Jean Wyllys: Como o fechamento da Paulista comove mais que o de escolas?
O deputado federal Jean Wyllys (PSOL), 41, tem no Rio de Janeiro a base eleitoral, mas é a cidades de pequeno porte do interior da Bahia que ele atribui toda a formação escolar – o ensino fundamental em um colégio público de Alagoinhas, e o fundamental, em uma fundação filantrópica de Pojuca.
Coordenador da Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT na Câmara dos Deputados, Jean é ativista de uma série de outras causas inspiradas na defesa pelos direitos humanos – dentre os quais, o direito à liberdade de expressão – que ele sublinha na ação de alunos nas ocupações de escolas públicas em São Paulo. Esta semana, o parlamentar conversou com alunos de uma das escolas ocupadas na zona oeste de São Paulo.
Confira, a seguir, o depoimento do parlamentar ao UOL.
Minha vida inteira, praticamente, fui aluno de escola pública – ensino fundamental em Alagoinhas, escola filantrópica (a Fundação José Carvalho) em Pojuca, sem fins lucrativos, ainda que não fosse pública. E Universidade Federal da Bahia, em Salvador, quando fiz jornalismo.
Tenho acompanhado essa saga dos alunos das escolas ocupadas em São Paulo, a qual não deixa de ser uma nova face, muito interessante, do movimento estudantil – que sempre foi expressivo e do qual dependeram, nas últimas décadas, significativos rumos que a história do Brasil tomou.
Essa nova face tem a cara dos tempos em que vivemos: é marcada muito mais pelas redes digitais e pelas novas formas de organização política que não passam necessariamente por instituições. É uma nova expressão que tem a ver com internet, com um novo tipo de ativismo – nem todos têm, afinal, ligações com UNE (União Nacional dos Estudantes) ou Ubes (União Nacional dos Estudantes Secundaristas).
É um novo tipo de ocupação: se antes os estudantes iam para as ruas reivindicar políticas públicas de ensino, agora eles decidiram permanecer e dar um outro sentido àquele espaço. Como se nos dissessem: o sistema pede que ocupemos de um jeito, então decidimos ocupar de outro, para que tenhamos a garantia de que não haverá retrocessos.
Esta semana falei em uma escola de Pinheiros (zona oeste de SP) com alunos que nunca tinham assistido a uma aula em círculo como estão tendo agora, nas ocupações, pela ação de voluntários que doaram aulas. Doações de aulas! Isso é tão bacana, e tão significativo, a ponto de alguns desses meninos me dizerem que aprenderam mais nesses dias acampados que em todo o tempo em que estiveram na escola regularmente. Como desprezar isso?
Eles me disseram que têm ouvido sobre educação sexual, feminismo, sobre toda sorte de diferenças... inclusive sobre violência policial... A própria dimensão da segurança pública e de vulnerabilidade entraram na agenda dos meninos com força, e a reação da Polícia Militar em algumas dessas ocupações, a meu ver, foi a mesma de quando o Movimento Passa Livre (MPL) foi para as ruas [em 2013, contra o aumento das tarifas de transporte público]. A polícia, ou melhor dizendo, o Estado acabou se voltando contra pessoas que queriam protestar contra uma ordem injusta.
Democracias pressupõem uso legal da força, mas usar policiais contra estudantes que querem discutir o ensino público... é isso mesmo?!
Que cidade é esta que se preocupa com a Paulista fechada para os carros, mas não parece se preocupar com o fechamento de escolas?
Você não sabe como o movimento desses meninos me empolga.
Fui um aluno ativo de escola pública, militei no movimento pela Pastoral Estudantil e ver esse cenário agora me enche de ânimo. Alguma coisa está acontecendo. Apesar de todo o conservadorismo, tem coisas boas acontecendo – seja pela prisão de criminosos de colarinho branco, seja por esses novos movimentos que reacendem a esperança na gente.
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