evitar levar os filhos para a aula com medo de que o pior possa acontecer.

Segundo denúncia das mães, a escola, inaugurada em 2009, apresenta um buraco entre a parede e o chão do lado de fora do prédio. A suspeita é de que o solo tenha cedido ao logo destes últimos quatro anos. O desnível é comprovado inclusive pelos canos de água de chuva, que com a movimentação da terra quebraram ao meio --a parte do teto está há uns cinco centímetros distante da parte do chão.

"Prefiro que eles percam a aula a colocar em risco a vida deles", disse Auricelânia Gomes de Souza, mãe de três das cerca de 900 crianças matriculadas na escola. Mas não são só os pais que estão com medo, a dona de casa Maria da Conceição Gomes de Souza, que também é mãe de três alunos da instituição, conta que a filha de sete anos pede para que não a leve para a aula. "Ela adora a escola e a professora, mas quando o tempo está instável, ela implora para não deixá-la lá."

E mesmo quando não há chuva, as mães dizem deixar os filhos na escola com o “coração na mão”. "Desde que soube das reais condições da escola, não consigo dormir direito à noite pensando no que pode acontecer com os meus filhos toda vez que os deixo na escola", relatou a diarista Olga Maria Alves de Souza, que acrescenta temer que o prédio desabe a qualquer momento.

Para a comerciante Fernanda Ribeiro Barbosa, essa é "uma tragédia anunciada". Segundo ela, é "um absurdo" uma escola de apenas quatro anos estar tão degradada. "Além das rachaduras externas, há problemas de rachaduras também na parte interna".

Olga Maria contou inclusive que há um ambiente no térreo interditado e uma sala de aula no andar superior com rachadura horizontal entre a parede da janela e o chão. "A professora disse inclusive que coloca todos os alunos próximos a parede da porta com medo de que o solo ceda", relatou ela. Há ainda um dos banheiros da parte externa, como acrescenta Auricelânia, que está interditado. "Isso porque uma infiltração fazia com que vazasse água na sala da diretoria, que fica logo abaixo."

A reportagem do UOL esteve no local para verificar as denúncias, mas quando registrava os problemas estruturais da parte externa do prédio foi abordada por duas funcionárias da instituição que impediram a gravação. A Secretaria Municipal de Ensino também não autorizou o acesso da equipe à parte interna da escola.

  • Mães de alunos temem que rachadura em solo de escola da zona norte de SP comprometa estrutura do prédio

Em nota, a Diretoria Regional de Educação Pirituba informou que o processo de reforma da unidade estava parado desde 2011 e "desatualizado". O processo, segundo o documento, foi reativado pela atual gestão do órgão, que atualizou as necessidades e custos das obras. "A expectativa é de início das obras ainda em novembro", apontou a nota, que acrescentou ainda que o processo está na fase da contratação da empresa que fará a reforma.

O órgão, no entanto, não afirmou o que pode ter provocado as rachaduras, tampouco se os problemas comprometem ou não a estrutura do prédio. Para as mães dos alunos, no entanto, o caso pode estar relacionado à terraplanagem do terreno, feita antes da construção da escola, e pode ter sido ainda mais agravado por uma pedreira que fica próxima à escola. "Apesar de não ser colada com a escola, quando há as explosões, meus filhos dizem sentir a escola tremer e ouvir estalos nas paredes", contou a dona de casa Maria das Graças Rodrigues da Silva.

Uma funcionária da escola, que preferiu não se identificar, disse que após a denúncia das mães, a Defesa Civil esteve na escola na última semana, acompanhada de um perito, que afirmou que os problemas não comprometem a estrutura do prédio e descartou o risco de desabamento. Ainda assim relatou que se não resolvido pode se agravar e aí sim colocar em xeque a vida das crianças.

Especialista diz que situação é crítica

"É uma rachadura muito feia e a situação é crítica", foi como resumiu Alexandre Tomazeli, professor de engenharia civil da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que a pedido do UOL avaliou as imagens dos problemas estruturais da Escola Municipal de Ensino Fundamental Brada. Rachaduras que, segundo ele, foram provocadas pela "movimentação do solo de base no entorno da edificação, em face das vibrações do solo, intensificada pela obra do Rodoanel [que passa na parte de trás da escola], e também pelas vibrações oriundas da pedreira".

As fendas no solo, conforme o especialista explicou, ficam piores com a água da chuva, que infiltra pelas trincas e rachaduras existentes no chão. "Isso provoca a saturação do solo argiloso [tipo de solo onde a escola se encontra], que por ter um alto índice de plasticidade, é mais deformável."

E para justificar sua afirmação, Tomazeli cita o deslocamento dos canos, que indica claramente "recalques diferenciais" --ou seja, rebaixamentos do solo-- acentuados na edificação que, de acordo com ele, comprometem o prédio. "Se não forem sanadas as causas, poderão aumentar significativamente estes recalques e as trincas, podendo provocar a ruína parcial ou total da edificação em um futuro não previsto", relatou ele, que recomenda a interdição imediata, porém parcial, da escola.

"Essa é uma responsabilidade do poder público, que é proprietário do imóvel, e dele faz o seu uso diário", concluiu ele.