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Recobramos a fé na juventude, diz cantor Falcão sobre escolas ocupadas

Graça Paes/Photo Rio News
Imagem: Graça Paes/Photo Rio News

Janaina Garcia

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/11/2015 06h00

Homem é homem, menino é menino – e pode e deve protestar pelo que acha correto, nem que isso implique em ocupar uma escola até que políticas públicas eventualmente prejudiciais sejam revistas.

A opinião é do arquiteto cearense Marcondes Falcão Maia, 58, aluno de escola pública em seu Estado natal desde o ensino fundamental até o superior.

Foi na condição de cantor brega e simplesmente sob o codinome Falcão, porém, que esse ex-frequentador dos antigos grupos escolares na pequena Pereiro, cidade de pouco mais de 16 mil habitantes no interior do Ceará, foi alçado à fama: foram mais de um milhão e meio de discos vendidos, nas últimas décadas, falando de temas tão universais quanto a dor de cotovelo ou ‘pérolas’ como a que sentencia: “A besteira é a base da sabedoria”.

Em entrevista ao UOL por telefone, direto do interior cearense, Falcão deixou de lado o tom debochado de suas composições para atestar que não só tem acompanhado os protestos de alunos da rede pública paulista contra o fechamento de unidades escolares, como tem posição clara a respeito do assunto. 

Leia, a seguir, o depoimento ao UOL do cantor brega e arquiteto.

Estudei em escola pública minha vida toda – e sempre no Ceará. Passei pelo antigo Grupo Escolar Virgílio Correia Lima – é tão antigo que ainda chamávamos de grupo escolar! – na minha querida Pereiro. Depois fui para Fortaleza, onde fiz Escola Técnica Federal, especializada em edificações, para mais tarde cursar arquitetura na Universidade Federal do Ceará (UFC).

Sobre as escolas ocupadas em São Paulo, acredito que isso é fruto, primeiramente, da falta de informação por parte do governo do Estado.

Eu mesmo, e me considero um sujeito até bem informado, não sei por que as autoridades querem fechar as unidades e fazer esse remanejamento dos alunos.

Isso tudo pode até ser algo bem intencionado e interessante, mas me parece que a maioria dos cidadãos, e especialmente esses alunos e professores, não foram devidamente informados, nem convencidos disso.

Os alunos têm, sim, razão de espernear. Imagine você: o sujeito mora no bairro, estuda nele ou próximo dele e de repente vai ter que estudar em um lugar fora dali, fora de sua comunidade, e muitas vezes tendo até que gastar com transporte público lotado, de má qualidade... quem concordaria com isso?

No mundo todo, as pessoas clamam sempre é pela abertura de escolas. De repente, em São Paulo, estão propondo fechá-las! Dou razão a professores e alunos, acho até que eles deveriam ser melhor ouvidos – primeiro para que as autoridades expliquem o que pretendem, de fato, com esse remanejamento, e mesmo para receber conselhos ou dicas dessas pessoas.

É um protesto muito salutar. É como se achássemos que a juventude estava alienada e sem saída, e recobrássemos a fé nela. Eu mesmo participei de movimento estudantil na UFC – mas era um período já mais tranquilo, de transição da ditadura para o governo civil – e fico satisfeito de ver essa movimentação agora. 

Claro que sempre pode haver aquela coisa de ser algo com mais foco na organização de grupos de internet, mas espero mesmo que a molecada esteja consciente dos frutos de sua mobilização e não perca isso de vista. Nem agora, nem no futuro.