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Bom exemplo em ensino, Finlândia investe em "igualdade" entre alunos

Guilherme Tagiaroli

Do UOL*, em Helsinque

09/12/2013 08h34Atualizada em 09/12/2013 13h52

Desde a instituição do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) em 2000, a Finlândia tem sempre apresentado desempenho que coloca o país do Norte da Europa no top 10 do ranking. Apesar do status, o país, que conta predominantemente com escolas públicas, tem como “segredo” a política de “igualar o nível dos alunos”.

“Nossos alunos não são os que sempre atingem as maiores notas. O esforço é fazer com que todo mundo alcance um determinado nível, o que faz nossos resultados médios serem muitos bons”, explicou Outi Pihlman, professora de inglês, que acompanhou a visita do UOL à escola de ensino básico Suutarila em Helsinque. A instituição recebe crianças de 7 a 13 anos.

Um exemplo desse “nivelamento” praticado nas escolas é o tipo de avaliação feita com alunos do primário. O ano letivo começa em agosto no país. Se até o Natal uma criança não consegue ler em finlandês, ainda que devagar, o professor começa a ter suspeitas de que o aluno possa ter algum problema.

As escolas finlandesas não escolhem os alunos por suas notas --uma abordagem chamada, em inglês de “selective schools” (escolas que selecionam, numa tradução livre). A estratégia delas é misturar alunos de diversos níveis (“comprehensive schools”, escolas abrangentes em tradução livre), tirando proveito da diversidade da sala.

Outra estratégia é ter um conjunto de conteúdos básicos a serem aprendidos em cada nível. Para se ter ideia, no Brasil não existe um currículo nacional com os conteúdos de cada ano ou uma expectativa mínima do que deve ser alcançado a cada ano.

Lá na Finlândia também existe prova e nota para passar de ano, mas a principal preocupação das autoridades é que as crianças tenham, em média, o mesmo conhecimento. De tempos em tempos, o governo faz exames nacionais com os alunos do último ano para medir o ensino. Os dados são enviados para os órgãos responsáveis, mas nunca são divulgados na mídia -- aqui no Brasil, há divulgação do Ideb e do Enem por escola.

Cada escola recebe acesso a resultados gerais (como ela está comparada com a média, por exemplo) e em qual área é necessário melhorar.

Infraestrutura e desafio da imigração

Para atingir esses níveis de educação, as escolas contam com suporte de infraestrutura e efetivo especializado. Além dos professores regulares (todos com formação universitária), as instituições recebem visitas de um psicólogo (três vezes por semana) e de um assistente social (uma vez por semana). O primeiro ajuda a diagnosticar possíveis problemas de dislexia, enquanto o segundo tem como função auxiliar o aluno em sua relação com a família (por exemplo, lidar com divórcio dos pais) ou, no caso de imigrantes, na adaptação à vida escolar do país.

Há ainda uma enfermeira em cada escola que cuida da vacinação dos alunos e eventuais problemas, como machucados ou dores de barriga durante aulas de matemática.

“Se uma criança não está indo bem, é dever da escola fornecer aulas extras. Em outros países, os pais devem pagar professores. Mas aqui, a escola tem a função de prover todas as necessidades das crianças”, afirmou Outi.

Além de aulas adicionais, ainda é oferecido fora de horário de aula na escola: treinamento para quem tem distúrbios de fala, classes específicas para pessoas com necessidades especiais e o “clube da lição de casa” – uma oportunidade para incentivar quem não tem motivação em casa o suficiente para fazer o dever.

Outra característica que contribui para o sistema educacional do país é a "homogeneidade" das crianças que frequentam a escola no país.

A maioria dos alunos da Finlândia é branca, de classe média e luterana. “É difícil ver um grupo com essas características. Naturalmente, isso ajuda, mas essa situação tem mudado com o aumento da imigração”, observou Outi.

O país, diferente de outros mais ao sul da Europa, não teve grandes fluxos migratórios. É um fenômeno recente que, por enquanto, está concentrado na capital. “Até 2025, espera-se que 25% dos alunos em Helsinque sejam imigrantes”, informou Kari Töyrylä, diretor da escola Suutarila.

* O jornalista viajou a convite da Embaixada da Finlândia no Brasil.