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Pedagoga explica por que trabalhos manuais podem ser uma boa opção de aula

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Imagem: iStock

Bruna Ribeiro

Colaboração para o UOL, em São Paulo

28/04/2016 06h00

O modo de brincar das crianças vem se transformando ao longo do tempo. Nas brincadeiras de antigamente, era comum ir para a rua, criar seus próprios objetos com tecidos e papéis e se esbaldar com terra, tinta e água.

Atualmente não é difícil presenciar os pequenos se divertindo com tablets e celulares. No mundo das telas, qual se tornou a importância das atividades manuais para a formação e educação das crianças?

Para Maria Angela Barbato Carneiro, 68, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), as atividades manuais são importantes, porque possibilitam que as crianças criem com diferentes materiais, até mesmo os naturais, como pedras, areia, argila, folhas e gravetos.

Segundo a educadora, além de desenvolverem a criatividade, os pequenos trabalham a coordenação motora fina e são estimulados a pensar e a resolver questões.

“A transformação do objeto vai ocorrer de acordo com a experiência que a criança tem com o mundo. Criar algo singular é uma forma de se expressar. É diferente de consumir brinquedos fabricados em série”, diz Carneiro.

Ainda de acordo com Maria Angela, é extremamente importante observar o entorno e entender a origem das coisas. “Já realizei uma vivência com crianças que não sabiam que a bolinha de sabão era feita com água e detergente. Outras desconhecem como surge o leite. Acham que já vem embalado na caixinha”, exemplifica.

Estímulo demais vindo das telas

O excesso da tecnologia pode acelerar e superestimular as crianças na opinião de Luciane Mota, 41, da Casa do Brincar, um espaço de recreação em Pinheiros, na capital paulista. “Isso interfere na concentração delas, além de apresentar conteúdos não necessariamente próprios para a idade”, diz.

Como alternativa, Mota investe nas atividades manuais.

A gente incentiva a construção dos próprios brinquedos. Em vez de darmos uma fantasia pronta, licenciada, que remete a uma marca ou conceito de consumo, propomos que a criança crie a própria roupa e desempenhe o papel do personagem que ela mesma imaginou, desestimulando o consumismo”, explica Luciane.

Durante as férias, a médica Lígia Bruni Queiroz, 38 anos, costuma levar os filhos às oficinas da Casa do Brincar.

Gabriela, 7, e João, 3, são motivados pela família a intercalarem as telas com brincadeiras manuais. “Não temos como afastá-los do mundo da tecnologia, porque é o momento atual, mas é preciso fazer uma leitura crítica, controlando o tempo e propondo outras atividades, como desenhar, montar quebra-cabeça e até fazer origami”, conta Lígia.

“Isso tudo enriquece as experiências através do tato, da sensibilidade, da textura e do calor. É até uma oportunidade para nós, adultos, retomarmos nossas próprias habilidades manuais, brincando com as crianças”, sugere a médica.