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Investimento na USP Leste por aluno é metade do gasto por estudante da Poli

Inaugurada em 2005, a EACH é a terceira maior unidade de ensino da USP  - Robson Ventura/Folhapress
Inaugurada em 2005, a EACH é a terceira maior unidade de ensino da USP Imagem: Robson Ventura/Folhapress

Marcelle Souza

Do UOL, em São Paulo

17/02/2014 05h00

Nesta segunda-feira (17), as aulas voltam para a maioria dos estudantes da USP (Universidade de São Paulo), mas não para os alunos da  EACH-USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades). O campus foi interditado pela Justiça há mais de um mês --o terreno contém metano e outros componentes tóxicos.

O calendário não é a única diferença entre o campus Leste e o restante da universidade. Inaugurada em 2005, a escola é a terceira maior unidade de ensino da USP -- estudavam 5.327 alunos da graduação e pós-graduação em 2012 , data do último levantamento divulgado. A unidade fica atrás apenas da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e da Escola Politécnica, que concentra os cursos de engenharia. O dinheiro que a USP Leste recebe por aluno, porém, é a metade do investido em um acadêmico da Poli.

Em 2012, o campus Leste recebeu R$ 63 milhões, o 21º orçamento entre as unidades de ensino –o que representa aproximadamente um investimento anual de R$ 12 mil por aluno. O campus tem cursos como gestão ambiental, gerontologia, marketing e obstetrícia.

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Na Politécnica, que tem o segundo maior orçamento entre unidades de ensino, cada aluno representa um investimento de cerca de R$ 25 mil por ano. O orçamento anual de cada unidade é a soma de gastos com ensino, extensão, pesquisa e infraestrutura, entre outros.

Assim como o investimento, os alunos da EACH têm passado por problemas bem diferentes de quem estuda no campus Butantã. Em dezembro, por exemplo, os bebedouros foram interditados depois que a água foi considerada imprópria para o consumo. O problema foi causado pela falta de limpeza dos reservatórios de água. A higienização, que deveria acontecer uma vez a cada seis meses, demorou mais de um ano.

Além dos bebedouros, na mesma época, salas de aulas também foram interditadas por conta de uma infestação por ácaros de pombos. O forro de um dos prédios estava ocupado por ninhos dos animais. Os problemas foram solucionados no fim de 2013.

Eu me sinto profundamente frustrado com a irresponsabilidade e a inconsequência da antiga direção da EACH. A gestão foi catastrófica, uma violência. Nós fomos profundamente prejudicados”, diz o professor Luiz Menna Barreto, que dá aula nos cursos de gerontologia e obstetrícia na USP Leste. Ele está na USP desde 1980 e foi professor do ICB (Instituto de Ciências Biológicas) até 2005, quando foi para a EACH.

DUELO DE GIGANTES

 POLITÉCNICAEACH
nº de alunos da graduação4.7474.887
nº de alunos da pós graduação2.254433
nº de pós-doutorandos1237
n° de professores442267
orçamento em 2012 (em R$)183.061.845,9263.879.681,25
  • Fonte: Anunário Estatístico da USP

Professores

Quando analisamos o número de docentes e pesquisadores, a diferença continua: na EACH há um professor para cada grupo de 19 alunos, enquanto na Poli essa proporção cai para um docente para cada 16 alunos.

A contratação de professores não corresponde à proporção de alunos, o que afeta o funcionamento da escola”, diz o professor Marcos Bernardino de Carvalho, do curso de gestão ambiental da EACH.

Há ainda uma grande diferença no volume de pesquisadores da EACH. Na unidade de ensino são apenas 433 pós-graduandos e sete alunos de pós-doutorado. Na Poli, são 2.254 estudantes da pós-graduação e outros 123 pós-doutorandos. Mas a desvantagem numérica não é a maior barreira para a pesquisa neste momento. Como o campus da USP Leste foi interditado no início de janeiro, projetos de pesquisa e extensão estão parados ou foram prejudicados.

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É o caso da pesquisadora Michele Schultz, professora dos cursos de saúde da EACH.  “Em um das nossas pesquisas, perdemos a data para a coleta de material de alguns pacientes, o que pode prejudicar parte do estudo. É o acompanhamento de um ano do processo de reabilitação de pacientes que tiveram derrame. Nós teríamos que encontrar outros pacientes nas mesmas condições”, diz. “Eu não consigo dimensionar o tamanho do prejuízo, vai muito além do financeiro, são projetos pessoais, profissionais. É tudo muito deprimente.”

As aulas, que deveriam começar hoje na USP Leste, devem ser retomadas no próximo dia 10 de março. Até lá, professores, alunos e funcionários aguardam sem saber onde vão estudar.

 

USP responde

A USP diz que não é possível comparar o número de alunos com os investimentos recebidos em cada unidade. Além disso, a reitoria diz que não é responsável pela distribuição de verbas. “Para definir isso, a unidade envia uma previsão de investimentos/despesas para que sejam estabelecidas as diretrizes”.

Sobre a interdição, a reitoria informou estar trabalhando intensamente para a liberação da área. No local, estão sendo instaladas chaminés e bombas para a extração dos gases. Uma análise da terra também está sendo feita para definir a extensão de material contaminado que deve ser extraído.