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Elfriede Jelinek é a décima mulher a ganhar o Nobel de Literatura

Da EFE<bR><br/> Em Estocolmo<br/> <br/> <br/>

07/10/2004 13h20

   
A Academia Sueca não decepcionou os que esperavam um Nobel de Literatura feminino neste ano, e escolheu a austríaca Elfriede Jelinek, escritora rebelde e provocadora, cuja literatura é marcada por críticas à hipocrisia social e à violência sexual contra a mulher.

Escritora combativa, Jelinek, que, seguindo a tradição de Elias Canetti e Thomas Bernhard, criticou o país onde nasceu, a Áustria, tornou-se nesta quinta-feira a décima mulher contemplada com o Prêmio Nobel de Literatura.

A Academia Sueca preferiu a austríaca entre firmes candidatos como John Updike, Richard Roth e Mario Vargas Llosa. O júri de Estocolmo reconheceu em Jelinek o jogo de "vozes e contravozes" de seus romances e o "extraordinário entusiasmo estilístico que revela o absurdo dos clichês na sociedade".

A trajetória da escritora, que no próximo dia 20 completa 58 anos, é um fiel reflexo dessa atitude crítica e de busca de uma amplitude de horizonte, para além da sociedade burguesa de suas origens.

Nascida em outubro de 1946 na cidade austríaca de Mürzzuschlag, filha de um judeu tcheco e uma rica vienense, estreou no âmbito da lírica em 1967, com a coleção de poemas "Lisas Schatten" ("As sombras de Lisa").

Logo se distanciou da burguesia austríaca para percorrer no movimento estudantil um caminho que lhe era mais adequado: a sátira e a denúncia social.

Da Áustria passou a viver entre Berlim e Roma, primeiro, e Munique, depois, onde se casou e escreveu seu "Die Klavierspielerin" (1983) - "A pianista" -, um romance de conteúdo claramente autobiográfico, que inspirou o filme homônimo de Michael Haneke.

Com "Lust" ("Desejo"), publicado em 1989, Jelinek fez uma denúncia da violência sexual contra a mulher como expoente da brutalidade escondida na sociedade. Em "Ein Unterhaltungsroman" -"Um romance de entretenimento" (2000), Jelinek volta a investir no tema do abuso de poder pelo homem.

A escritora austríaca deu claramente as costas a seu país em 1995, com "Die Kinder der Toten" ("Os filhos dos mortos"), em que pinta a Áustria como um reino dos mortos.

Com isso, Jelinek se uniu à linha de seus compatriotas que, como os mencionados Canetti e Bernhard, repudiaram seu país, acusando-o de continuar ancorado em seu passado nazista.

Sua atitude parecia condená-la ao ostracismo na Áustria, até que a vizinha Alemanha despontou como "descobridora" de seu talento.

Jelinek chegou a decretar "proibição de representar" suas obras em palcos austríacos, mas depois voltou atrás e, em 1989, "Ein Sportstück" foi recebido com ares de acontecimento da temporada em sua estréia em Viena.

Além da poesia, do romance e do teatro, Jelinek entrou no mundo do cinema e do rádio, assim como na tradução de autores americanos para o alemão.

Até agora, na relação do Nobel de Literatura havia nove ganhadoras: a sueca Selma Lagrloef, em 1909; a italiana Grazia Deledda, em 1926; a norueguesa Sigrid Undset, em 1928; a americana Pearl S. Buck, em 1938; a chilena Gabriela Mistral, em 1945; a alemã Nelly Sachs, em 1966; a sul-africana Nadine Gordimer, em 1991; a americana Toni Morrison, em 1993; e a polonesa Wislawa Szymborska, em 1996.

O prêmio, de 1,1 milhão de euros, será entregue no dia 10 de dezembro, aniversário da morte de Alfred Nobel. O anúncio do Nobel de Literatura é feito depois dos de Medicina, Física e Química, revelados na segunda, terça e quarta-feira. Amanhã, o cenário se transfere para Oslo, onde será conhecido o ganhador do Nobel da Paz, e, na segunda-feira, de novo em Estocolmo, se saberá o vencedor do Prêmio de Economia.