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Prestes a terminar mestrado nos EUA, superdotado diz que tem 'sorte'

Felipe Oliveira, 25, é superdotado. Ele é formado em física pela UFF e está prestes a terminar o mestrado nos EUA - Arquivo pessoal
Felipe Oliveira, 25, é superdotado. Ele é formado em física pela UFF e está prestes a terminar o mestrado nos EUA Imagem: Arquivo pessoal

Cintia Baio

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/04/2016 06h00Atualizada em 11/04/2016 13h14

Aos 25 anos, o carioca Felipe Oliveira já tem em seu currículo acadêmico uma graduação em física pela UFF (Universidade Federal Fluminense), um ano de iniciação científica feito em Valladolid e, em poucos meses, voltará ao Brasil após concluir o mestrado nos Estados Unidos.

Em um país onde pouco mais da metade dos jovens consegue terminar o ensino médio até os 19 anos —54% em 2013, de acordo com o Movimento Todos pela Educação—, Felipe reflete o lado oposto dessa realidade: ele é considerado um jovem superdotado.

Para o Ministério da Educação, uma pessoa superdotada (ou com altas habilidades) é aquela que demonstra uma capacidade acima da média em uma disciplina acadêmica específica ou várias, em artes, nos esportes ou até mesmo tenha uma notável capacidade de liderança ou pensamento criativo.

No caso de Felipe, desde muito cedo ele já sabia que tinha facilidade com os números, mas não fazia ideia de que era superdotado. Aliás, até hoje ele diz que não é. “Costumo brincar que sou muito mais sortudo do que inteligente. Eu simplesmente estava nos lugares certos e na hora certa”.

Assim, o primeiro “acaso” aconteceu quando ele tinha 10 anos. Depois de morar quatro anos em Cataguazes (MG), após a separação dos pais, Felipe voltou para o Rio de Janeiro com a mãe. Na época, ela trabalhava em uma empresa de cobranças e o pai era mecânico.

“A única escola pública que meu pai conseguiu vaga ficava a uma hora de casa. Um dia, a Clara chegou e disse que ia aplicar uma prova e quem se saísse bem, poderia ter uma vaga no projeto dela. Fiz, passei e no começo meu pai achou que era um truque de escola de informática, que diz que tudo é de graça e depois começa a cobrar”.

Clara, é Maria Clara Sodré, superintendente do Instituto Lecca, uma organização sem fins lucrativos que identifica crianças superdotadas de famílias de baixa renda e as prepara para a entrada em escolas públicas de excelência. Resumindo, Clara pode ser considerada uma “caçadora” de superdotados de baixa renda.

“Até antes de entrar no projeto, eu não sabia que a escola podia oferecer mais do que aquilo que eu aprendia. Depois das aulas no Iinstituto, comecei a perceber que eu podia ir além. Mas veja como é sorte. Quantas crianças eram tão boas quanto eu e não tiveram essa chance?”, diz.

Felipe tem razão. Embora o Brasil tenha leis que obriguem a identificação e o acompanhamento de superdotados em escolas públicas, as medidas ainda são tímidas. Em 2014, 13.308 crianças foram categorizadas como superdotadas. Mas Felipe também tem seu mérito. Em um dos processos seletivos do instituto, foram analisadas 3.600 crianças, mas apenas 36 conseguiram vagas.

Com as aulas de reforço diárias, o garoto conseguiu entrar no Colégio D. Pedro 2º, no Rio. Depois, passou no curso de física da UFF. “Enquanto meus amigos penavam para conseguir as notas, eu sempre passava nas provas. A média deles era 4.3, 4.5 e a minha era 7.8. Todo mundo achava isso bom e eu comecei a pensar que talvez eu fosse mesmo inteligente”, brinca.

Na graduação, surgiu a oportunidade de ir para Barcelona, através do programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal. Com o currículo recheado de boas notas, a vaga foi fácil de conseguir.

Hoje, Felipe está terminando o mestrado no Stevens Institute of Technology, em New Jersey (EUA) e aproveita o tempo livre para ser voluntário, dando aulas para americanos que ainda não concluíram os estudos. “Meu plano é voltar para o Brasil, conseguir um emprego e ter uma família. Acho que já estudei bastante, agora quero trabalhar”.