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Conteúdo gratuito e jogos educativos são tendências do ensino a distância

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Imagem: AFP

Andréia Martins

Do UOL, em São Paulo

24/01/2014 05h00

O Brasil tem hoje mais de 5 milhões de alunos de cursos a distância de acordo com os números do último censo da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), coletados em 2012. O UOL Educação conversou com especialistas no assunto para levantar as tendências da área. O celular, a mistura de conhecimento com entretenimento e mudanças nos Moocs (cursos massivos abertos online) estão entre as apostas para o ensino a distância.

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Confira abaixo as sete principais tendência dos cursos EAD.

1 - Curadoria de temas

“Hoje as pessoas, independentemente de idade, profissão ou escolaridade podem estudar e aprender o que quiserem, quando quiserem, no ritmo que quiserem, sem intermediações de instituições ou professores. O processo de educação será cada vez mais centrado nos interesses do aluno, que tem cada vez mais poder de acessar, escolher”, avalia Martha Gabriel, escritora e consultora nas áreas de inovação e educação.

Para a especialista, essa tendência afetaria drasticamente o sistema de EAD. “Eles devem funcionar cada vez mais como hubs de referências [curadoria] e de interação do que apenas repositório de conteúdos e sistema de avaliação. A tendência é que o EAD passe a ser um facilitador aberto interativo e não um sistema fechado engessado”.

2 – Mais conteúdo gratuito

Oferecer conteúdo gratuito tanto como complemento de um curso presencial ou como conteúdo adicional é outra tendência. Um exemplo são os chamados REA (Recursos Educacionais Abertos), materiais de ensino que estão sob domínio público na internet, disponíveis para que qualquer um possa usar.

"No Brasil a tendência é que o REA cresça, mas não tanto como deveria. Aqui ainda é difícil os colégios fazerem seus próprios vídeos ou disponibilizarem apresentações de PowerPoint para download. Hoje podemos nos dar o luxo de dar de graça o conhecimento que pode ser útil para as pessoas. Isso não dá um diploma, mas gera o interesse no conteúdo", diz Fredric Michael Litto, professor emérito da USP e atual presidente da Abed.

O uso de ferramentas digitais e do conteúdo disponível na internet em sala de aula passa também pela mudança da cultura da escola. “O maior problema é a capacitação dos professores. O professor passa a ter um papel bem diferente em sala de aula. Não é só aquele que detêm o conhecimento, mas aquele que vai conduzir o processo de aprendizagem”, comenta Stavros Xanthopoylos, vice-diretor do Instituto de Desenvolvimento Educacional da FGV. “O desafio é preparar os professores. Pouco tem sido feito aí. Você tem que estabelecer aquilo que efetivamente cabe na realidade da escola”.

3 – O futuro dos Moocs

Para Litto o futuro dos Moocs é incerto. “Estatísticas dizem que, em média, apenas 4% dos alunos que se inscrevem terminam o curso e nenhuma instituição oferece um curso de graduação completo pelo Mooc”, diz Litto. Para ele, a tendência é migrarmos para os Moops (programas massivos abertos online), que seriam mais próximos aos cursos de graduação, mas com um tempo menor e disponível para diversas áreas do conhecimento.

“Muitos cursos Moocs estão calcados na tecnologia de massa com modelos pedagógicos muito pobres e sem avaliação, uma tecnologia basicamente de rede com participação muito mais dos estudantes do que de instituições e professores”, avalia Stavros, ao citar um dos pontos fracos do modelo que permite que qualquer pessoa assista aulas gratuitas de universidades como Yale, Harvard, Stanford, entre outras, pela internet.

Wilson Azevedo, diretor da Aquifolium Educacional e ex-diretor de qualidade da Abed, vê outra possibilidade no que ele chama de “Mooc invertido”, ou seja, o uso do conteúdo desses cursos dentro de uma sala de aula invertida. “Você teria um Mooc oferecido por uma universidade de ponta, brasileira ou estrangeira, sendo adotado por instituições de ensino que não são de ponta, permitindo que esses alunos façam cursos de alto padrão de qualidade, acompanhados por professores dessa instituição, de forma presencial ou a distância, com a certificação dada pela instituição local onde o aluno está matriculado”.

4 – Aperfeiçoamento do mobile

Projetos educacionais na África vêm mostrando o potencial do celular para aumentar o acesso ao conhecimento. Mas ele também deve ser visto como uma extensão das plataformas de ensino a distância e não apenas repetir o conteúdo produzido para outros dispositivos. “A mobilidade traz consigo um leque enorme de tendências que fazem com que qualquer sistema de EAD precise considerar o mobile como um dos seus principais paradigmas”, diz Martha.

Aplicativos para busca, de livros, jornais, revistas, jogos, vídeo, mapas, sons, editores, realidade aumentada, foto, gravador estão entre as possibilidades de uso do mobile. “Cada vez mais os EADs tenderão a oferecer experiências e possibilidades móveis, alavancando o m-learning. Isso deve afetar a forma como os conteúdos e sistemas são planejados, pois o modo de acessarmos conteúdos e sistemas mobile é distinto do modo que acessamos os demais dispositivos”, completa a especialista.

5 - Edutainment: mais entretenimento educativo

Numa época de excesso de informação, Martha avalia que unir entretenimento e conhecimento pode ser uma fórmula eficiente contra a falta de atenção provocada por esse excesso.

“Uma das principais tendências é a utilização do entretenimento, tornando os conteúdos educativos mais atrativos. Um exemplo disso é o Epcot Center da Disney, o Discovery Channel na televisão ou o aplicativo Qranio, que apresentam sua programação informacional por meio de entretenimento. Os sistemas de EAD tendem a incorporar essa característica também, por meio da adoção cada vez maior de jogos, vídeos e atividades lúdicas como formas educacionais”.

6– Uso de ambientes adaptativos de aprendizagem

Outra aposta de Azevedo são os ambientes adaptativos de aprendizagem (ou adaptive learning), que usam o computador como instrutor, personalizando o ensino. “Os ambientes adaptativos de aprendizagem são programas capazes de identificar as lacunas, as fragilidades dos alunos, e de recomendar aos seus usuários recursos para que eles preencham essas lacunas de formação e avancem. Conforme vão sendo gerados novas lacunas ou novos interesses, o ambiente vai respondendo, se adaptando àquilo que o aluno apresenta. É uma tendência forte na educação básica e no ensino superior”.

7– Expansão da Universidade Aberta Brasileira

A UAB (Universidade Aberta do Brasil) é um sistema integrado por universidades públicas que oferece cursos superiores para estudantes com dificuldade de acesso à formação universitária. Para Litto, a principal expectativa é de que a UAB se fortaleça, mas o modelo precisa melhorar.

“O Brasil está bem atrasado, foi o último país com uma população acima de 100 milhões de habitantes a criar uma universidade aberta, em 2007 e, na realidade, não é aberta de verdade. Uma universidade aberta não deveria ter vestibular. Nos outros países não tem vestibular, você só precisa ter 18 anos ou mais. No exterior os cursos são rigorosos e qualquer um poder entrar. Mas ainda assim a UAB brasileira é muito importante. Está funcionando com 450 mil alunos e crescendo. A tendência é que cresça e chegue a um milhão de alunos”.