Ferdinando Marcos (3) - O fim da ditadura nas Filipinas
Túlio Vilela
Em 1981, Ferdinando Marcos proclamou o fim do estado de sítio nas Filipinas e planejou um novo referendo fajuto para permanecer no poder. Uma grande mobilização popular manifestou repúdio à ideia. Apesar disso, Marcos foi reeleito oficialmente para cumprir um novo mandato.
Dois anos depois, o social-democrata Benigno Aquino, principal líder da oposição, resolveu voltar do exílio. Foi assassinado com um tiro pouco depois de ter colocado os pés no aeroporto.
Cerca de meio milhão de pessoas compareceram ao velório de Benigno Aquino. O velório do líder oposicionista acabou se transformando na maior manifestação popular contra a ditadura de Marcos. Em 1985, Marcos se viu forçado a marcar eleições para o ano seguinte.
Eleições, fraude e rebelião
As eleições ocorreram em fevereiro. Mais uma vez, Marcos recorreu ao uso de fraude eleitoral e anunciou sua vitória nas urnas. A evidência de fraude era tão grande que Corazón Aquino, viúva de Benigno, protestou e convocou o povo a recusar o resultado oficial das eleições. Corazón conseguiu a adesão popular e também o apoio da Igreja Católica, que é muito influente nas Filipinas, enquanto militares de uma ala do exército se rebelavam contra o governo.
Centenas de cidadãos foram aos quartéis onde estavam os militares rebeldes para apoiá-los. Marcos ordenou que bombardeassem esses quartéis. Os militares que ainda eram leais ao ditador recusaram-se a obedecer a ordem, pois não queriam começar uma guerra fratricida, na qual civis filipinos seriam massacrados.
Sem apoio, no dia 25 de fevereiro de 1986 Marcos se viu obrigado a fugir imediatamente. O ditador e sua família se refugiaram na ilha de Guam e depois no Havaí. Levaram também os milhões de dólares que roubaram dos cofres públicos. No ano seguinte, Marcos planejou um golpe de Estado para voltar ao poder. Ele pretendia entrar de novo no país por meio de um desembarque militar e reassumir o poder. O plano jamais foi concretizado.
Ex-ditador morre, mas deixa herdeiros
Após a fuga de Ferdinando Marcos, quem ocupou a presidência das Filipinas foi Corazón Aquino. Marcos perdeu a proteção americana e foi convocado como réu pela Suprema Corte dos Estados Unidos. As acusações eram de fraudes milionárias e de obstrução à Justiça.
Ferdinando Marcos não pôde, porém, comparecer ao próprio julgamento. No dia 28 de setembro de 1989, o ex-ditador filipino morreu em decorrência de uma parada cardíaca. A viúva do ex-ditador, Imelda Marcos, voltou às Filipinas e disputou duas vezes a presidência, sendo derrotada em ambas. Ela foi eleita deputada poucos anos atrás.
Dois dos quatro filhos do casal também seguem carreira na política: a filha Aimee também é deputada e o filho Ferdinando Júnior é governador da província de Llocos Norte, a mesma onde o pai nasceu.
Outros maus exemplos
Infelizmente, exemplos como o de Ferdinando Marcos de presidentes que apelam para mudanças constitucionais e referendos fraudulentos para se perpetuarem no poder são comuns. Esses presidentes apelam a artifícios para conferir legitimidade e uma "fachada democrática" aos seus governos ditatoriais.
Entre os exemplos desse tipo de ditador podemos citar Nursultan Nazarbaiev, presidente do Cazaquistão (que está há 17 anos no poder), e Alexander Lukashenko, presidente da Belarus (que está há 13 anos no poder).
Na América do Sul, temos atualmente dois pretensos candidatos a essa vergonhosa lista: Hugo Chávez, presidente da Venezuela, e Evo Morales, presidente da Bolívia. Ambos pretendem mudar a constituição de seus respectivos países para permitir a reeleição sem limite. Ou seja, um presidente poderá se candidatar à reeleição quantas vezes seguidas quiser.