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"Ocupações de escolas são reação ao autoritarismo", diz Boechat

O âncora Ricardo Boechat nos estúdios da rádio BandNews - Silvia Costanti /Folhapress
O âncora Ricardo Boechat nos estúdios da rádio BandNews Imagem: Silvia Costanti /Folhapress

Janaina Garcia

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/11/2015 06h00

“Coisa típica de tecnocrata” e “subproduto do autoritarismo” foram as expressões usadas pelo jornalista Ricardo Boechat, 63, para comentar as ocupações feitas por alunos de escolas públicas, em São Paulo, contra o fechamento de unidades.

Conhecido pelas opiniões que despertam amor e ódio nos ambientes digitais, no entanto, Boechat ressalvara, um pouco antes: “Prefiro falar sobre isso [as ocupações] opinando sobre o que levou a essa situação”. As críticas, portanto, não chegam nem perto dos adolescentes.

Aluno de escola pública em Niterói (RJ) nos anos 1960, o jornalista que se envolveu recentemente em uma polêmica com o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, não disfarçou o descontentamento também com as ações do governo paulista pela reestruturação do ensino público – o que ocasionará o fechamento de dezenas de escolas.

Veja, a seguir, o depoimento de Boechat ao UOL sobre o assunto.

Estudei em duas escolas públicas em Niterói, onde cresci: o Grupo Escolar Julia Cortines e o Grupo Escolar Joaquim Távora, praticamente coladas uma na outra [e hoje, respectivamente, escola municipal e colégio estadual] no bairro de Icaraí.

Vejo hoje a movimentação da molecada e não tem como avaliar esse tipo de ação sem antes classificar o que o Estado está fazendo. Porque a reação desses meninos é do tipo que revela na sua essência um erro típico do Estado brasileiro – que tem uma forma autoritária de decidir coisas que mexem com a vida das pessoas.

Talvez a reforma do ensino [proposta pela reestruturação do governo estadual] seja boa; talvez o impacto no curto prazo seja até menor do que o que professores e alunos estimam. Talvez fatos concretos, como argumentos, não dessem tanta pólvora para a exploração de grupos políticos em cima desses alunos, como há. Mas a forma como isso se encaminhou foi autoritária, prepotente – e quando era algo que podia tranquilamente ser discutido e valorizar a opinião do cidadão e integrá-la à política pública. Em vez disso, optou-se por menosprezar a possibilidade de contar com a colaboração comunidade escolar – coisa típica de tecnocrata e que apenas corrobora a reação que vemos.

É um subproduto do autoritarismo, infelizmente.

Saber que cada vez mais escolas têm sido ocupadas contra o fechamento me desperta muito dos anos 60, do período em que bandeiras eram hasteadas e mobilizavam os estudantes secundaristas. Eram outros contextos, fato, mas esse espírito é fundamental; esse inconformismo diante do que pareça ou que seja uma injustiça é o grande elemento de valor dos jovens. 

Ainda bem que eles preservaram essa chama. Prefiro uma juventude que erra, se mexendo, que uma que pretenda acertar, mas sem se mobilizar pela mudança.